O anúncio do presidente dos EUA, Donald Trump, de sobretaxar em 25% o aço e o alumínio importados pelo país, o que afetaria diretamente o Brasil – segundo maior exportador de aço para os norte-americanos, atrás apenas do Canadá – pode ter impacto ainda maior que o estimado até o momento para Minas Gerais.
Segundo a Federação das Indústrias do Estado (Fiemg), do total de 4,7 milhões de toneladas de aço vendidas pelo Brasil aos EUA em 2017 – crescimento de 66% em relação a 2011 –, o que gerou faturamento de US$ 2,6 bilhões, cerca de 17% (US$ 442 milhões, ou cerca de 800 mil toneladas) foram produzidos em Minas.
O prejuízo para os mineiros com a sobretaxa, no entanto, transcenderia esse montante, caso as exportações venham mesmo a ser bloqueadas pela barreira criada por Trump.
“Teríamos um impacto indireto muito grande, que ainda não conseguimos dimensionar. Toda a cadeia produtiva do aço poderia ser comprometida a partir da medida, o que inclui setores como o de veículos e de material eletrônico, tanto em termos de exportações como de importações”, afirma o economista Paulo Casaca, da Fiemg.
O problema, na avaliação de Casaca, é que, com a sobretaxação do aço pelos americanos, a tendência seria de repetição da medida supostamente autoprotetiva por outros mercados, caso do europeu. “O excedente de aço que os EUA importam hoje e que deixariam de importar seria direcionado para outros mercados, e a Europa teria de fazer a mesma coisa que os americanos para não ver seu mercado inundado de aço importado”, afirma o economista.
O cálculo do Instituto Aço Brasil é de que, com a medida americana, 30 milhões de toneladas de aço passem a ser direcionados a outros mercados pelo mundo, que já sofre de excessiva capacidade de produção (superior a 700 milhões de toneladas).
Repressão
Executivo
O país é, hoje, visto como praticante de uma “fraca defesa comercial”, o que o tornaria alvo fácil para grandes exportadores. “Isso mereceria uma repressão de nossa parte, sob pena de enorme prejuízo às empresas instaladas aqui e ao mercado interno”, disse o executivo.
Governo tentar reverter decisão do presidente Donald Trump
O governo federal, com apoio de entidades como o Instituto Aço Brasil, está empenhado em fazer com que os norte-americanos revejam a decisão de sobretaxar o aço brasileiro.
A medida de Trump baseou-se em um dispositivo criado para defender a segurança nacional norte-americana, a chamada seção 232, que não era usado desde 2001. Ou seja, a justificativa oficial é de que o aço e o alumínio importados pelos EUA, nos preços atuais, estariam prejudicando a indústria e os trabalhadores daquele país.
Para o presidente do Instituto Aço Brasil, Marco Polo de Mello Lopes, no entanto, o dispositivo, no caso, não se aplica ao Brasil. Lopes assegura que, diferentemente da maioria dos países que exportam para os EUA, 81% das exportações brasileiras de aço para o mercado norte-americano são de produtos semi-acabados encaminhados para produtores de aço locais para laminação e acabamento. Mais de 20 usinas siderúrgicas americanas usam os produtos semiacabados importados do Brasil em suas operações.
“As importações de aço do Brasil têm grande sinergia com a produção de aço dos EUA e aumentam a competitividade da indústria manufatureira, de agronegócios e infraestrutura daquele país”, afirma o presidente.
“O bloqueio das exportações brasileiras para o mercado americano ocasionará dano significativo não só para as empresas siderúrgicas brasileiras, mas também para as siderúrgicas americanas que não terão condições de suprir a demanda do mercado doméstico. Vai faltar aço nos EUA, o que certamente provocará aumento dos preços para os consumidores finais”, acrescenta.
Balança
Outro forte argumento usado pelos agentes governamentais e empresariais brasileiros incumbidos de tentar reverter a sobretaxa aos produtos do país nos EUA é a relação comercial bilateral entre os dois países.
O entendimento é de que, a princípio, a sobretaxa afetaria países que apresentam superávit comercial na balança dos EUA – exportaram mais que importaram –, o que não é o caso do Brasil. “Entre 2009 e 2017, tivemos um déficit comercial com os Estados Unidos de US$ 46 bilhões”, lembra o economista Paulo Casaca, da Fiemg.
Pesa na argumentação ainda o fato de o Brasil ser grande comprador de carvão dos Estados Unidos, produto com o qual alimenta seus altos-fornos na produção de aço. “Se não vendermos mais aço para eles, não faz sentido continuarmos comprando o carvão que produzem”, explica Casaca. (Hoje em Dia)