Na estreia nos cinemas, há dois anos, Deadpool surgiu como um super-herói irreverente e com quase nenhum traço de altruísmo. Na continuação em cartaz nos cinemas, o personagem da Marvel amplia a dose de zombaria para se tornar um comentarista cômico do atual momento dos defensores da Justiça no cinema.
Coincidência ou não, o filme que iniciou essa onda de heróis saídos dos quadrinhos (“Homem de Ferro”) completou dez anos de lançamento. Como é comum em diversos ciclos no cinema, o humor aparece como um sinal de esgotamento da fórmula, embora, neste caso, as altas bilheterias ainda garantem longa vida aos justiceiros.
O segundo filme protagonizado por Deadpool cumpre bem a função de, a partir da comicidade, passar a limpo essa história, não só abarcando o universo da Marvel como também o da concorrente DC Comics. À certa altura, o mercenário tagarela diz que um determinado personagem é tão dark quanto as crias da DC.
O peso da culpa é um dos principais ingredientes que distingue a incursão das duas editoras no cinema, além da falta de uma relação cronológica entre as diferentes franquias, erro cometido pela DC. Esta questão que é levada a sério pela Marvel, a ponto de Deadpool viajar no tempo para matar o seu “eu” em “X-Men Origens: Wolverine” (2009).
Também é muito representativo que (mais um spoiler) o boca-suja elimine nada menos que Ryan Reynolds na época em que se preparava para protagonizar outro herói, o Lanterna Verde, gabando-se de ter feito um bem ao Canadá–o ator, além de ser o dono do papel de Deadpool, é nascido em Vancouver.
Os comentários irônicos prosseguem quando ele critica o fato de Wolverine tê-lo copiado em “Logan” (2017), devido à classificação do filme – acima de 16 anos. Esse “lado de fora” das histórias é abordado de forma constante, num divertido exercício de metalinguagem para quem conhece as referências.
Não raro Deadpool vira para a câmera e comenta as opções dos criadores, tachando de “roteiro fraquinho” quando se depara com algum expediente já usado em outros filmes (as viagens no tempo de “O Exterminador do Futuro”, por exemplo). Como é tudo muito rápido, não dá tempo de interromper o ritmo da ação.
E as referências extrapolam o universo dos super-heróis. A melhor delas é quando imita as aberturas estilizadas dos filmes de espionagem de 007. Outra “homenagem” hilária é a famosa cruzada de pernas de Sharon Stone em “Instinto Selvagem” (1992), em que deixa aparecer mais do que deveria. (Hoje em Dia)