Aos 55 anos, Maria Aparecida da Silva entrou em uma faculdade no começo deste ano, em Uberlândia, no Triângulo Mineiro. Na mesma época, Vitor Maia Gontijo, 22, ingressou em uma instituição em Itaúna, na região Central. Esse é o primeiro contato deles com o universo acadêmico, mas, em vez dos estudos, a oportunidade está vindo do trabalho. Ela é auxiliar de limpeza, e ele, bibliotecário. Os dois estabelecimentos de ensino foram inaugurados em 2016. No mesmo ano, outras nove foram abertas em Minas Gerais. Das 11 cidades que receberam uma nova faculdade, quatro estão entre as dez que mais geraram empregos com carteira assinada entre todos os 853 municípios mineiros.
Um cruzamento de dados do Ministério da Educação (MEC) e do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) revela ainda que, dessas 11 cidades que receberam uma instituição de ensino superior no Estado recentemente, sete registraram um saldo positivo de contratações e demissões. Essa relação entre a chegada de um centro educacional e o crescimento econômico comprova que o papel de uma faculdade vai muito além do diploma.
“A faculdade mudou a minha vida. Antes eu era diarista, agora tenho estabilidade. Todo dia aprendo alguma coisa”, conta Maria. Ela conseguiu um emprego de carteira assinada com a inauguração da Passo 1. O campus fica em Uberlândia, primeira cidade no ranking mineiro do saldo de empregos do Caged do ano passado.
“Eu morava em Crucilândia, e lá estava muito difícil arrumar emprego. Sabíamos que Itaúna era maior e, com a faculdade, tinha mais possibilidade para estudo e trabalho, então me mudei com a família. Consegui emprego como bibliotecário na Famart, e só esse contato já me fez ter vontade de fazer curso superior”, conta Maia. A instituição fica em Itaúna, quarto lugar no ranking do Caged.
Junto com os cursos superiores, instituições como essas – principalmente em cidades pequenas e médias – levam mais emprego, aumentam a renda e criam mais demanda para comércio e serviços.
Segundo estudos da Associação Brasileira das Mantenedoras de Ensino Superior (Abmes), uma cidade com uma faculdade pode ter o Produto Interno Bruto (PIB), em média, até seis vezes maior do que localidades que não possuem nenhuma instituição. O levantamento de 2014 considerou municípios de até 50 mil habitantes com unidades privadas de até 3.000 alunos. No entanto, na avaliação do diretor executivo da Abmes, Sólon Caldas, a proporção ainda é atual.
“Os números absolutos podem ter mudado, mas, certamente, essa proporção se mantém, pois a presença de uma instituição de ensino superior promove a qualificação da mão de obra, o que aumenta a média salarial e, consequentemente, eleva a renda per capita. A melhoria não vem só para quem estuda, pois a qualidade de vida cresce de maneira geral. Tudo isso faz o PIB ter aumento expressivo”, ressalta Caldas.
Muito mais do que recursos financeiros
Pela teoria econômica, o desenvolvimento depende de muito mais coisas do que apenas recursos financeiros. “O crescimento depende da oferta de boa infraestrutura, de bom ambiente de negócios e de capital humano. A relação entre a presença de uma faculdade com um PIB maior vai ao encontro dessa teoria. A região vai atrair novos investimentos, pois uma empresa sempre vai preferir se instalar onde há mão de obra capacitada. Essas novas indústrias vão gerar mais empregos”, afirma o professor de economia da IBS/Fundação Getúlio Vargas (FGV) Flávio Correia.
“Não dá para entender por que o governo continua investindo mais em políticas de subsídios, como desoneração da folha ou concessão de empréstimos via BNDES para instituições como a JBS, por exemplo, e não investe mais em educação, que geraria muito mais desenvolvimento”, questiona Correia.
Espera por mais cursos já estimula construção
Desde que a Favenorte abriu uma unidade em Porteirinha, no Norte de Minas, em 2016, a cidade de 40 mil habitantes já tem registrado aquecimento. Por enquanto, são 40 vagas para design de interiores e 40 para processos gerenciais. Mas a faculdade está em processo de certificação no MEC para abrir medicina veterinária, psicologia e fisioterapia, com 80 vagas cada. Hoje, a faculdade gera 20 empregos, e esse número deve dobrar com a expansão.
“Já vemos mais gente morando na cidade, o que aumenta o consumo. Só com a expectativa de aprovar os novos cursos, os terrenos no bairro estão valorizando. Tem lote que subiu de R$ 50 mil para R$ 80 mil. Muita gente já pensa em construir para alugar para os alunos”, conta a coordenadora da Favenorte, Maria Dolores Pereira de Araújo.
Essa é a aposta de Dilermando Santana, que já está construindo em cima de seu depósito de material de construção, em frente ao campus. “Estou fazendo três apartamentos e preparando a estrutura para quitinetes. Só ao redor, com todos que estão fazendo o mesmo, calculo uns 15 apartamentos”, diz. (O Tempo)