Algo impensável hoje, diante da aprovação de apenas 3% perante a opinião pública, o presidente Michel Temer e seus estrategistas políticos trabalham para que o peemedebista não seja um mero figurante na corrida presidencial de 2018. Todas as apostas são de que a economia seguirá em um ritmo de crescimento constante – as previsões são de que o país vai avançar próximo de 1% este ano e algo em torno de 3% no ano que vem. A equipe econômica espera baixar para um dígito a taxa de desemprego no país, hoje situada em 12,4%, com 13 milhões de pessoas sem trabalho. A inflação está abaixo dos 3% e os juros em queda. “O Natal será o melhor dos últimos anos e o próximo ano vai reforçar essa percepção”, acredita um aliado próximo de Temer.
Por tudo isso, aliados do presidente apostam que o peemedebista vira o ano e entrará na corrida eleitoral em um outro patamar. “Se formos analisar com clareza, a aprovação pessoal do presidente é de 3%, mas a avaliação positiva do governo está um pouco maior. As pessoas começam a perceber as diferenças e a tendência é de que, lá na frente, consigamos associar a imagem do presidente aos êxitos da economia”, disse um interlocutor palaciano.
Esse mesmo aliado, contudo, é cuidadoso e freia os ímpetos de alguns mais entusiasmados, que acham, inclusive, ser possível que o próprio Temer venha a concorrer à reeleição. Antes da delação da JBS, ministros do círculo próximo do presidente, como o chefe da Casa Civil, Eliseu Padilha, e o titular da Secretaria-Geral da Presidência, Moreira Franco, defendiam que o presidente buscasse conquistar nas urnas o cargo que lhe havia sido dado pelo Congresso após o impeachment da presidente Dilma Rousseff.
“Esse cenário, hoje, é pouco provável. A imagem do presidente ainda está muito desgastada após as duas denúncias que tivemos de reverter no Congresso. Elas estão muito vivas no imaginário do eleitorado e da população”, reconheceu um estrategista palaciano. “Pode ser que, ao longo de 2018, isso se dilua. Mas não há como prever ainda”, completou.
![](https://www.viacomercial.com.br/wp-content/uploads/2017/11/eleição.jpg)
Avaliação Para especialistas, uma presença marcante de Temer nas eleições ainda é algo utópico. “O Brasil não tem tradição de os presidentes elegerem seus sucessores”, lembrou o professor de história contemporânea da Universidade de Brasília (UnB) Antônio José Barbosa. Ele declarou que Juscelino Kubitschek, José Sarney, Fernando Collor e Fernando Henrique não conseguiram eleger aliados para sucedê-los. “A única exceção foi a experiência lulo-petista”, pontuou ele.
O professor emérito de economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) João Saboia lembra também o processo de distanciamento do PSDB, que tende a ter candidato próprio, como um dos elementos que poderiam enfraquecer um voo próprio do PMDB e até mesmo do presidente Temer. “É bem verdade que dizem que, quando um presidente concorre à reeleição, ele naturalmente leva consigo uma índice de intenção de votos de 15%, em média. Mas tudo, neste momento, não passa de especulação”, declarou Saboia.
Temer, no momento, está mais preocupado com duas coisas que poderão impactar o cenário eleitoral do ano que vem. A aprovação da reforma da Previdência, com a possibilidade de uma economia de R$ 400 bilhões em 10 anos, e o redesenho dos espaços das legendas atuais na Esplanada. Esta última vai e vém a uma velocidade impressionante. No início da semana, com o pedido de demissão feito pelo tucano Bruno Araújo, titular do Ministério das Cidades, a expectativa era de que Temer antecipasse o desembarque dos 17 ministros — Bruno seria o 18º — que vão concorrer às eleições do ano que vem.
A semana, com um feriado encravado no meio, chegou ao fim com a quase certeza de que as mudanças serão pontuais, restritas às quatro pastas do PSDB: além de Cidades, o partido comanda Direitos Humanos, Relações Exteriores e Secretaria de Governo. “Precisamos ter em mente que o que importa, no fundo, é a reforma da Previdência. Como o PSDB vai se comportar após 9 de dezembro (dia da Convenção)? O PSD, que teve deserções na segunda denúncia contra o presidente, vai se reagrupar em torno do ministro Gilberto Kassab e votará conosco na reforma da Previdência?”, questionou um assessor palaciano.
Os aliados ainda estão à espera de um posicionamento. “Eu nunca disse que o governo deveria fazer uma reforma ministerial. O que eu sempre defendi é que o Planalto realinhasse a base. Foram eles que falaram em mudanças de ministros, eles que apresentem as propostas”, afirmou o líder do PP na Câmara, Arthur Lira (Estado de Minas).