Para evitar que uma superoferta de frango no mercado nacional derrube ainda mais o preço do produto, as empresas do setor se preparam para dar férias coletivas em diversas de suas plantas, reorganizar a cadeia de produção e repassar centenas de ovos, que seriam fecundados, para o comércio e para a indústria.
Os ovos não vão virar omelete por acaso. Desde março, o setor tem de lidar com um autoembargo imposto pelo Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento aos países da União Europeia contra plantas brasileiras, a maioria delas da BRF, após denúncias de presença de salmonela em produtos. Grande parte da produção que iria para o exterior ficou no Brasil e o impedimento às exportações ocorreu em um momento em que o consumo interno ainda não se recuperou da recessão.
Dona das marcas Sadia e Perdigão, a BRF dará férias coletivas de 30 dias aos funcionários da linha de abate de aves da planta de Rio Verde (GO) e aos da linha de produção de Carambeí (PR), a partir de maio. As unidades de Mineiros (GO) e de Capinzal (SC) também sofreram ajustes. A Aurora anunciou férias coletivas em uma unidade de Santa Catarina, em junho. “Ainda que esteja em níveis aceitáveis, a produção foi afetada pelo retorno do produto não exportado. As férias coletivas são um indicativo da apreensão”, diz Ricardo Santin, vice-presidente da Associação Brasileira de Proteína animal (ABPA).
As exportações caíram 8% em janeiro e 5% em fevereiro. O Brasil é o maior exportador de carne de frango do mundo. Com mais frango no mercado nacional, o preço do produto resfriado vendido no atacado caiu 17% em São Paulo desde novembro, aponta o Cepea. Para o consumidor, o preço do quilo da ave na cesta básica também caiu: está 11% mais barato, segundo o Procon-SP, fechando fevereiro a R$ 5,20.
Quem nasceu primeiro. A crise no setor preocupa principalmente os produtores integrados – que recebem os pintinhos com um dia de vida, a ração e a assistência técnica para fazer a engorda dos animais até o abate. Como são remunerados pela produtividade, eles dependem de uma demanda forte do mercado pela carne de frango. “Se perguntar para o produtor, ele vai dizer que já há uma hiperoferta”, diz Euclides Costenaro, integrado da BRF em Rio Verde. “A cadeia de frango é como um transatlântico: quando um mercado deixa de comprar, levam-se meses para mudar a rota e reajustar. A superoferta pode durar até o meio do ano.” A tendência, na avaliação de especialistas, é que o preço do frango continue em queda pelos próximos dois meses. O dos ovos também pode cair, embora o impacto da oferta maior do produto seja menos significativo.
Decisão. Segundo o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, a Comissão Europeia vota na quarta-feira sobre as restrições às exportações de carne de aves do Brasil aos países do bloco. (O Tempo)