Mais de 30 milhões de brasileiros não têm água tratada. Quase metade da população do país não tem esgoto coletado e apenas 42% desse esgoto coletado é tratado. Quatro milhões de habitantes ainda não têm acesso a banheiro. Os dados são do Instituto Trata Brasil e refletem a situação do saneamento básico no Brasil.
Nossa equipe de reportagem esteve nos estados do Pará, Amapá, Distrito Federal, Alagoas e São Paulo para retratar as diferentes realidades do saneamento básico do país. O programa mostra que a falta de saneamento básico pode trazer uma série de doenças e causar vários impactos ao meio ambiente.
Com pouco mais de 500 mil habitantes, o município de Ananindeua, no Pará, ocupa a pior colocação no ranking do Trata Brasil de coleta e tratamento de esgoto e distribuição de água. Nossa equipe esteve no município para conhecer como vive a população: apenas 2,09% do esgoto da cidade é coletado. Uma realidade que Maricélia Moura dos Santos conhece bem. A diarista mora em uma palafita na comunidade de Riacho Belo e não tem coleta de esgoto nem acesso à água tratada.
Uma realidade diferente da que vivem os moradores da cidade de Franca, interior de São Paulo. O município ocupa o primeiro lugar no ranking do Trata Brasil em saneamento básico. Por lá, 98% do esgoto é coletado e 100% dele é tratado. O contraste entre Ananindeua e Franca pode ser observado também nos gastos com a saúde. Ainda segundo dados do Trata Brasil, de 2007 a 2015, Ananindeua investiu mais de R$ 20 milhões no tratamento de doenças como diarreia e leptospirose, enquanto Franca gastou menos de R$ 500 mil no tratamento desse tipo de doença no mesmo período.
“Você vê crianças pequenas morrendo de diarreia. É uma coisa que a gente já deveria ter ultrapassado. Diarreia é falta de saneamento”, afirma a professora Vânia Neu, da Universidade Rural da Amazônia, ao explicar ainda como a falta de saneamento básico contamina o meio ambiente. Vânia mostra que soluções simples podem mudar a vida de quem sofre com a falta de saneamento básico. Junto com sua equipe de pesquisa, ela desenvolveu um sistema de coleta de água da chuva e um banheiro ecológico para os ribeirinhos da Amazônia.
Também banhada pelo rio Amazonas, a capital do Amapá, Macapá, tem baixas taxas de distribuição de água, coleta e tratamento de esgoto. A repórter Ana Graziela Aguiar esteve na Unidade de Pronto-Atendimento (UPA) da cidade para mostrar os reflexos da falta de saneamento básico na população. Também na cidade, abordamos o desperdício de água: segundo pesquisa do Trata Brasil, Macapá é a cidade que mais desperdiça água no Brasil. Quase 70% de toda a água tratada não chega ao seu destino.
O Caminhos da Reportagem ainda esteve na cidade de Joaquim Gomes, no interior de Alagoas, para saber como a falta de saneamento básico afeta a vida nas escolas. Em duas delas, escolas indígenas, crianças estudam sem acesso à água tratada e sem esgoto coletado. O esgoto do banheiro vai para fossas, que estão cheias. E as fossas ficam perto do poço de onde toda a água é retirada. “Não ter água potável, não ter acesso a saneamento e não ter cozinha, por exemplo, dentro da escola, levam a uma redução de frequência das crianças e uma percepção de que a escola não é um lugar que as acolhe da maneira que elas merecem e devem ser acolhidas”, avalia Ítalo Dutra, chefe de educação do Unicef no Brasil. (Tv Brasil)