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O momento é favorável. Com Donald Trump no poder e seu arrogante senso de diplomacia, que resulta em desastrosas políticas isolacionistas, o espaço para a China no cenário internacional é um horizonte bastante alargado. A segunda maior economia do mundo, cuja meta é crescer 7% ao ano, quer a liderança. “Como disse em seu discurso de campanha e mostra agora nas decisões que tem tomado, Trump está governando os Estados Unidos para os americanos e deixando o mundo para China”, diz o professor e cientista político Alexandre Uehara, diretor acadêmico das Faculdades Rio Branco.
NOVA ERA
O movimento feito agora pelo gigante asiático é histórico e terá consequências importantes para a nova formulação geopolítica do planeta. Maior nação do mundo sob o regime comunista, a China dá passos rumo a uma espécie de socialismo à chinesa. O governo central continua defendendo um Estado forte, mas vem sistematicamente adotando medidas que são chaves do sistema capitalista.
O presidente Xi Jinping havia sinalizado essa mudança em janeiro, durante a reunião dos mais importantes líderes mundiais em Davos, na Suíça. Na semana passada, sacralizou o novo rumo. Na quarta-feira 18, o líder discursou por mais de três horas na abertura do Congresso Nacional do Partido Comunista — evento que iria confirmar sua permanência no poder por mais cinco anos. Aplaudido assim que entrou no salão do Palácio do Povo, em Pequim, Jinping falou para uma plateia de 205 membros do Comitê Central e 2,3 mil delegados. Durante seu pronunciamento, repetiu diversas vezes a palavra “nova era” ao se referir à economia do país. Declarou que pretende abrir o mercado a investimentos estrangeiros, defendeu que o crescimento seja mais sustentável e garantiu que seguirá empenhado em fazer as reformas econômicas e financeiras necessárias para a exploração de uma economia pautada pelo livre mercado. E foi enfático ao afirmar que o país ocupa hoje uma nova posição no mundo. “Precisamos continuar nos esforçando por mais trinta anos para alcançarmos a completa modernização e nos tornarmos uma nova potência global.”
Para um país que até pouco tempo atrás era acusado de praticar dumping, Xi Jinping também surpreendeu ao prometer tratamento igualitário a empresas estrangeiras. “A abertura traz progresso para nós, enquanto o isolamento nos deixa atrasados”, disse. A China de Jinping não fechará suas portas para o mundo. Ao contrário. Estará cada vez mais aberta. “A fala de Xi está mais próxima do que os estrangeiros querem ouvir da China. E isso só o favorece”, diz Uehara. Com crescimento econômico na faixa dos 6,5% ao ano, o país asiático responde hoje por 30% do PIB mundial. Sua abertura e adesão à globalização devem deslocar o eixo de importância econômica e política dos Estados Unidos, hoje a linha mestra do mundo, em direção à Asia.
Isso está sendo possível especialmente por causa da habilidade política de Xi Jingping para se manter no poder desde 2013. Dois de seus méritos à frente do governo chinês foram o de ter tirado 60 milhões de pessoas da pobreza e o esforço para combater a corrupção. Politicamente, porém, adota um tom conservador em seu discurso e não permite divergências no partido comunista, do qual também é presidente. “Cada um de nós precisa fazer o possível para defender a autoridade do partido e o sistema socialista chinês e se opor de forma resoluta a toda palavra ou ação que vise solapá-lo”, afirmou durante sua fala na semana passada. Jinping não permite que lhe façam sombra. E assim deve se consolidar no poder até 2022, conduzindo a potência chinesa à liderança do mundo.