Menos de 24 horas depois de o jogador Neymar ter postado uma foto em seu perfil no Instagram, o post já somava 1,7 milhão de curtidas. O jogador é o brasileiro mais seguido na rede de compartilhamento de fotos, com mais de 82,8 milhões de seguidores. Se no perfil de Neymar os números sobem a cada segundo, no universo das mídias sociais nem sempre essas cifras são sinônimo de popularidade. Na China, as “fazendas de likes” são conhecidas por criar seguidores-fantasma e falsas curtidas.
Essas fábricas de exploração de cliques, na verdade, são escritórios minúsculos equipados com mais de 10 mil aparelhos de smartphones enfileirados e usados para disparar curtidas e seguidores, aumentando a popularidade online dos clientes. Especialistas afirmam que, apesar de grande parte da manipulação digital ser realizada atualmente na China e na Rússia, sua influência é sentida em todo o planeta.
Do outro lado do mundo, esse upgrade nas redes sociais pode ser comprado por meio de uma máquina que vende likes e seguidores dentro de um shopping russo. O usuário interessado pode escolher diferentes pacotes. Um deles, com cem seguidores, custa cem rublos russos, que convertidos em reais equivalem a uma quantia de R$ 5,52, em média.
No início deste ano, pesquisadores do Instituto de Ciências da Informação da Universidade do Sul da Califórnia e da Universidade de Indiana descobriram que até 15% das contas do Twitter poderiam ser falsas e que esses robôs influenciaram o discurso político nas eleições presidenciais dos Estados Unidos.
No Brasil, basta fazer uma busca na internet usando a expressão “compra de seguidores” para encontrar vários sites que vendem esse serviço. Um relatório produzido pela empresa de segurança Trend Micro mostra que, com US$ 2.600, cerca de R$ 8.200, é possível comprar 300 mil seguidores e enganar os algoritmos de redes sociais. Alguns sites brasileiros vendem cerca de 500 seguidores por R$ 29.
Segundo o especialista em segurança da Trend Micro Igor Valoto, esses falsos seguidores ou “bots” são administrados por meio de aplicativos com inteligência artificial. “O grande desafio de quem desenvolve esses robôs é evitar que eles sigam um padrão determinado, para que as redes sociais não detectem esse padrão ou se o fato de o perfil estar tendo muitos likes em um intervalo de tempo pequeno”, explica.
Depois de ter tentado investir nesse mercado, um jovem brasileiro – que preferiu manter o anonimato – disse à reportagem ter se arrependido. “A pior merda que fiz na vida foi ter sido vendedor de likes. Depois disso as redes sociais me procuraram, os advogados me enviaram uma carta e me processaram”, conta.
Para a professora do curso de comunicação da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Joana Ziller, eticamente a prática pode ser questionável, mas as manipulações sempre existiram também em outras mídias. “Se eu entro em um perfil com 200 mil seguidores, e 10 mil são falsos, no frigir dos ovos, isso prejudica alguém? Há várias estratégias, algumas reconhecidas como legítimas e outras, não”, pondera.
O que o Instagram faz
Comentários com as expressões “troco likes” e “sdv” (“sigo de volta”) são bem comuns no Instagram. O objetivo costuma ser conseguir mais seguidores, mas, segundo o cofundador da rede social, Kevin Systrom, a plataforma possui novas ferramentas para ajudar na segurança. Uma delas é um filtro para bloquear certos comentários ofensivos. Já o filtro de spam procura essas mensagens nos comentários, bloqueando-as das publicações e vídeos ao vivo. O filtro remove spam nos idiomas alemão, árabe, chinês, espanhol, francês, inglês, japonês, português e russo. Essas ferramentas são equipadas com aprendizagem computacional. “Elas representam mais uma etapa do nosso compromisso em promover comunidades gentis e inclusivas no Instagram”, disse. A rede social também permite denunciar um comentário por abuso ou spam e contas falsas. (OT)