A mineradora Anglo American promete divulgar nos próximos dias laudo indicando as causas de dois vazamentos em um período de 17 dias em tubulações do mineroduto da empresa em Santo Antônio do Grama, na Zona da Mata mineira. O segundo incidente ocorreu anteontem à noite, e levou o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Renováveis (Ibama) a interditar mais uma vez as operações da empresa, que agora ficarão paralisadas por pelo menos 30 dias. A companhia já decidiu dar férias coletivas a funcionários. A retomada das atividades só deve ocorrer depois de um pente-fino a ser feito ao longo de toda a extensão do mineroduto – 529 quilômetros a partir de Conceição do Mato Dentro, na Região Central de Minas, até o Porto do Açu (RJ).
O vazamento da polpa de minério (composta por 70% de minério e 30% de água) ocorreu por volta das 18h55 de quinta-feira, e durou entre cinco e oito minutos, segundo a empresa. Foi detectada uma trinca longitudinal na tubulação localizada 400 metros à frente do duto que teve problema semelhante no último dia 12, durante 25 minutos. Duas universidades estão atuando no estudo metalúrgico que poderá definir as causas dos incidentes. De acordo com o presidente da Anglo American, Ruben Fernandes, o mineroduto, que tem quatro anos de operação, deveria funcionar sem problema algum durante 15 anos.
Em entrevista coletiva ontem à tarde, ele explicou que, na ocasião anterior, foi trocada a tubulação afetada e feita inspeção em dutos próximos. “Bombeamos água nos tubos durante três dias como forma de teste e para garantir que o mineroduto estivesse estancado. Passamos um aparelho ultrassom nos dutos adjacentes e nada demonstrou que não podíamos retomar as operações com segurança. Solicitamos autorização do Ibama para fazê-lo gradualmente. Estávamos no primeiro dia dessa retomada, que seria feita plenamente em três dias. Agora, a empresa só volta a operar depois de inspecionar os 529 quilômetros”, afirmou.
A Anglo American informou que vai negociar com sindicato e seguir os trâmites do Ministério do Trabalho para férias coletivas de parte de seus empregados em Conceição do Mato Dentro. São 4 mil em todo o país, 2,5 mil deles na cidade mineira, mas ainda não se definiu quantos funcionários ficarão parados. A medida vai atingir aqueles que estão nas operações de mina e de planta de beneficiamento de minério.
Um plano de inspeção maior estava previsto para os próximos meses, mas, diante da urgência, será adequado para entrar em vigor imediatamente, de acordo com a mineradora. A avaliação contará com um equipamento de ultrassom chamado PIG, que age dentro da tubulação para verificar falhas. “A verificação de toda a extensão foi feita uma vez, antes do início da operação, em 2014. A recomendação de especialistas da indústria é fazer a cada cinco anos”, explicou Ruben Fernandes.
Por dia, a empresa produz 50 mil toneladas de minério. O presidente não informou quanto já foi gasto nas duas operações de contenção, afirmando apenas que os valores estão sendo contabilizados. A inspeção ficará a cargo de uma empresa independente. Uma segunda deverá ser contratada, atendendo a requisição do Ibama.
Neste segundo vazamento, 174 toneladas da polpa de minério foram carreadas para o Córrego Santo Antônio – antes, foram 300 toneladas (o equivalente a um caminhão de minério). Parte do material ultrapassou o leito e atingiu uma fazenda vizinha. A empresa disse que se responsabilizará pela recuperação da área, bem como de outras propriedades que foram ou vierem a ser atingidas.
Também se comprometeu a dar suporte e a retirar vizinhos que não se sintam à vontade em ficar em seus imóveis durante os reparos. Ao contrário do que ocorreu na primeira quinzena do mês, quando os moradores da cidade ficaram três dias sem água, de acordo com a companhia não houve desabastecimento à população, pois agora a captação é feita pelo Rio Salgado.
Segundo o presidente da empresa, a falha foi detectada por uma equipe que fazia a inspeção e avisou a sala de controle do mineroduto, estancando o vazamento. Ao mesmo tempo, um morador vizinho ao empreendimento comunicou o fato ao Fale Conosco da empresa. Em notificação enviada às 22h29 de anteontem à empresa, o Ibama informou que a autorização de retomada de atividades dependerá da apresentação dos resultados da inspeção dos tubos e da passagem dos equipamentos para detecção de possíveis anomalias, além de “laudo técnico assinado por profissional habilitado que ateste que o duto e estruturas associadas ao mineroduto apresentam condições de integridade e segurança para voltar a operar”.
Em caso de falhas e fragilidades, a empresa deverá fazer os reparos necessários. O Ibama deu ainda prazo de 48 horas para a Anglo American apresentar laudo com descrição dos danos provocados em decorrência do acidente e detalhamento das medidas de mitigação, controle e reparação feitos pela empresa. A Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad) informou que uma equipe do Núcleo de Emergência Ambiental (NEA) foi ao local para avaliar a situação e adotar as medidas ambientais cabíveis. (Estado de Minas)