Conhecido pelo trabalho que atravessa linguagens, explorando não só a escrita, mas a visualidade e os sons em torno da poesia, o poeta mineiro Ricardo Aleixo é uma das atrações da abertura do Fórum das Letras, que começa neste domingo (19) e vai até dia 26, em Ouro Preto e (pela primeira vez) em Mariana. Na ocasião, ele vai mostrar mais uma faceta de sua obra: as canções, por meio do pocket show “A Voz do Mar”.
No palco do Cine Vila Rica, Aleixo será acompanhado pelo violão de sete cordas do amigo e parceiro Alvimar Liberato. “A maioria das músicas que vamos apresentar é da década de 90. Com exceção de ‘A Voz do Mar’, todas já haviam sido publicadas em livro, como ‘Trívio’ (2001). Mas mesmo no formato de poema, elas já sugeriam que os textos fossem cantados. Então, é uma extensão natural do meu trabalho”, afirma Aleixo.
Sobre o seu processo criativo, Aleixo detalha que raramente define suas criações. “Quando começo a compor, o que surge é feito para ser livre. Aquilo pode virar um videopoema, ser cantado, dito ou gritado. Por isso, o que faço, geralmente, tem mais de uma versão”, observa Aleixo, que, na próxima semana, embarca para Zurique.
Na Suíça, ele vai apresentar uma performance no Cabaret Voltaire, clube onde reuniam-se artistas, como Tristan Tizara (1896-1963) que deram origem ao dadaísmo – uma das vanguardas artísticas do século XX.
Além da participação de Aleixo, o primeiro dia do Fórum das Letras será marcado pelo lançamento de “Albergue Espanhol”, de Jorge Carlos Fonseca, escritor e presidente da República do Cabo Verde.
Na segunda-feira, a programação abre espaço para celebrar o Dia da Consciência Negra. Neste dia, será apresentado o espetáculo “Banzo”, do Grupo Agô Performance Negra.
Drummond e Torquato
Baseado no tema “Sentimento do Mundo”, que refere-se ao terceiro título de poemas de Carlos Drummond de Andrade (1902-1987), o evento pretende homenagear o mineiro por meio de uma diversidade de mesas e encontros que vão ressaltar o potencial da poesia nos dias de hoje.
Um desses momentos será a palestra de Adélia Prado, a ser realizada no dia 22, no Cine Vila Rica. A poeta vai tecer algumas reflexões a partir da pergunta: “Sentimento do mundo: qual o lugar da poesia no mundo em que vivemos?”.
Não só os 115 anos de nascimento de Drummond serão lembrados. O Fórum das Letras também vai lembrar os 45 anos de morte de poeta e jornalista piauiense Torquato Neto (1944- 1972). Um dos principais nomes do tropicalismo será o foco de um bate-papo dos também poetas Carlos Ávila e Italo Moriconi, no dia 25. Ávila e Moriconi vão abordar o tema: “Poesia em transe entre a Tropicália e a contracultura”.
A escrita biográfica em pauta
Além de colocar em discussão temas ligados às artes em geral, com destaque para a literatura e o mercado editorial, o Fórum das Letras segue com o ciclo de bate-papos que abrange também o jornalismo. A primeira mesa será promovida no dia 23 e vai reunir os jornalistas Josélia Aguiar, Mário Magalhães e Plínio Fraga.
Josélia, que fez a curadoria da Festa Literária de Paraty (Flip) este ano e já está confirmada como curadora da próxima, lançará a biografia de Jorge Amado em 2018. Magalhães é autor de “Marighella: O Guerrilheiro que Incendiou O Mundo”, vencedor do Jabuti de melhor biografia em 2013, e Fraga publicou neste ano “Tancredo Neves, O Príncipe Civil”.
“Magalhães está com um novo projeto que é a biografia de Carlos Lacerda e o livro de Plínio Fraga, inclusive, tem contribuído para desmitificar um pouco a figura de Tancredo Neves. Há uma certa aura que existe sempre em torno de alguém quando morre tornando-o um santo – não que ele tenha sido um diabo, mas precisamos, para além desses dualismos, perceber como a gente trata a complexidade da vida que envolve cada uma dessas pessoas”, diz Marta Maia, uma das curadoras do Fórum das Letras.
Josélia concorda que o texto biográfico, muitas vezes, têm esse potencial de viabilizar novas leituras capazes de romper ideias cristalizadas em torno de algum personagem. No caso da narrativa sobre a vida e da obra de Jorge Amado, em que começou a trabalhar em 2011, ela destaca a pertinência de fatos frequentemente desconsiderados. “O contato dele com a cultura afro-baiana é anterior à aproximação dele com o Partido Comunista. Isso muda totalmente a ideia de que ele teria afastado-se do partido para depois começar a contar histórias afro-brasileiras”, afirma.
Josélia ressalta que isso fica claro quando observa-se a trajetória do escritor baiano. “Por esse motivo, escolhi contar a história de Jorge Amado por meio de um viés cronológico. Sua vida é cheia de reviravoltas e a compreensão dela é facilitada quando vemos o encadeamento dos acontecimentos na ordem que aconteceram”, afirma a jornalista e curadora.OUTRAS MESAS
Ciclo Cielo de Jornalismo e Literatura:
Dia 24, às 10h30:
“Letras Alternativas”,
com Leonardo Sakamoto e Marina Amaral.
Dia 25, às 10h30:
“Letras dos Testemunhos”,
com Daniela Arbex e Fabiana Morais
Dia 26, às 10h:
Exibição dos documentários: “Habitar Habitat”, “Refugiados”, “Arquiteturas”, “Igreja de São Francisco de Assis”, com o diretor Paulo Markun, seguido
do debate “O Brasil em Imagens” com Eduardo Jardim, João de Souza Leite, Paulo Markun
Local: Anexo do Museu da Inconfidência
*O Tempo