O Ministério Público do Rio pediu a transferência do ex-governador Sérgio Cabral (PMDB), preso em uma penitenciária em Benfica, para um presídio em Curitiba. A informação foi publicada na edição desta quinta-feira (18) no jornal “O Globo” e confirmada pela TV Globo.
O pedido é referente às regalias tanto em Bangu, onde esteve detido anteriormente, quanto em Benfica. Os promotores dizem que houve uma “rede de serviço e favores” montada para o ex-governador dentro da cadeia.
Eles pediram também que o secretário de Administração Penitenciária (Seap), coronel Erir Ribeiro, seja afastado do cargo, assim como outros cinco servidores da pasta. A denúncia cita a proximidade do secretário, que foi comandante da Polícia Militar na gestão de Cabral, com o ex-governador. Lembra ainda que Erir foi candidato a vereador, tendo o apoio — inclusive financeiro — da família Cabral.
Depoimentos feitos ao MP afirmam que toda doação, como a da videoteca, passam pelo aval verbal ou escrito do secretário. Os procuradores dizem que a reação de Erir Ribeiro em casos como este foi apática.
Na cadeia de Benfica, foram encontrados camarão, queijo de cabra e bacalhau. Uma resolução da Secretaria de Administração Penitenciária proíbe a entrada de produtos in natura nas cadeias do estado. Uma das embalagens tinha o nome de Cabral na tampa.
A ação, ainda de acordo com O Globo, cita a instalação de um “cinema vip”, remédios obtidos sem prescrição “via WhatsApp” — nas palavras do ex-secretário de Saúde Sérgio Côrtes — e visitas e entregas na área externa do presídio. Algumas delas feitas por deputados.
Já sobre Bangu cita a “escolta” de agentes penitenciários a presos e a suposta “rede de serviços e favores”.
Cinema vip
Investigação do MP aponta que Sérgio Cabral chamou missionários de uma igreja evangélica, que já faziam orações na cadeia, à biblioteca do presídio, onde pediu que assinassem um termo falso de doação. Cabral teria dito a eles que fez uma “vaquinha”, com os companheiros presos, para a compra do home theatre. Cabral nega.
Os procuradores afirmam que “mesmo em cárcere (ou suposto cárcere) o réu Sérgio Cabral continua a desempenhar aquilo pelo qual encarcerado foi: a gestão da coisa pública em seu benefício pessoal”.
Bangu
Imagens do circuito de segurança mostram presos circulando livremente, fora do horário de banho de sol. O ex-governador aparece tendo regalias que superam até mesmo os padrões de Bangu 8. Recebia visitas fora de hora, na sala da direção do presídio.
De acordo com o livro de registros, a data e a hora em que Sérgio Cabral era levado até lá coincidem com a presença em Bangu do filho dele, o deputado Marco Antônio Cabral (PMDB).
Como mostrou a TV Globo, até as conversas com os advogados fugiam do padrão. O regulamento determina que o contato com o cliente seja feito num local específico: o parlatório. Mas as câmeras mostram que Sérgio Cabral saía dali e caminhava até o hall de entrada do presídio. Os advogados davam a volta por fora e chegavam ao mesmo local, mesmo em dias de chuva.
As notícias da vida fora dos muros chegavam depressa ao ex-governador. No dia 17 março, ele foi cercado no corredor e recebeu abraços, cumprimentos e o carinho dos companheiros de cela e de presídio. Sérgio Cabral retribiu emocionado.
O dia e a hora coincidem com a notícia de que a ex-primeira dama, Adriana Ancelmo, iria sair de Bangu para a prisão domiciliar. No fim de maio, os 146 presos de Bangu 8 foram transferidos para a cadeia José Frederico Marques, em Benfica.