Foi da varanda da cabine 13045 do cruzeiro MSC Preziosa que René Maurício Loeb viu o Brasil pela última vez. Era 8 de abril, em Santos, no litoral de São Paulo. E o doleiro investigado pela Lava Jato, acusado de envolvimento na movimentação de cerca de R$ 1 bilhão no mercado negro do dólar, seguia para a Europa numa embarcação com escadas adornadas com cristais Swarovski e piscina com borda infinita.
Para os procuradores do Ministério Público Federal (MPF), começava aí a fuga que fez Loeb se transformar em mais um foragido da Operação “Câmbio, Desligo”, fase da Lava Jato do Rio que desarticulou o esquema criminoso comandado por outro doleiro, Dario Messer, considerado o “doleiro dos doleiros” – e que também é um fugitivo.
A defesa de Loeb nega que o cliente tenha tentado driblar a Justiça. Alegou que “a viagem por mar deveu-se ao precaríssimo estado de saúde” dele. E que o investigado foi procurar “tratamentos possíveis” no exterior para a fibrose pulmonar idiopática, “inconformado com a ideia de simplesmente aguardar a morte”. Atestados médicos anexados ao processo confirmam a enfermidade – e a contraindicação para viagens de avião.
O MPF não acreditou. Achou curioso o fato de o doleiro ter escolhido a Alemanha, país em que é cidadão, para procurar ajuda. E que “nada foi localizado a respeito de tratamentos inovadores no sistema europeu de saúde que não sejam realizados no Brasil”.
Defesa tenta reverter prisão
Ao defender que a Justiça não revogue o mandado se prisão de Loeb, os procuradores afirmaram ainda que “não se concebe que um paciente em risco tão grave de vida consiga embarcar em um cruzeiro comercial, sem qualquer recurso médico específico ou cuidados diferenciados”.
Os advogados do doleiro, por outro lado, pedem ao juiz Marcelo Bretas, responsável pela Lava Jato no Rio, que a ordem de prisão seja cancelada. Alegam que no dia da viagem, 8 de abril, mais de 20 dias antes da operação, ninguém sabia da existência da investigação.
Há consenso entre os membros da Lava Jato que a ação vazou semanas antes da deflagração. E que isso até era esperado, na medida que os principais delatores do esquema desvendado precisaram sair seguidamente da cadeia para depor – em movimentação que, assim que notada pelos demais detentos, começa a gerar hipóteses.
Os dois delatores, Vinicius Claret e Claudio Barbosa, eram os principais administradores da rede de doleiros. Messer era o alvo óbvio de seus subordinados.