Entre 1979 e 1981, o poeta natural de Itabira, Carlos Drummond de Andrade (1902-1987) publicou, na coluna que mantinha no Caderno B do Jornal do Brasil, frases relâmpago cheias de humor que retratavam, de forma crítica, o país na época, e às quais deu o nome de “pipocas”. Admirador e amigo do poeta, o escritor e caricaturista Ziraldo percebeu que as sátiras eram charges em potencial, faltando apenas associar desenhos às palavras.
Os dois autores concordaram em juntar texto e traço, e dessa união resultou o livro O pipoqueiro da esquina, publicado em 1981 pela editora Codecri. Trinta e seis anos depois, a parceria entre o poeta e o chargista, ambos mineiros, é lembrada pelo Instituto Moreira Salles do Rio de Janeiro (IMS Rio), que inaugura nesta terça-feira (31), dia do aniversário de Drummond, uma exposição com 30 dos desenhos originais guardados por Ziraldo em seu ateliê.
A mostra O pipoqueiro da esquina apresenta também bilhetes, cartas, poemas e outras peças que contam um pouco da amizade entre os dois mineiros. A curadoria é de Eucanaã Ferraz, consultor de literatura do IMS, e o projeto expositivo da cenógrafa e cineasta Daniela Thomas, filha de Ziraldo.
Para Eucanaã Ferraz, o senso de humor é uma das marcas que definem a escrita de Carlos Drummond de Andrade, desde sua estreia em livro, com Alguma poesia (1930). Do mesmo modo, a atenção voltada para o fato cotidiano, como atestam versos do poema Mãos dadas: “O tempo é a minha matéria, o tempo presente, os homens presentes, a vida presente”.
“Esse desejo radical de compreensão do seu tempo e dos seus contemporâneos faz ver o espírito de cronista que ganhou corpo numa ininterrupta colaboração com a imprensa”, diz o curador. Ele lembra que Ziraldo, por sua vez, sempre foi um apaixonado pela literatura, como comprova sua brilhante carreira de escritor.
“A parceria dos dois oferece-nos, sobretudo, retratos de um certo Brasil – alguns, sob muitos aspectos, infelizmente, atual, mas é também um elogio à amizade, ao diálogo e à liberdade”, resume Eucanaã Ferraz.
Antes da abertura da exposição, às 19h, para convidados, haverá, das 16h às 18h, a atividade Arquiteturas de si, em torno dos poemas de Drummond e a casa do IMS Rio. A partir da leitura de poemas e de uma visita à casa, os participantes poderão criar uma arquitetura de si mesmos, relacionando conteúdos subjetivos e concretos. A atividade é gratuita e para pessoas a partir de 14 anos.
A exposição O pipoqueiro da esquina fica em cartaz até 18 de fevereiro de 2018 e pode ser visitada de terça-feira a domingo, das 11h às 20h. O Instituto Moreira Salles do Rio de Janeiro fica na Rua Marquês de São Vicente, 476, na Gávea, zona sul da cidade. (Da Agência Brasil)