O presidente da Federação das Indústrias de Minas Gerais (Fiemg), Flávio Roscoe, admitiu ontem que os efeitos da greve dos caminhoneiros para a indústria local podem levar à demissão de trabalhadores, justamente num momento em que o setor vinha registrando recuperação, mesmo que tímida, dos níveis de emprego.
Os motivos seriam não apenas as incertezas geradas entre empresários e investidores e os prejuízos financeiros acarretados de imediato pela greve da semana passada – estimados, por enquanto, em cerca de R$ 12 bilhões para a economia estadual e em R$ 2,5 bilhões apenas na indústria.
Entrariam na equação, segundo Roscoe, medidas propostas pelo governo federal para compensar a redução de impostos sobre o preço do litro de óleo diesel em R$ 0,46. Especialmente, a reoneração da folha de pagamento de diversos setores e a redução da alíquota do Reintegra, programa que devolvia 2% do valor exportado em produtos manufaturados através de créditos de PIS/Cofins e cujo percentual passa agora para 0,1%.
“Tudo leva a crer que vai haver perda de competitividade da indústria mineira e isso pode acarretar em demissões”, afirmou Roscoe. Segundo ele, em relação à reoneração da folha, em Minas, mais de 191 mil empresas devem ser atingidas. Juntas, elas representam uma massa salarial de R$ 3,5 bilhões e 1,7 milhão de trabalhadores. Apenas na indústria de transformação, são, no Estado, 23,8 mil empresas, com R$ 10 bilhões de massa salarial e 442 mil empregos.
“Julgamos a decisão quanto ao Reintegra equivocada, pois ela vai diminuir a dinâmica das exportações brasileiras, reduzir a competitividade no exterior e, consequentemente, a capacidade do Brasil de gerar renda e empregos de melhor qualidade”, ressaltou.
“Já a reoneração da folha vem impactar diversos segmentos que têm concorrentes importados, caso de parte da indústria de Minas, e isso vai provocar prejuízos para todos”, acrescentou.
Em razão da greve dos caminhoneiros, disse ainda Roscoe, somente na arrecadação de ICMS industrial, em Minas, o Estado deixou de receber cerca de R$ 530 milhões com a queda da produção e de vendas no período. “E em alguns setores, a recuperação vai demorar, o que deve continuar comprometendo essa arrecadação”, afirmou.
PIB
A Fiemg anunciou, também ontem, revisão para baixo da estimativa de produção física da indústria mineira em 2018, de 3,3% para -1,5%. As razões são a greve dos caminhoneiros e fatores como a elevação das tarifas da Cemig –de 35% para consumidores de alta tensão.
A entidade destacou que a recuperação econômica ainda é bastante oscilante e a projeção de queda na produção de 2018 é explicada pelo mau desempenho, sobretudo, da indústria extrativa.
Já a projeção para o PIB de Minas foi revista de 2,6% para 1,2%. Ela se justifica também pelo impacto negativo da paralisação dos caminhoneiros, associado à frustração da retomada da produção da Samarco, à estratégia da Vale de redirecionar a atividade de extração mineral para o Pará, à interrupção das atividades da Anglo American no Estado, ao aumento da incerteza política e à redução dos níveis de confiança de empresários e investidores.