A catarata é uma doença que ataca milhões de pessoas em todo o mundo, sendo a causa mais comum a senil, ou seja, o envelhecimento natural do cristalino ao longo da vida. Há também a catarata congênita, na qual o bebê já nasce com a enfermidade (forma mais rara), e de causas secundárias, como o uso crônico de corticoide, doenças metabólicas, diabetes, uveítes (inflamação intraocular). Os sintomas podem incluir visão desfocada, diminuição de sensibilidade às cores, halos à volta das luzes, dificuldade em observar luzes brilhantes e de enxergar durante a noite. Poderá também afetar a condução, a leitura ou o reconhecimento de rostos. De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), a catarata é responsável por 47,8% dos casos de cegueira no mundo, acometendo principalmente a população idosa.
Na realidade, o termo “catarata” é dado para qualquer tipo de perda de transparência do cristalino, lente situada atrás da íris, seja ela congênita ou adquirida, independentemente de causar ou não prejuízos à visão. Ela pode ocorrer em apenas um ou em ambos os olhos, dependendo da causa. Geralmente, é bilateral e assimétrica, ou seja, pode estar mais avançada em um dos olhos. Pode também ser unilateral se for secundária à doença ocular ou ao trauma do olho acometido. Hoje, é possível a redução da dependência dos óculos, tanto para longe quanto para perto, com implante de lentes intraoculares de foco estendido ou trifocais.
“A catarata é uma opacidade parcial ou total do cristalino, lente natural do olho localizado atrás da pupila. É composto basicamente por água e proteínas. As proteínas do cristalino têm características próprias e são responsáveis pela sua clareza e transparência. Com o envelhecimento dos olhos, a estrutura dessas proteínas se altera, o que provoca perda gradual da transparência do cristalino”, esclarece o oftalmologista Paulo Silvério Coelho Baeta, especialista em cirurgia de catarata e vítreo retiniana, da Clínica Alcance.
O especialista explica que essa mudança pode ser devida a diversos fatores, que se dividem entre congênitos e adquiridos.
PROCESSO LENTO
Entre as adquiridas, destacam-se: senil, tipo mais comum de apresentação. Ocorre a perda da transparência do cristalino ao longo dos anos. No entanto, o tempo de aparecimento pode variar entre indivíduos e famílias diferentes; traumática, tipo mais comum de catarata unilateral em indivíduos jovens. Pode ser causada por trauma penetrante, trauma contuso, radiação e descarga elétrica; induzida por medicamentos, causada principalmente pelo uso de corticosteroides, dependendo da dose, duração do tratamento e susceptibilidade individual. Outros exemplos são amiodarona, ouro, alopurinol, clorpromazina; e secundária, decorrente de uma doença ocular primária. Entre as causas estão a inflamação intraocular (uveíte), glaucoma agudo, alta miopia e distrofia hereditária do fundo do olho.”
Já as congênitas ocorrem em aproximadamente três em cada 10 mil nascimentos, dos quais 60% são bilaterais. A causa principal é a mutação genética. Mas também ocorre devido a anormalidades cromossômicas, desordens metabólicas e infecções durante a gravidez, como a rubéola. E, ainda, pode ser consequência de um processo hereditário.
Paulo Baeta explica que a catarata é um processo lento, gradual e indolor. “Nas fases iniciais, pode passar despercebida. Ela, na imensa maioria dos casos, acomete os dois olhos, mas o faz, habitualmente, de modo assimétrico. Em geral, um olho apresenta uma catarata em estágio mais avançado que o outro. As primeiras queixas com relação à doença costumam ser a dificuldade para ver em locais com pouca iluminação, dirigir veículos à noite e para ler placas ou letras pequenas. Agravamento de uma miopia já existente também é um sintoma inicial comum. A necessidade de trocar o grau dos óculos com alguma frequência pode ser um sinal de catarata”, alerta o médico.
O especialista esclarece que, com a progressão da turvação do cristalino, a visão vai se tornando cada vez mais nebulosa e os contrastes menos perceptíveis. “Outros sintomas comuns são o incômodo com luzes fortes, que causam um brilho intenso na visão, e queixas de que as cores dos objetos e do ambiente estão mais amareladas, acastanhadas ou menos intensas. Alguns pacientes com catarata desenvolvem visão dupla”, ressalta o oftalmologista. “Se não tratada, a catarata pode evoluir para perda da visão, mas, felizmente, reversível. Não há como evitar a catarata, que se desenvolve com a idade”, alerta o médico.
Paulo Baeta salienta que o diagnóstico é feito por meio de exame de biomicroscopia ocular. “O único tratamento efetivo para curar a catarata é a cirurgia, que consiste na quebra e aspiração do cristalino opaco, utilizando um aparelho com ultrassom (Facoemulsificação). Depois da retirada da catarata, implanta-se a lente intraocular dobrável (em situações normais, o deslocamento dessa lente é algo muito raro), por meio de microincisão – 2,2mm – realizada na córnea. Atualmente, podemos também fazer uso do aparelho de laser de femtosegundo (unidade de medida de tempo) para realização de algumas etapas da cirurgia, como incisões, Capsulorhexis e fragmentação do cristalino, com o benefício de dar mais precisão, previsibilidade e reprodutibilidade à cirurgia de catarata.”
MILAGRE
José Antônio Rezende, de 60 anos, conta que estava tendo problemas com a visão e foi ao médico. “Não estava vendo as coisas direito e minha vista vinha aumentando cerca de um grau de miopia ao ano e já estava com 16 graus. Tinha dificuldades para enxergar, principalmente à noite. Fiz a consulta e o oftalmologista disse que eu estava com catarata e que precisava de operar o mais rápido possível. Feitos os exames, ele marcou a operação primeiro para o olho esquerdo, que estava numa situação pior.”
“A operação em si não durou nem 10 minutos. O anestésico foi local, por meio de colírio, e já saí da clínica enxergando normalmente. Incrível! Achei que as cores estavam mais vivas e conseguia enxergar coisas que me surpreenderam, como placas distantes. Feita a revisão, ele marcou a operação do olho direito para a semana seguinte. Chegando na clínica, foram feitos os preparativos e a operação não durou nem oito minutos. Resumindo, depois de pingar alguns colírios por cerca de um mês, voltei a enxergar perfeitamente bem, graças a Deus! Agora é fazer mais uma revisão daqui a seis meses. Depois, de ano em ano. Foi como se tivesse ocorrido um milagre”, diz José Antônio.
Paulo Baeta explica que, atualmente, a cirurgia da catarata tem o potencial de corrigir o grau de olhos míopes, hipermétropes e astigmatas por meio de lentes intraoculares. “Porém, é preciso ressaltar que essa correção dependerá de múltiplos fatores, como a técnica cirúrgica, a cicatrização do paciente e, principalmente, o cálculo dos implantes intraoculares”, observa. (Saúde Plena)