Em novo depoimento à Polícia Federal na última quinta-feira (19), o empresário Joesley Batista afirmou ter repassado R$110 milhões ao senador Aécio Neves, do PSDB, durante a campanha presidencial de 2014.
Joesley teria confirmado repasses milionários ao tucano, e que estariam ligados à atuação de Aécio Neves em negociatas do grupo J&F. O repasse do dinheiro, de acordo com o depoimento de Joesley Batista, teria sido dividido pelos tucanos em partidos que apoiaram a candidatura de Aécio Neves à Presidência da República em 2014.
Para comprovar os repasses, Joesley entregou aos investigadores, uma planilha de “doações”, notas fiscais e recibos que comprovariam que o dinheiro foi repassado via doações oficiais, e outra parte por caixa dois. O senador, Aécio Neves, negou qualquer irregularidade nas relações com o dono da J&F.
O empresário, na condição de colaborador, foi interrogado e serviu como complemento de um interrogatório realizado no dia 26 de março, que também teve o senador tucano como alvo. De acordo com o jornal “A Folha de S. Paulo”, em outro depoimento prestado pelo dono da empresa, Joesley revelou ter pago uma mesada de R$50 mil ao tucano durante dois anos.
O dinheiro teria sido repassado através de uma rádio da qual o senador é sócio. Joesley Batista revelou que os pagamentos teriam sido solicitados diretamente por Aécio Neves em um encontro no Rio de Janeiro, e que ele usaria o dinheiro para custos de suas despesas. Joesley entregou 16 notas fiscais dos anos de 2015 a 2017 pela Rádio Arco Íris, afiliada da rádio Jovem Pan, em Belo Horizonte.
Joesley Batista revelou que os valores eram mais expressivos do que os R$50 mil da pesada paga ao tucano. De acordo com o empresário, os R$110 milhões foram divididos entre o PSDB e dois partidos que integravam a coligação com o senador. Os tucanos teriam ficado com R$64 milhões.
O PTB, do ex-deputado Roberto Jefferson, teria recebido R$20 milhões. O Solidariedade, do deputado Paulinho da Força, levou R$15 milhões. O resto do dinheiro teria sido dividido entre campanhas de políticos ligados ao PSDB, que apoiariam a candidatura do senador.
O empresário, para comprovar a acusação, entregou uma planilha de “doações” e notas fiscais com o intuito de simular a prestação dos serviços. Esse documento seria mais detalhado do que as provas que a Odebrecht teria apresentado pelos executivos.
O depoimento de Joesley Batista foi levado no âmbito do segundo inquérito contra o senador tucano em decorrência da delação dos executivos da J&F. A defesa de Joesley Batista apresentou à Procuradoria Geral da República, em agosto de 2017, 32 anexos que complementam episódios já relatados pelos delatores da empresa. O caso da rádio de Aécio Neves foi um dos episódios. O empresário já compareceu seis vezes para depor aos investigadores sobre os episódios que constam os anexos complementares.
Segundo Joesley, em relato aos investigadores, ele aceitou repassar o dinheiro a Aécio nas eleições de 2014 porque o tucano era um “candidato em ascensão, e provavelmente seria presidente da República”. O acordo foi feito porque era o principal adversário do PT e da ex-presidente Dilma Rousseff. Os valores seriam pagos no primeiro turno e no segundo turno das eleições.
Joesley afirma ter sido procurado por Aécio Neves após as eleições, quando pediu mais R$18 mihões para cobrir dívidas de campanha. A transação seria mascarada através de uma compra de um apartamento em Belo Horizonte, e seria intermediado por Flávio Jacques Carneiro, um dos donos do jornal “Hoje em Dia”.
A defesa de Aécio Neves tenta provar que o senador foi vítima de uma armação do empresário para obter um acordo de delação premiada. Boa parte das acusações contra Aécio Neves já consta nos depoimentos de Joesley. Agora ele detalhou todos os repasses e apresentou todos os documentos para reforça o relato.
Leia nota de Aécio Neves na íntegra
A Defesa do senador Aécio Neves considera que se trata de mais uma demonstração da má-fé e do desespero do delator Joesley Batista na tentativa de manutenção do seu extraordinário acordo de delação, atualmente sob risco de ser anulado.
O senador jamais fez qualquer pedido nesse sentido ao delator, da mesma forma que, em toda a sua vida pública não consta nenhum ato em favor do grupo empresarial.
O sr. Joesley Batista se utiliza de uma relação comercial lícita mantida entre empresas de seu grupo e um veículo de forte inserção no mercado mineiro para forjar mais uma falsa acusação.
Ao dar início à negociação de acordo de delação, delatores se comprometem a suspender qualquer prática irregular.
Prova de que o contrato com a emissora foi uma relação comercial legal e desprovida de qualquer conotação pessoal é que o contrato foi mantido normalmente, até a data do seu encerramento.
A afirmação do delator de que não sabia se os serviços teriam sido prestados, demonstra o alcance da sua má-fé, já que bastaria uma consulta ao setor de comunicação das suas empresas para constatar que os serviços foram correta e efetivamente prestados.
A falta de credibilidade e as sucessivas mentiras e omissões praticadas pelo delator levaram a PGR a pedir a rescisão dos benefícios de sua delação e contribuem para desqualificar mais uma mentira desse cidadão, réu confesso de mais de duas centenas de crimes e pelos quais o Brasil espera que ele venha a responder.
Alberto Zacharias Toron
Advogado
*Com Jornal O Tempo