Um dia após o pedido de impeachment ter sido acatado pela mesa diretora da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), o governador Fernando Pimentel (PT) manteve a agenda de viagem pelo Triângulo Mineiro. Ele chegou a ser orientado a desistir de vir para Uberaba devido ao que ele chamou de “incidentes” na Assembleia, se referindo à formação da comissão especial para examinar a denúncia por crime de responsabilidade. Ainda assim participou de dois eventos voltados ao agronegócio.
Pimentel avaliou, no entanto, que a presença dele junto aos produtores de gado e cana era estratégica enquanto governador de Minas Gerais. Em sua fala, ele ressaltou que é o setor que tem feito o Estado manter “essa estabilidade que faz inveja à maioria dos Estados brasileiros”. Ao discursar aos ruralistas, o governador citou que os serviços públicos, como segurança, saúde e educação, estão funcionando bem, e que as prefeituras estão cumprindo o seu papel.
A denúncia que pode culminar no impeachment do governador pontua que Pimentel reteve repasses dos duodécimos orçamentários aos Poderes Legislativo e Judiciário; confiscou depósitos judiciais; realizou o parcelamento e atrasou o pagamento de servidores; reteve recursos de ICMS e IPVA destinados aos municípios e valores devidos a bancos de empréstimos consignados.
Para fugir das perguntas mais incisivas da imprensa, ele escolheu uma saída estratégica pela porta lateral da sede da Associação Brasileira de Criadores de Zebu (ABCZ), de onde seguiu para um almoço na Fazenda Santa Vitória, do Grupo CMAA, para participar da cerimônia de abertura da safra de cana de açúcar e etanol, promovida pela Siamig.
Nesse evento, ficou evidente o racha mineiro entre o PT, partido do governador, e o MDB do vice-governador Toninho Andrade, que preferiu sentar-se em outra mesa juntamente com o ex-governador de São Paulo e presidenciável Geraldo Alckmin (PSDB), o senador e pré-candidato ao governo de Minas Antonio Anastasia (PSDB), o deputado federal Marcos Montes (PSD) e o prefeito de Uberaba Paulo Piau (MDB).
Enquanto isso, Fernando Pimentel se posicionou ao lado do presidente da ALMG, Adalclever Lopes, e do presidente do Conselho da Companhia Mineira de Açúcar e Álcool (CMAA), José Francisco dos Santos, com quem chegou ao evento, se posicionando ao lado do ex-ministro de Transportes Anderson Adauto e do presidente da Siamig, Mário Campos.
O distanciamento foi comentado pelo próprio Fernando Pimentel em seu discurso aos representantes do setor sucroalcooleiro. Sem citar nomes, ele disse que iria matar a curiosidade da imprensa ao explicar porque ele havia se posicionado ao lado do presidente da Assembleia, enquanto em outra mesa estavam companheiros de outros partidos, em um clima de cordialidade e amizade. “Com certeza devem estar se perguntando, o que isso significa, o que isso quer dizer. Então vou responder com um verso simples de Carlos Drummond de Andrade, nosso poeta maior. ‘Minas o que é? Só os mineiros sabem, mas nem assim mesmo confessam o irrevelável segredo de Minas’. Continuem vivendo com os segredos de Minas”, encerrou.
Antes de partir direto para Belo Horizonte, questionado pela imprensa como recebeu a notícia do pedido de impeachment acatado pela Assembleia, Pimentel disse não estar nem um pouco preocupado, e não comentou se haverá mudanças nas alianças políticas a partir de agora, tendo em vista a proximidade das eleições de 2018.
O presidente da ALMG Adalclever Lopes comentou ser cedo para apontar os rumos do impeachment. Segundo ele, em todos os casos, o pedido é recebido pela mesa diretora, com a formação de uma comissão que depois analisa se o pedido tem procedência ou não. “Então será como todos os outros, a comissão que vai analisar [o pedido] será escolhida entre os líderes e aí sim, o conteúdo quem vai analisar é a comissão”, afirmou. Adalclever Lopes não quis opinar sobre o caso e disse que o resultado dependerá das provas a serem analisadas com muito critério pela comissão.(O Tempo)