PYONGYANG — O governo sul-coreano informou nesta terça-feira que a Coreia do Norte aceitaria se desnuclearizar caso tenha garantias de que o regime permanecerá em segurança. A informação foi divulgada pelo chefe da delegação do Sul que viajou no último fim de semana a Pyongyang para uma reunião com o líder do Norte, Kim Jong-un. Os dois países vão realizar sua primeira cúpula em mais de uma década no fim de abril, em Panmunjom, na zona desmilitarizada que divide a Península Coreana, anunciou Seul.
As Coreias também concordaram em estabelecer uma linha telefônica entre os líderes do Sul e do Norte, que indicou que vai suspender testes nucleares e de mísseis durante o diálogo.
A Coreia do Norte disse que não há necessidade de manter seu programa nuclear contanto que não haja ameaça militar contra o país e sua segurança esteja garantida, indicou Chung Eui-yong, chefe da delegação e assessor de Segurança do presidente Moon Jae-in, já de volta a Seul. A Coreia do Norte também disse estar disposta a dialogar com os Estados Unidos sobre a desnuclearização e a normalização dos laços diplomáticos. As negociações entre os dois países foram interrompidas em 2009.
— A Coreia do Norte deixou claro sua disposição em desnuclearizar a península e o fato de que não há razão para ter um programa nuclear se ameaças militares contra o Norte se resolverem e o regime estivar seguro — indicou Chung Eui-yong.
No Twitter, o presidente americano, Donald Trump, respondeu de maneira enigmática: “Veremos.” Mas reconheceu avanços no diálogo entre as duas Coreias: “Pela primeira vez em muitos anos, todas as partes envolvidas estão fazendo um esforço sério. O mundo está olhando e esperando”, escreveu. “Pode ser uma falsa esperança, mas os Estados Unidos estão prontos para irem em qualquer direção”, acrescentou.
Paralelamente, Jae-in disse nesta terça-feira que seu Exército deve concentrar “toda sua força” para fomentar sua capacidade de defesa para conter mísseis da Coreia do Norte, mesmo durante o período de reaproximação.
— Devemos falar com o Norte sobre a desnuclearização da Península Coreana, mas, ao mesmo tempo, devemos concentrar todos nossos esforços em rapida e efetivamente criar defesas contra o programa nuclear de mísseis da Coreia do Norte — disse ele em uma cerimônia de graduação militar.
O Ministério do Exterior da China disse que espera que as duas Coreias continuem avançando nos esforços pela reconciliação:
“Esperamos que todas as partes relevantes possam agarrar a atual oportunidade, trabalhar por um objetivo compartilhado e exercer esforços para promover o processo de desnuclearização da Península, resolvendo politicamente a questão da Península Coreana. A China está disposta a continuar a exercer seu devido papel para este fim”, disse o órgao em nota.
A VEZ DOS ESTADOS UNIDOS
A delegação sul-coreana que se sentou à mesa com Kim Jong-un e debateu formas de alcançar a distensão na península retornou à Coreia do Sul nesta terça-feira. Já na quarta-feira, os enviados viajam a Washington para relatar as discussões em Pyongyang e pressionar por um diálogo entre os vizinhos e os americanos.
Fotos divulgadas pela agência estatal de notícias da Coreia do Norte, a KCNA, mostram os cumprimentos entre Kim Jong-un e o chefe da delegação sul-coreana, Chung Eui-yong. O delegado afirmou que o regime de Pyongyang destacou que não precisaria manter seu arsenal nuclear se as ameaças militares contra o país fossem resolvidas e a nação tivesse uma garantia de segurança.
Entre os enviados do Sul ao Norte estava Suh Hoon, chefe do serviço de Inteligência sul-coreano, que teve um papel fundamental nas negociações que levaram às cúpulas intercoreanas de 2000 e 2007. Segundo a agência estatal, o líder norte-coreano deu “calorosas boas-vindas” aos funcionários sul-coreanos, que lhe entregaram uma carta do presidente Moon Jae-in.
— Por meio desta visita, o governo sul-coreano criou uma oportunidade muito importante para lidar com ameaças de mísseis e nucleares, prevenir guerra na Península Coreana e criar confiança — afirmou Cheong Seong-chang, pesquisador-sênior do Sejong Instituite.
‘CONVERSA HONESTA’
De acordo com a agência norte-coreana, as partes tiveram “uma conversa honesta sobre os problemas relacionados à melhora efetiva das relações Norte-Sul e com as garantias de paz e estabilidade na Península Coreana”.
“Após escutar o emissário especial evocar o projeto de uma cúpula com o presidente Moon Jae-in, houve uma troca de pontos de vista e sua aprovação”, destacou a agência.
Trata-se da primeira delegação ministerial sul-coreana que viaja à Coreia do Norte desde dezembro de 2007. Um ano depois, o presidente conservador Lee Myung-bak chegou ao poder e as relações bilaterais se agravaram. É o mais recente passo na aproximação entre as duas Coreias, favorecido pelos Jogos Olímpicos de Inverno no Sul.
A delegação pressiona para que o governo de Pyongyang, em meio a uma corrida nuclear, dialogue com os Estados Unidos, depois que a irmã do líder norte-coreano, Kim Yo Jong, compareceu aos Jogos de Pyeongchang. A visita de Kim Yo-jong foi a primeira de um membro da dinastia no poder no Norte desde o fim da Guerra da Coreia (1950-1953). Kim Yo-jong aproveitou a ocasião para convidar o presidente Moon Jae-in a uma cúpula em Pyongyang. Os Jogos proporcionaram “um bom ambiente para a reconciliação, a unidade e o diálogo entre o Norte e o Sul”, declarou Kim Jong-un à delegação visitante, segundo a KCNA.
O presidente sul-coreano tentou aproveitar os Jogos de Pyeongchang para abrir um diálogo entre Pyongyang e Washington com a esperança de diminuir as tensões na península da Coreia.
A Coreia do Norte, isolada e empobrecida, desafiou no ano passado as sanções da ONU e realizou seu teste nuclear mais potente até a data, além de lançar vários mísseis capazes de alcançar o território continental americano.