Há pouco menos de duas semanas, Oswaldo de Oliveira chegava à Cidade do Galo acompanhado por um profissional de confiança: Thiago Larghi. O auxiliar segue o treinador desde o Botafogo, por eles dirigido em 2012 e 2013. Larghi deixou o cargo um pouco antes do colega. Partiu para a Seleção Brasileira com o desafio de integrar a comissão técnica que comandaria o time na Copa do Mundo de 2014.
Ainda como analista de desempenho – função que desempenhou por 11 anos -, foi peça importante para a melhora de rendimento de Fred durante a Copa das Confederações. O resultado: título conquistado e artilharia do ex-camisa 9 da Seleção. No Atlético, o desafio é semelhante: recuperar o bom futebol do atacante, que não balança as redes há 11 jogos.
“Acho que a gente pode ajudar. Mas, no fundo, é o próprio jogador que tem uma capacidade muito grande de execução, uma inteligência de jogo. (Ele) sabe ocupar os espaços, jogar entre as linhas e em profundidade, movimentar para o lado para abrir espaço”, avalia Larghi.
O auxiliar, entretanto, prefere falar em trabalho coletivo. Afinal, no momento de turbulência vivido pelo Atlético na temporada, é preciso contar com o bom desempenho de vários dos jogadores. E a ‘receita’ está traçada pela comissão técnica: fortalecer a condição psicológica dos atletas e apostar num sistema defensivo bem estruturado. Nada de estilo ‘Galo Doido’. Pelo menos no início do trabalho.
“A gente quer ter um jogo mais propositivo, mas temos que começar pelo momento defensivo, pela organização do time em primeiro plano. Isso (jogo ofensivo) depende de meses, anos de trabalho, mas no Brasil a gente não tem esse tempo. Tem gente que espera que seja o Barcelona com uma semana de trabalho”, diz.
E o clube catalão é mesmo uma inspiração para Larghi. Afinal, o Barça atual ainda carrega marcas de Pep Guardiola – técnico com quem o auxiliar teve contato nos tempos de estágio no Bayern de Munique. Nas andanças pelo mundo, ele também passou por outros países e garantiu: já testou métodos de treinamento europeus no Atlético.
Carreira
Sou formado em educação física, joguei futebol nas divisões de base, sempre em times pequenos, do interior. Depois da educação física, trabalhei 11 anos como analista de desempenho, ajudando o (Carlos Alberto) Parreira. Nesse período, durantes os 11 anos, trabalhei no Botafogo e na Seleção Brasileira. Após a Seleção, fui para a Itália, decidi me tornar auxiliar técnico e trabalhar dentro do campo. Fiz o curso B da UEFA, fiz estágio no Bayern de Munique, na Federação Alemã. Tive contato com o auxiliar do Guardiola, que usa ferramenta de análise muito interessante. Por ter essa função (relacionada à análise de desempenho), eu admirava. Quando voltei ao Brasil, fui para o Sport como auxiliar técnico e, em seguida, para o Corinthians. Tivemos pouco tempo de trabalho (no Corinthians), foram nove jogos somente. Pegamos um time já no final de um processo, o Tite tinha saído, alguns jogadores também. Este ano, fiz a licença A da CBF de treinador aqui no Brasil. As experiências contribuíram muito.
Trabalho na Seleção Brasileira e 7 a 1
A experiência foi muito boa, de nível internacional. Trabalhar com o Parreira, estudar como ocorreram os gols na Copa do Mundo, na Eurocopa e na Copa América, faz a gente passar a ter uma compreensão mais global de como acontecem os gols no jogo, especialmente os gols de bola parada. Essa compreensão é muito positiva. Na Copa das Confederações, o time atingiu bom desempenho. As tomadas de decisão sempre foram do Felipão, do Murtosa. A Copa do Mundo foi um período em que os jogadores não estavam no melhor momento deles. Lesão de alguns, transferências, tudo isso prejudicou. A derrota para a Alemanha (por 7 a 1) foi uma surpresa. Por mais que fossem capacitados, ocorreu um fator único. Um time tomar quatro gols em seis minutos é incomum. Tem a dinâmica do impacto. Foi analisado que é muito difícil (acontecer). Até os próprios alemães não conseguiam explicar de modo objetivo o que aconteceu. É uma coisa bem pontual mesmo. Ficaram lições para o futebol brasileiro, que vem melhorando. A formação dos treinadores vem melhorando, a CBF, jogadores que vêm trabalhando. Assim como Alemanha passou e a Itália está passando. A Itália vem melhorando, depois de ser eliminada em duas copas seguidas na primeira fase. Isso no Brasil seria uma catástrofe imensa se acontecesse o que aconteceu na Itália. O Brasil está virando a chave com o Tite, graças a Deus. São crises que acontecem. No curso da licença A da CBF vi isto: treinadores estudando, um ambiente que estamos nos protegendo mais. A UEFA fez isso lá atrás.
