Agora, é a vez de os MCs homenagearem Lulu: produzido e idealizado pelo DJ Sanny Pitbull, o disco “O Funk Canta Lulu” chega ao mercado esta semana e traz 12 canções do veterano interpretadas por funkeiros. Além de Marcinho e Bob Rum, que fazem um dueto na música “Mina D Prazer”, Amaro, Cacau, Deise Loira, Koringa, Leozinho, Marcio G, Sabrina, Tati Quebra Barraco, Buchecha, Naldo Benny e Valesca Popozuda também integram o time.
“Lulu tem mais de 250 músicas gravadas e por algum motivo as canções escolhidas para ‘O Funk Canta Lulu’ não foram trabalhadas em sua carreira. A ideia foi resgatar essa discografia. De uns 15 anos para cá, pelo menos, essas canções não estavam no repertório dos shows dele”, afirma Pitbull, em entrevista.
Lulu, que diz ter uma relação de afeto e de troca com o funk, afirma que provavelmente o público desconhece sua proximidade com o ritmo porque sua imagem está mais relacionada aos sucessos que o público conhece, e não às suas excursões laterais por outras áreas. “Recebi a ideia do CD com a maior alegria possível. Tenho feito esse trabalho junto com o Sanny, ainda que tudo seja executado completamente por ele, inclusive escolha de repertório e de artistas. Ele me consulta sempre. Temos uma parceria muito viva e uma troca intensa. Apesar de ser um projeto construído por vozes do funk, as músicas terão ritmos variados”.
Naldo, que foi convidado pelo próprio Lulu para participar do álbum, faz suspense quanto ao resultado final da faixa que gravou, “Eu Não”. “Não será em ritmo de funk. Eles me deixaram muito à vontade para sugerir alguns arranjos”. Popozuda faz coro: “Vou cantar a música ‘Delete’, mas (o ritmo) é surpresa”. Anitta e Ludmilla ficaram de fora do projeto. A primeira, por incompatibilidade de agendas, já que seu foco agora é a carreira internacional. A segunda bem que quis, mas não obteve autorização da gravadora.
Segundo Pitbull, o desgaste da imagem de Ludmilla, a gravação de um novo disco e as diversas participações que a funkeira tem feito em trabalhos de outros artistas seriam alguns dos motivos do veto da Warner Music Brasil.
Tributo. Lulu Santos lançou recentemente ‘Baby Baby’, com releituras de Rita Lee. “As canções dela são a história da minha vida”, justificou o cantor.
Homenageado foi alvo de polêmica
No último dia 18, Lulu Santos afirmou que a MPB regrediu à fase anal com tantas músicas explorando o bumbum e criticou as letras do funk.
“Caramba! É tanta bunda, polpa, bum bum granada e tabaca que a impressão que dá é que a MPB regrediu pra fase anal. Eu, hein?”, publicou o cantor, em sua conta no Twitter.
O comentário do cantor coincidiu com o lançamento do clipe “Vai Malandra”, de Anitta. “Não entendo!!! Não foi você mesmo, um dos 1ºs a valorizar o tal ‘Funk’ Carioca e defendê-lo publicamente!? Tá aí o fruto do seu empenho, parabéns pela sua contribuição! Nunca me conformei com isso, você é incrível e foi cair no conto do bumbum…”, disse um dos seguidores
Também houve quem concordasse com o cantor e o defendesse. “Antes fossem botsneh, eu teria mais fé na humanidade. Ah, só um adendo, Lulu Santos é muito mais relevante para a música brasileira do que qualquer coisa lançada após os anos 2000. Desculpa galera… E eu nem sou fã, sou do metal, mas respeito Lulu Santos demais. Chorem pitangas”, publicou outro internauta.
Após críticas, Lulu afirmou que seu comentário não fazia alusão a Anitta e que gosta da cantora. “Que fique bastante claro que minha opinião sobre as letras escatológicas, pessoal, intransferível e soberana, nada tem a ver com Anitta, de quem gosto e a quem respeito, muito menos com as periferias onde se continua fazendo excelente arte e vida. Respeito! Grato”.
Artistas falam de preconceito ao gênero
Com 22 anos de carreira, Koringa diz que o pior sobre o preconceito com o funk já passou, mas ele ainda existe e está longe de terminar de vez. O MC cita o recente episódio da sugestão de lei encaminhada ao Senado que tornaria o funk um crime contra a saúde pública de crianças, de adolescentes e da família. A proposta criada pelo empresário paulista Marcelo Alonso foi rejeitada pela Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa no dia 20 de setembro.
Deise, que se lançou como MC nos anos 2000, frisa que o funk sofre preconceito assim como o samba também sofreu. Ela interpreta a canção “Mala & Cia” em “O Funk Canta Lulu”. “A gente não pode tapar os olhos para isso. Sempre fui de falar que esse ritmo é muito generoso, democrático. Pode chegar um advogado de gravata no baile e ele vai dançar. Não existe uma bula. Somos um movimento altamente dançante, envolvente. Sinto que, de certa forma, as pessoas têm um olhar de menos importância para o funk”, emenda Naldo.
MC Amaro, que durante um período da carreira se dedicou ao funk gospel, diz que parte do julgamento que o ritmo sofre advém das letras chulas e desapropria-das de algumas canções. “É necessário, urgentemente, uma peneira. Precisamos entender que muitos jovens ouvem funk e as letras estão pornográficas e de péssimo gosto (…) Este disco será um trampolim para mostrar que muitos de nós ainda escolhemos o caminho do bem e da boa música”, acrescenta ele, que canta “Fogo de Palha” no disco.
MC Cacau discorda: “Por mais que falem que o funk não é cultura, estamos mostrando boas letras, com conteúdo e sem duplo sentido. Crianças, jovens e idosos estão cada vez mais apaixonados pelo ritmo”. Ela vai interpretar a canção “Cadê Você”. “Lulu é o grande responsável pelo reconhecimento do mundo do funk. Foi o primeiro artista de sucesso a gravar com artistas do funk carioca”, completa Sabrina. Ela emprestou a voz à canção “Aquilo”.
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