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Em resumo, o roteiro do U2 é: um bloco de músicas mais antigas, “The Joshua Tree” na íntegra e um bloco de músicas mais novas. Houve quatro fatos fora do script marcantes para o Brasil:
- Bono citou os “heróis” Renato Russo e Cazuza ao tocar um trecho de “Heroes”, de David Bowie
- O baterista Larry Mullen Jr. usou uma camisa com a estampa “censura nunca mais”.
- O telão homenageou mulheres como Malala e Madre Teresa. Entre as brasileiras mostradas estavam Taís Araújo, Maria da Penha, Tarsila do Amaral e Irmã Dulce.
- No fim, Bono fez um discurso sobre temas sociais diversos, como os direitos LGBT. No meio, elogiou o Brasil por transformar remédios caros em um direito acessível a todos, em aparente referência à política dos Genéricos.
O som do U2 envelheceu pouco, já que o que sobrou do rock hoje tem uma influência enorme da banda – vide Coldplay, The Killers ou Imagine Dragons. Toda turnê megalomaníaca com músicas para cantar como se fossem hinos de igreja deve um pouquinho ao U2 e tem em sua raiz “The Joshua Tree”.
A banda vai tocar ainda no sábado (21), no domingo (22) e na quarta-feira (25). Esta é a quarta turnê do U2 no Brasil (após 1998, 2006 e 2011) .
O público esperado era de 72 mil pessoas, mas até a publicação deste texto a produção não havia informado o número de presentes.
A abertura foi de Noel Gallagher’s High Flying Byrds. Enquanto Bono homenageou Cazuza e Renato Russo, Noel dedicou música a Gabriel Jesus.
“The Joshua Tree” tem músicas que estariam em qualquer turnê, como “With or Without You”, “I Still Haven’t Found What I’m Looking For” e “Where the Streets Have No Name”. Mas tem outras menos óbvias, como “Red Hill Mining Town”, que nunca tinha sido tocada ao vivo antes dessa turnê.
No disco de 1987, Bono estava encantado com a literatura, as paisagens e o blues e gospel dos EUA. Ao mesmo tempo, estava horrorizado com a violência, a ganância e a era Reagan. A nova era Trump foi um dos motivos para relembrar o disco, segundo a banda.
Uma das formas de fazer o show ficar menos óbvio foi o uso de um imenso telão com vídeos produzidos para a turnê. As imagens são do fotógrafo e diretor holandês Anton Corbijn. Ele fez as fotos do disco há 30 anos, antes de virar diretor de grife de clipes e longas como “Control”.
As ótimas tomadas de paisagens americanas transformam a primeira metade do show em um videoclipe em tempo real. A banda mesmo só aparece no telão lá pela metade, quando entra o “lado b” menos conhecido do disco. Tudo gandioso, mas sem entrar no automático.
A vibe “vamos mudar o mundo” das velhas letras e dos discursos pode ser vista hoje como inocente demais. Mas a multidão que ovacionou as referências brasileiras e principalmente os hits do lado A de “The Joshua Tree” mostra que, pelo menos nessas quatro noite no Morumbi, aquele sonho não acabou.
Veja o setlist:
- Sunday Bloody Sunday
- New Year’s Day
- Bad
- Pride (In the Name of Love)
- Where the Streets Have No Name
- I Still Haven’t Found What I’m Looking For
- With or Without You
- Bullet the Blue Sky
- Running to Stand Still
- Red Hill Mining Town
- In God’s Country
- Trip Through Your Wires
- One Tree Hill
- Exit
- Mothers of the Disappeared
- Beautiful Day
- Elevation
- Vertigo
- You’re the Best Thing About Me
- Ultraviolet (Light My Way)
- One