Diferenças entre curso da UEFA e da CBF
Os dois (cursos) são de ótimo nível. Aprendi muito nos dois. Acho que os europeus, na Itália principalmente, estão com preocupação de melhorar o jogo a nível propositivo, o que é diferente da escola tradicional italiana, com bloco compacto e a saída em contra-ataque. Eles tentam ser mais protagonistas, trabalhar mais com o espaço entrelinhas, triangulações, mobilidade do jogador. Aqui também vi muitas coisas boas, treinadores participando, discussão sobre gestão, planejamento bem trabalhado, gente da preparação física de excelente qualidade. Treinadores como o (Fábio) Carille (do Corinthians) vêm contribuindo bastante para a ocupação dos espaços. Muitas vezes é questionado, mas sempre é bastante eficiente e inteligente. O curso na Europa tem a vantagem, porque é feito há mais tempo. Mas no Brasil é muito bom também.
Estágio no Bayern de Guardiola
Gostamos de ver um bom espetáculo, um entretenimento que a pessoa tem que sentir prazer de ir ao jogo. A nossa linha é de um jogo ofensivo, bonito e agradável, mas sabendo que precisa competir. Guardiola é fonte de inspiração para o futebol moderno desde 2008, com conceitos de marcação alta, com muito uso do espaço entrelinhas, posse de bola, domínio. Vi treinamentos que já trouxemos para o Atlético mesmo com poucos dias de trabalho. É uma linha que a gente admira, vê coisas boas. (O ideal) É trazer isso para nossa realidade. Não é simplesmente importar. É preciso ter leitura do contexto, do ambiente.
Funções no Atlético
Auxiliar o Oswaldo em campo, mas também participar da montagem das palestras, organizar reuniões de treinamento e jogos da equipe. Auxilio também na análise de desempenho, colaboro com o Lucas (Gonçalves), que é analista, e observador técnico Bernardo (Motta), de um modo muito natural. Tudo para levar as informações para o treinador e facilitar o trabalho dos jogadores. O que importa são os jogadores, eles que precisam compreender o jogo e ter o trabalho facilitado.
Perfil de Oswaldo de Oliveira
Acho que o Oswaldo se encaixa perfeitamente com o que o Atlético precisa hoje. A liderança que ele exerce aumenta a confiança dos jogadores, traz o que eles podem render de melhor. O trabalho dos outros treinadores (Roger Machado e Rogério Micale) foi bem feito, não há dúvidas disso. Mas é um momento especial, delicado em termos da complexidade do jogo. Para montar equipe, são necessários meses ou até anos de trabalho dependendo do nível de complexidade. O Manchester City do Guardiola na primeira temporada, por exemplo, não foi como ele vinha trabalhando. Este ano já começou diferente, após meses de processo, com o time já com contratações dele. Desenvolve melhor.
Modelo do jogo do Atlético
A expectativa é a melhor possível. Temos que trabalhar princípios de defesa e de ataque. O que eu posso te dizer é que a gente quer ter um jogo mais propositivo, mas temos que começar pelo momento defensivo, pela organização do time em primeiro plano. Isso (jogo ofensivo) depende de meses, anos de trabalho, mas no Brasil a gente não tem esse tempo. Tem gente que espera que seja o Barcelona com uma semana de trabalho, mas essa não é a realidade. Contamos com o apoio da imprensa e da torcida para ir melhorando. Conciliando defesa e ataque.
Desempenho de Fred
Acho que a gente pode ajudar. Mas, no fundo, é o próprio jogador que tem uma capacidade muito grande de execução, uma inteligência de jogo. (Ele) sabe ocupar os espaços, jogar entre as linhas e em profundidade, movimentar para o lado para abrir espaço. Acho que o professor Oswaldo, com o jeito dele de conversar com o jogador, é o mais importante para readquirir confiança, trabalhar com o coletivo. Tecnicamente, o Fred dispensa comentários. Sinceramente, minha contribuição é bem pequena. Trabalho de campo pode ajudar numa situação ou outra. (informações reproduzidas do SuperEsporte/JEM)