BB King, Jimi Hendrix, Slash, Bob Marley, Eric Clapton, Jimmy Page – a lista de icônicos entusiastas das guitarras Gibson é extensa. Igualmente grande foi o choque gerado pela notícia, divulgada na última semana, de que a empresa norte-americana corre risco de falência. Segundo o “Nashville Post”, jornal da cidade que sedia a fábrica da marca, é crítica a situação financeira da Gibson Brands, que tem uma dívida a vencer em agosto deste ano na casa dos 375 milhões de dólares.
O assunto caiu como uma bomba no meio musical, provocando intensa reflexão sobre o papel da guitarra no atual momento da música pop. Seria a perda de protagonismo do instrumento o motivo que levou a mítica marca, no alto de seus 124 anos, a enfrentar tal avassaladora crise? O pop perdeu o fascínio pela guitarra, defronte às novas estéticas e possibilidades de produção musical? Onde e como a guitarra se encaixa na atualidade?
Para John Ulhoa, guitarrista do Pato Fu, o instrumento caiu num lugar de acompanhamento e apoio. “Acho que até bailarinos têm mais destaque na atual cultura pop do que as guitarras, no sentido de serem apoio para o vocalista. Na verdade, em grande parte dos shows do mainstream, mal se vê os músicos. Se é que eles estão ali”, critica, ponderando que as Gibsons sempre serão objetos de desejo. “Guitarras estão virando parte de um segmento menor, são parte de uma cultura vintage agora. Nesse sentido, a Gibson ainda tem muita força, é dona de alguns dos designs mais desejados”, defende.
PARA ALÉM DO ROCK
Affonsinho ressalta que a guitarra é muitas vezes ligada, erroneamente, apenas ao rock – e na verdade é ele que tem perdido espaço na cultura pop. “Acho que o rock deu uma piorada mesmo. Não temos mais instrumentistas impressionantes como Hendrix, Clapton, Jeff Beck. Há muita técnica, mas pouco sentimento, pouca sutileza”, afirma. “Ao mesmo tempo, a guitarra é fundamental em outros estilos, como o jazz e o blues. E aí temos novos guitar heroes surgindo, como o norte-americano Derek Trucks, que é impressionante”, completa.
Cercado por guitarras de estimação em seu estúdio, Ilha do Corvo, o músico e produtor Leonardo Marques (Transmissor) ressalta que é preciso observar as diferentes camadas do universo pop. “Acho que, no mainstream, realmente, a guitarra não é o ícone de antes. Hoje, o Nuno Bittencourt faz um solo na música da Rihanna, é algo pontual. Ela está viva, mas mais escondida”, pontua. “Agora, no underground, ainda há uma evidência. Por exemplo, a Maglore (BA), banda que produzi recentemente, era um trio e voltou a ser um quarteto, justamente com um guitarrista a mais, fazendo as linhas melódicas, os riffs que se cantam”, afirma, citando ainda nomes como o do americano Black Mills e do brasiliense Pedro Martins.
POP EM CICLOS
Marques ressalta o caráter cíclico da cultura pop. “Nos últimos tempos, os músicos têm explorado novas possibilidades e acabaram deixando a guitarra de lado. A música tem essa coisa de ciclos. Esse, talvez, só esteja demorando muito a passar”, reflete. “Mas acredito que uma hora a guitarra vá voltar como um elemento novo, atraindo atenção do universo pop mais uma vez”.(Hoje em Dia)