O ex-presidente francês Nicolas Sarkozy é interrogado nesta quarta-feira (21), pelo 2º dia consecutivo, sobre o suposto financiamento ilegal de sua campanha eleitoral de 2007 com dinheiro do regime líbio, na época governado pelo ditador Muamar Khadafi.
Sarkozy chegou pouco depois das 8h (4h de Brasília) ao Escritório Central de Luta contra a Corrupção e as Infrações Financeiras e Fiscais (OCLCIFF) de Nanterre, na região de Paris, informaram à AFP fontes próximas à investigação.
O ex-presidente (2007-2012) foi detido na manhã de terça-feira (20) para ser interrogado e liberado durante a noite.
Sarkozy, 63 anos, pode permanecer em detenção provisória por até 48 horas. Ao final deste período, o ex-presidente pode ser liberado, convocado para uma data posterior ou ter uma audiência com um juiz para um indiciamento formal.
Brice Hortefeux, um político ligado a Nicolas Sarkozy e que foi seu ministro do Interior, também foi interrogado na terça até o fim da noite, mas não foi detido. “Estou depondo em uma audiência livre, as explicações permitirão encerrar uma sucessão de erros e mentiras”, escreveu no Twitter.
Dinheiro irregular
Essa é a 1ª vez que Sarkozy fala a sobre a suspeita de ter recebido secretamente 50 milhões de euros da Líbia para financiar a campanha que o levou à presidência.
Tal soma seria mais que o dobro do limite permitido legalmente na época para financiamento de campanhas políticas: 21 milhões de euros, de acordo com a Deutsche Welle. Ainda quando presidente, Sarkozy classificou as suspeitas de “grotescas”.
Sarkozy tinha uma relação complexa com Khadafi. Logo após se tornar presidente, ele convidou o líder líbio para uma visita oficial à França e o recebeu com honras de Estado. Nessa visita, foram assinados contratos comerciais de cerca de 10 bilhões de euros entre os dois países.
Porém, anos depois, Sarkozy foi um dos maiores apoiadores dos ataques aéreos, liderados pela Otan, contra o governo líbio durante o levante de 2011, que culminaram com a queda do ditador, no auge do movimento que ficou conhecido como Primavera Árabe. Ele foi morto em um ataque aos 69 anos.
Escândalo
As acusações surgiram em 2012 após a publicação de um documento pelo site Mediapart, que indicava que o regime líbio havia aprovado um pagamento para apoiar a campanha de Sarkozy. Por conta desses documentos, o ex-secretário-geral do Palácio do Eliseu Claude Guéant já é investigado por falsificação de documentos e fraude fiscal.
Embora o ex-presidente tenha afirmado que o documento era falso, a corte francesa declarou que alguns documentos eram autênticos e poderiam ser utilizados na investigação. A ação OCLCIFF que investiga o ex-presidente foi aberta em 2013.
Em novembro de 2016, durante as primárias do partido republicano, o empresário franco-libanês Ziad Takieddine afirmou ter transportado 5 milhões de euros em espécie de Trípoli até Paris, entre 2006 e 2007, antes de entregar o montante a Sarkozy, que era então ministro do Interior, segundo o “Le Monde”.
Os magistrados ainda investigam uma transferência de 500.000 euros recebida por Guéant em março de 2008, procedente da empresa de um advogado malaio. Este sempre afirmou que a quantia dizia respeito à venda de dois quadros, segundo a France Presse.
Outro intermediário, o empresário Alexandre Djouhri, apresentado como um personagem chave da investigação, foi detido em janeiro em Londres. Ele continua em prisão preventiva, à espera de uma audiência sobre a eventual extradição para a França, prevista para julho.