Aos oito meses, Thibério Limaverde Vilar, 52 anos, contraiu poliomielite. Conhecida como paralisia infantil, embora também possa acometer adultos, a doença imediatamente paralisou todos os órgãos situados abaixo do pescoço. Braços e pernas perderam os movimentos e a paralisação do intestino quase o levou à morte.
Thibério, à época, morava com a família no Crato, no sul do Ceará. “Lá, não tinha vacina para todo mundo. Eu e minha irmã não nos vacinamos, daí acabei contraindo a doença”, lembra. A situação levou a família para a capital, Fortaleza, onde ele passou a receber tratamento. Aos poucos, os movimentos foram sendo recuperados, restando apenas à perna direita as sequelas.
Histórias como a de Thibério eram comuns até meados dos anos 1980. Até então, a pólio paralisava quase 100 crianças por dia em 125 países ao redor do mundo, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). Apenas em 1985, os países das Américas estabeleceram a meta de erradicar a pólio na região, com foco no combate ao vírus transmissor, o poliovírus.
Parte desse esforço, o Brasil, a partir de 1988, ampliou a prevenção, por meio da vacinação da população. Promovida em campanhas de vacinação em massa com a vacina oral contra a pólio, a estratégia contribuiu para livrar o país do problema em 1989, quando o último caso foi registrado, segundo o Ministério da Saúde. Em 1994, toda a região das Américas foi certificada como livre da circulação do poliovírus.
Hoje, a OMS aponta que apenas três países ainda têm o vírus em circulação, o Afeganistão, o Paquistão e a Nigéria. Tal permanência inspira cuidados em todo o mundo, por isso, nesta terça-feira (24), Dia Mundial de Combate à Poliomielite, a organização alerta sobre a necessária manutenção de ações de vigilância e prevenção. Mesmo há décadas sem registro, o Brasil tem seguido a orientação e disponibilizado vacinação em postos municipais, assim como efetivado campanha anual de imunização. A última ocorreu em setembro deste ano.
Pós-poliomielite
Para
A pós-pólio pode acometer quem teve poliomielite aguda na infância, sobretudo aquelas pessoas com histórico de poliomielite paralítica grave. Embora já catalogada, ela ainda é pouco conhecida, o que compromete a qualidade de vida das pessoas afetadas. Thibério Limaverde conta que só tomou conhecimento da nova síndrome após ver uma reportagem sobre o tema na televisão. Há três anos, ele vinha sentindo fraqueza e, mais recentemente, dores. No início, atribuiu os sintomas ao sedentarismo. Depois de saber da pós-pólio, passou a investigar o problema e concluiu que as dores decorriam da fadiga sentida pelos neurônios.
“Antes, não existia preocupação nem mesmo estudos que comprovassem que esses neurônios tinham ocupado espaço dos outros. Pensava-se que o que acontecia é que alguns sobreviviam e outros morriam e que a sequela ficava naqueles que tinham morrido”, relata Thibério, que ao longo da vida conviveu com as sequelas, mas não imaginava que poderia ter mais problemas decorrentes da pólio.
Submetido a exames físicos e levantamento da anamnese, soube mais do que sofreu na infância e de seus impactos. “A pós-pólio é uma doença degenerativa e progressiva, então todo o sistema pode vir a ser afetado, inclusive a parte respiratória, de fala, deglutição”, explica, pontuando que muitos profissionais ainda não têm a vivência da doença e não estão sendo formados para abordá-la, embora existam registros dela na literatura científica desde o século XIX, segundo Thibério.
Saber da doença possibilita a adoção de cuidados adequados. A recomendação que ele tem seguido, agora, não é mais a recorrente ideia de praticar muitos exercícios, mas sim de guardar a energia de cada parte do corpo. “A gente perde a força e sofre fadiga intensa. Como é uma coisa que você não pode sobrecarregar a musculatura, o tratamento, a terapia, é mais de manutenção”, diz Thibério, que tem feito todo o acompanhamento no Sistema Único de Saúde (SUS).
O Ministério da Saúde desenvolveu, em outubro de 2016, guia para ações de reabilitação da pessoa com pós-pólio e co-morbidades. O órgão explica que tem desenvolvido ações tendo em vista a necessidade de cada paciente, como fisioterapia e orientação nutricional, pois não há uma forma geral de tratar todos os casos de pós-pólio. Ainda não há dados sobre a ocorrência no Brasil, mas o documento aponta que 60% dos indivíduos com seque. (Da Agência Brasil)