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Uma professora que entra em pânico toda vez que pensa na possibilidade de perder a mãe. Um estudante que não levanta da cama enquanto a melhor amiga não entra em contato. Uma blogueira que só toma alguma atitude com aprovação do namorado. As três situações se incluem no diagnóstico de dependência emocional, estado em que a pessoa precisa de atenção constante de determinado amigo, parente ou namorado para se sentir bem e segura.
É uma espécie de compulsão afetiva que pode ocorrer em qualquer tipo de relacionamento. Muitas vezes, é consequência de uma infância conturbada ou de experiências traumáticas.
No caso da professora de inglês Raquel Hissink, 36, a dependência emocional acontece em relação à mãe, que é idosa – 75 anos – e mora sozinha. A situação se agrava quando ela viaja para a Holanda, onde vive o marido. “Minha mãe não sabe que sofro isso. Quando estou longe, não consigo dormir nem fazer mais nada. Ligo de cinco em cinco minutos para saber como ela está. Se ela não responde, ligo para todos os vizinhos atrás dela até saber que está tudo bem”, diz Raquel, que chegou a se consultar com uma psicóloga, mas desistiu por não suportar vivenciar o medo durante as sessões.
Inatas ao ser humano, as emoções podem entrar em desequilíbrio, fugindo dos padrões da normalidade, afirma o psicólogo Gustavo Teixeira, mestre em análise comportamental pela PUC-SP. “Todos nós somos, naturalmente, carentes de afeto, e isso não é errado. Mas sentir falta de alguém deve ser algo saudável e, não um vício”, diz. Ele explica que o excesso emocional pode provocar situações de ansiedade, medo da separação e abandono, bem como falta de confiança e insegurança.
Pesquisa da Universidade de Almería, na Espanha, mapeou três aspectos ligados ao problema: ansiedade de separação (medo terrível de abandono), expressão afetiva (insegurança e desconfiança em relação ao amor do outro) e medo da solidão (receio de não ter um parceiro romântico). Como resultado, constatou-se que o medo da solidão atinge 80% dos homens e 20% das mulheres; a expressão afetiva está presente em 66,5% do público masculino e em 33,5% do feminino; e a ansiedade de separação afeta os dois gêneros da mesma forma. “Os dados nos levam a acreditar que as pessoas demonstram insegurança e desconfiança em relação aos sentimentos que seus parceiros têm sobre eles e precisam que isso seja constantemente expresso para que se sintam seguros”, escreveram os pesquisadores.
Sentimentos esses vividos pelo estudante Yuri Alves, 23, há dois anos. “Eu só tenho vontade de levantar da cama quando minha melhor amiga fala comigo. Se não há contato, eu me sinto sozinho, e meu dia fica horrível”, afirma. Alves diz que a moça não sabe da situação. “Fico com receio de assustá-la, e ela acabar se afastando de mim. Tento disfarçar para que ela não perceba que meu ritmo de vida depende da sua presença”, relata o rapaz, que não faz nenhum acompanhamento psicológico.
Medo do abandono. A blogueira Quéren Hapuque, 19, conta como sofreu no namoro. “Ele me mandava excluir perfis das redes sociais, não usar determinadas roupas e deixar de falar com amigos meus porque dizia que não era necessário nada disso”, diz ela, que detalha como se sentia: “Eu tinha muito medo de perdê-lo, de ser abandonada por ele. Para mim, ele era a minha vida. Eu obedecia para agradá-lo, porque achava que o amava de verdade”, lembra Quéren.
A jovem nunca chegou a procurar ajuda profissional, mas afirma que lida melhor com a dependência depois de passar por outros relacionamentos.
Comportamento é parecido com vício em drogas
Os comportamentos de quem sofre de compulsão afetiva podem ser comparados àqueles que se envolvem com o uso de drogas ilícitas e de álcool, por exemplo. De acordo com o psiquiatra Raul Gonçalves, um dependente emocional costuma apresentar comportamentos problemáticos e desajustados, que comprometem sua vida, sua rotina e todas as suas relações.
“As emoções têm a capacidade de nos motivar a assumir determinadas posturas comportamentais e, fugindo ao controle, podem resultar em uma série de enganos. Por trás dos casos de dependência emocional, há motivações pessoais que precisam ser tratadas para o restabelecimento integral”, explica o psiquiatra.
Ele explica que a falta de ajuda profissional pode ter consequências sérias. “Essas pessoas têm mais chance de serem abusadas por indivíduos agressivos, de ficar em empregos insatisfatórios e estressantes e de permanecer em relacionamentos abusivos, além de desenvolver outros tipos de dependência”, afirma. (O Tempo)