Em 1964, dois anos antes de estourar na TV com a série “O Besouro Verde”, Bruce Lee viveu uma luta lendária.
Então instrutor de artes marciais na Califórnia, ele recebeu, não se sabe ao certo em que condições, o desafio de enfrentar Wong Jack Man, monge chinês que acabara de chegar a São Francisco.
É nesse episódio de sua vida que se baseia “A Origem do Dragão”, de George Nolfi.
Com poucos espectadores e sem registro conhecido, a luta ganhou aspectos lendários. Há divergência sobre quem teria vencido – para Linda Emery, foi Lee, seu marido; Wong Jack Man, por sua vez, afirma tê-lo derrotado.
Como resolver cinematograficamente tal ambivalência? Nolfi, que foi roteirista de “Ultimato Bourne” (2007) e “Doze Homens e Outro Segredo” (2004), optou por conduzir um filme biográfico peculiar, entremeando elementos melodramáticos fictícios e cenas de luta inspiradas em performances de Bruce Lee.
Nascido em uma família chinesa de São Francisco e criado em Hong Kong, Bruce Lee (Philip Ng) regressa aos EUA. Ali, ensina uma técnica de kung-fu a ser praticada nas ruas e sonha tornar-se uma estrela das artes marciais na TV e nos cinemas.
Wong Jack Man (Xia Yu) vê na arrogância e no egocentrismo do antagonista suas maiores fraquezas, defendendo o kung-fu baseado no autoconhecimento e no estudo da personalidade do oponente.
Steve McKee (Billy Magnussen) faz a ligação entre os dois: antigo aluno do mestre Lee, ele é conquistado pela humildade de Wong e tem sua ajuda para libertar a amada, mantida prisioneira por uma mafiosa de Chinatown.
Quando “A Origem do Dragão” estreou, no festival de Toronto, críticas negativas condenaram a importância exacerbada conferida ao personagem branco, provável referência a Steve McQueen, amigo e aluno de Lee. Depois disso, ao que tudo indica, o filme recebeu alguns ajustes.
Na versão que estreia agora no Brasil, McKee protagoniza sequências de fato dispensáveis. Por outro lado, é nos diálogos com ele que os mestres chineses expressam seus princípios filosóficos.
Seria apressado encarar os efeitos especiais nas cenas de luta como modismo ou déjà-vu. Se hoje a desaceleração no momento do golpe e a sobreposição de instantes, criando a visão de homens dotados de três ou quatro pares de braços, remetem a “Matrix” ou “Kill Bill”, é porque esses filmes são na verdade tributários da mise-en-scène desenvolvida por Bruce Lee.
Nos embates de “A Origem do Dragão”, a passagem do quase congelamento da imagem à aceleração extrema remete à agilidade do protagonista de “A Fúria do Dragão” (1972), morto aos 32 anos. Não é a mais completa ou mais sóbria versão de sua história, mas é uma bela homenagem aos dois mestres, “SiFu Lee” e Wong Jack Man – que, septuagenário, atuou como consultor no filme.
OTempo