A União Europeia negou nesta quarta-feira (7) querer levantar um “muro” com o Reino Unido após sua saída do bloco, embora tenha alertado, em sua proposta sobre a futura relação comercial com os britânicos, para o impacto negativo inevitável do Brexit.
“Não queremos construir um muro entre a UE e o Reino Unido. Ao contrário, o Reino Unido será nosso vizinho mais próximo e queremos continuar sendo amigos e parceiros”, disse em coletiva de imprensa o presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, em Luxemburgo.
Na capital do Grã-Ducado, onde se reuniu com seu primeiro-ministro Xavier Bettel, Tusk apresentou as orientação do bloco que servirão de base para o negociador europeu definir com seu par britânico a futura relação entre os dois lados do Canal da Mancha.
A questão da relação comercial é fundamental. A primeira-ministra britânica, Theresa May, anunciou nesta sexta-feira que seu país abandonará o mercado único e a união aduaneira, e também recusou se manter sob a jurisdição do Tribunal de Justiça da UE.
Lembrando dos “limites” de Londres, o presidente do Conselho defendeu que “apenas um acordo de livre-comércio é possível”, “o primeiro acordo de livre-comércio da história que afrouxa os laços econômicos, em vez apertá-los”.
A UE busca um acordo comercial baseado em um “equilíbrio de direitos e obrigações”, indicou Tusk, para quem a futura relação também deverá passar por um estreita cooperação na luta contra o terrorismo e o crime internacional ao fazer frente “às ameaças similares”.
– ‘Atritos’ inevitáveis –
A proposta revelada por Tusk ainda deverá ser aprovada pelos ainda sócios do Reino Unido em uma cúpula europeia em 22 e 23 de março, representada em um documento que reconhece eventuais futuros atritos com o Reino Unido.
“Estar fora da união aduaneira e do mercado único provocará atritos, inevitavelmente” e teria “consequências econômicas negativas”, diz o rascunho com orientações sobre a futura relação, visto pela AFP.
Um porta-voz de Downing Street suavizou o tema, garantindo que esse acordo ainda não tinha sido adotado “formalmente”. “Esperamos que [as diretrizes finais] proporcionem a flexibilidade necessária” para repensar a “futura relação econômica”, acrescentou.
A UE busca um acordo que abarque “todos os setores, com tarifas zero para os produtos”, explicou Tusk, para quem o acesso de barcos pesqueiros da UE nas águas britânicas deve estar incluído, um tema delicado para os partidários do Brexit.
Além disso, sobre o desejo do Reino Unido de incluir os serviços financeiros no acordo de livre-comércio, o presidente da instituição que agrupa os mandatários do bloco se limitou a indicar que o pacto deve “abordar” o assunto.
– “Interesse mútuo” em serviços financeiros –
No entanto, o rascunho de orientações se refere genericamente à questão dos serviços, sem detalhar se são financeiros. A França tinha advertido na véspera que estes últimos não podiam “se incluir em um acordo de livre comércio”, nas palavras de seu ministro da Economia, Bruno Le Maire.
Seu contraparte britânico, Philip Hammon, reiterou nesta quarta-feira a posição de Londres, destacando o “interesse mútuo” para as duas partes de contar com um pacto sobre serviços financeiros e defendendo que cada acordo comercial da UE é único.
Londres gostaria que seu setor financeiro, como bancos ou câmaras de compensação, continuassem operando em todo o bloco europeu como até hoje, sem a necessidade de contar com uma sede fora do território britânico após o Brexit.
A negociação sobre o futuro será definida em uma ‘declaração política’ que acompanhará o tratado de divórcio, também em negociação com o Reino Unido e um eventual acordo de transição a partir da saída dos britânicos, prevista para 29 de março de 2019.
Este pacote final deverá ser aprovado pelo Parlamento Europeu, que também apresentou nesta quarta-feira suas “linhas vermelhas” para a futura relação que deve passar, segundo o negociador-chefe do Parlamento Europeu para o Brexit, Guy Verhofstadt, por um “acordo de associação” mais amplo do que um acordo de livre comércio.