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No business like war business
Passada a tão festejada noite de gala, no dia 26 de novembro de 1942 em Manhattan, a película dirigida por Michael Curtiz ficou de início relativamente esquecida. Porém um bom motivo a trouxe de volta ao cartaz nos cinemas dos Estados Unidos, dois meses depois.
Com a entrada dos EUA na Segunda Guerra Mundial em dezembro de 1941, do lado dos Aliados, filmes que criticavam a Alemanha nazista ganharam prioridade em Hollywood. Para melhor promover a produção, a Warner Brothers adiou propositalmente seu lançamento em circuito comercial para o dia de encerramento da Conferência de Casablanca, em 26 de janeiro de 1943.
Foi nesta que o primeiro-ministro britânico Winston Churchill e o presidente norte-americano Franklin D. Roosevelt acertaram que a guerra só poderia terminar com a capitulação incondicional de Alemanha, Itália e Japão.
Prêmios e clichês
A estratégia de marketing deu certo. Casablanca foi um sucesso de público e conquistou três Oscars, entre eles o de Melhor Filme de 1943.
Em 1992, Lauren Bacall, o grande amor e última esposa de Humphrey Bogart, perguntava-se mais uma vez por que a história de 1942 tanto atraía a todos, mesmo com o passar dos anos. Seria o espírito do patriotismo em tempo de guerra, ou as intrigas e perigos num local misterioso do deserto, ou o desespero dos apaixonados presos numa armadilha em Casablanca?
Os diálogos sob medida e várias insinuações sutis certamente impulsionaram a fama de Casablanca. Não há como negar que a película é repleta de clichês e absurdos. Contudo, nada disso conseguiu manchar sua aura, até hoje.
Por exemplo, os vistos no passaporte para a viagem a Lisboa trazem a assinatura de Charles de Gaulle, ou seja, exatamente do homem que liderava o movimento de resistência francesa contra o governo de Vichy, colaboracionista com os nazistas. E Victor Laszlo, que havia acabado de fugir de um campo de concentração, andava para lá e para cá sempre vestido com um bem passado terno tropical da alta costura parisiense.
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Adulterado na Alemanha
Por ironia do destino, europeus que fugiram do continente devido à perseguição nazista interpretaram no filme tanto os papéis dos refugiados como também dos homens da SS alemã.
Para Humphrey Bogart, Casablanca foi o ponto máximo de sua carreira: o aventureiro desiludido tornado anti-herói, cinicamente calmo. Um homem de ação, como o comissário Louis Renault, da polícia francesa, atestava no seguinte diálogo na tela:
Rick Blaine:“Louis, por que acha que eu poderia me interessar em ajudar Laszlo a fugir?”
Louis Renault:“Porque eu, meu querido Rick, suspeito que por trás desse ar cínico bate um coração sentimental. Pode rir à vontade, mas estou me orientando exatamente pelo seu passado. Deixe-me só destacar dois momentos: em 1935 você contrabandeava armas para a Etiópia, em 1936 lutou na Espanha contra os fascistas.”
Casablanca só foi estrear nos cinemas alemães em 1952. No entanto, numa versão abreviada e adulterada de tal forma através da dublagem, que o filme ficou desfigurado. Todas as referências ao nazismo haviam sido eliminadas. E a figura de Laszlo, membro da resistência, fora transformada em físico nuclear norueguês. A seu jeito, a Guerra Fria dos tempos de Adenauer se apoderara do passado. (Deutsche Welle)