Vistoria técnica realizada pelos peritos da Biblioteca Nacional confirmou que as oito gravuras do alemão Emil Bauch furtadas da instituição em 2004 são as mesmas que estavam na coleção do Instituto Itaú Cultural. O resultado da vistoria foi divulgado ontem pelas duas instituições e foi assinado um termo de restituição definitiva das obras, que agora voltam ao acervo da Biblioteca.
A suspeita de que as obras furtadas estariam na coleção do Itaú começou quando o ladrão, Laéssio Rodrigues, que está preso no Rio, mandou cartas a diversas pessoas nas quais contava a história e afirmava que tinha vendido ao pesquisador Ruy Souza e Silva as oito gravuras de Emil Bauch e que elas estariam na coleção do Itaú. O jornal Folha de S. Paulo recebeu uma das cartas e publicou matéria sobre o assunto no início do mês.
Tão logo tomou conhecimento da suspeita, o diretor do Instituto Itaú Cultural, Eduardo Saron, entrou em contato com a presidente da Biblioteca Nacional, Helena Severo, se dispondo a colocar as peças em vistoria e devolvê-las, caso ficasse provado a procedência. No dia 14 de março, Saron entregou as oito gravuras aos peritos da Biblioteca Nacional, que tiveram cinco dias úteis para dar o veredicto.
Joaquim Marçal, perito judicial e servidor do Departamento de Iconografia da Biblioteca foi o coordenador do trabalho e afirmou não ter sido difícil comprovar a autenticidade das peças. “As coincidências são muito fortes. Conseguimos juntar todos os dados e tudo se encaixou para que tivéssemos a certeza de que essas oito litogravuras são as que foram subtraídas do nosso acervo. Em algumas peças, a inscrição continua bem legível, em outras foram apagadas. Mas todas elas têm marcas visíveis, como reparos feitos em danos existentes nos originais. Foi um trabalho de muita responsabilidade, e nosso laudo tem 100% de garantia”.
Jayme Spinelli, chefe do Departamento de Restauração da BN, afirmou a que as obras passaram por uma lavagem com ácidos que tirou a cor delas. “Temos elencos de procedimentos de restauração e, ao nos depararmos com as obras, vimos que elas tinham passado por esse processo de lavagem, que as deixou quase brancas. Não é possível que uma peça do século XIX tenha esse papel tão branco. Fizeram uma restauração grotesca, muito mal feita em todas elas”.
A Biblioteca Nacional foi saqueada em 2004 e 2005 e, ao menos, 1200 peças de seu acervo foram subtraídas. Segundo Helena Severo, a Polícia Federal foi informada de todos os acontecimentos e técnicos da instituição mantêm contato frequente com o delegado responsável pelo inquérito. Em 2006, o ladrão foi preso dentro da Biblioteca Nacional, quando se preparava para cometer outros roubos. “Quando vimos que ele estava aqui dentro, imediatamente acionamos a PF, que chegou em poucos minutos e o levou preso”, explicou Maria Jose Fernandes, diretora do Departamento de Acervos e Serviços aos Leitores.
No final de 2017 e início deste ano, a Biblioteca recebeu cartas de Laéssio Rodrigues, que imediatamente foram entregues à PF, onde ele relatou detalhes do furto quer cometera. duardo Saron explicou que o Itaú comprou as peças em 2005, do pesquisador Ruy Souza e Silva, que apresentou recibo de compra de uma casa em Londres e que nunca nem se imaginou que elas pudessem ter sido furtadas. (Jornal do Brasil)