Os 10 dias de paralisação dos caminhoneiros tiveram um impacto ainda maior em Minas Gerais quando comparado com o restante do país. A avaliação é da Federação das Indústrias de Minas Gerais (Fiemg), que apresentou ontem a revisão nas expectativas de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) do estado e da produção industrial – já computando o impacto da crise. Enquanto a queda no PIB nacional com a greve que tomou as estradas brasileiras foi estimado em 0,5 ponto percentual, em Minas a queda no PIB foi projetada em 1,4 ponto percentual. Além dos prejuízos na produção, as incertezas sobre o futuro político e econômico adiaram investimentos do setor privado no estado, aponta a entidade.
A previsão de crescimento da economia mineira que era de 2,6% para 2018 passou para 1,2% – a redução foi de mais da metade do crescimento previsto para o PIB no estado. O impacto foi ainda mais assustador na produção industrial física, que tinha projeção de crescer 3,3% até o fim do ano e agora as estimativas já apontam para uma retração de -1,5%.
“A queda para o PIB de Minas foi ainda maior do que a queda nacional. Tivemos a perda de produção em vários segmentos, perda de faturamento e perda de arrecadação de impostos”, explica o presidente da Fiemg, Flávio Roscoe. Segundo ele, a economia mineira conta com uma participação muito grande das indústrias alimentícia, de veículos automotores e da metalurgia, que foram muito impactadas com os 10 dias de greve. “Nossos setores eram mais sensíveis e, por sermos mais industrializados do que outros estados nessas áreas, o impacto foi devastador em Minas”, diz Roscoe.
A dependência quase exclusiva das estradas para escoar a produção mineira foi outro fator que aumentou os prejuízos em Minas. O estado é o que tem maior malha viária no país e, de acordo com a Agência Nacional de Petróleo (ANP), o bloqueio em torno da refinaria Gabriel Passos, em Betim, foi considerado um dos pontos mais complicados durante a paralisação. As estimativas da Fiemg apontam que apenas no setor industrial as perdas durante a greve foram de R$ 2,47 bilhões em Minas.
Fuga de investimentos
Além do impacto com a greve dos caminhoneiros, as projeções para o PIB mineiro em 2018 sofreram também com a mudança de planos de investimentos de grandes mineradoras. Gastos esperados por grandes empresas como a Vale, Samarco e Anglo American não sairão do papel até o fim do ano. Segundo o superintendente de Ambiente de Negócios da Fiemg, Guilherme Velloso Leão, a indústria extrativista mineral tem deixado projetos em Minas, voltando-se para a exploração em outras áreas. “A indústria extrativa tem reduzido o desempenho e também influenciou na revisão do PIB mineiro. O estado tem sido afetado pelo deslocamento da produção de Minas para o Pará”, explica.
O cenário otimista da indústria mineira para 2018 sofreu a primeira revisão e a queda da expectativa na produção foi de quase 5 pontos percentuais. “Em função da grande oscilação nos indicadores, da greve dos caminhoneiros, a área econômica refez as projeções para a indústria mineira. Infelizmente já observamos que a indústria terá números negativos caso o quadro não seja revertido. Saímos de uma projeção de crescimento de 3,3% para uma queda de 1,5%. Sem a indústria, o PIB do estado será afetado”, analisa Leão.
O levantamento da Fiemg aponta com problemas no setor mineral o adiamento da retomada das atividades da Samarco – empresa responsável pelo maior desastre ambiental da história de Minas, em Mariana, no fim de 2015 –, pela interrupção das atividades da Anglo American e pela estratégia da Vale em redirecionar atividades de extração mineral para projetos no Pará. “O setor mineral também tem um peso nessa redução do PIB. As questões ambientais no Pará são mais simples e o minério é mais rico. Então a Vale fez a opção por exportar o minério de lá no lugar de exportar o minério daqui. Nosso modelo de exploração no setor fica em xeque, uma vez que outros estados tem mais vantagens e acabamos perdendo arrecadação importante”, afirma Flávio Roscoe.
Empresário defede o fim da estabilidade
Em meio às péssimas notícias no balanço pós-paralisações dos caminhoneiros, o presidente da Fiemg, Flávio Roscoe, ressaltou ontem que alguns debates precisam ser feitos pelas instituições do país e pela classe política para evitar novas crises. Para Flávio Roscoe é impossível continuar adiando mudanças que precisam ser feitas na administração pública no país. A redução da máquina pública e o aumento da produtividade nos órgãos estatais foram apontadas como questões fundamentais para o futuro do país. O empresário afirmou que vai levar a proposta de acabar com a estabilidade no serviço público para políticos candidatos na eleição de outubro e espera que o tema ganhe espaço na campanha.
“O estado não gera emprego e renda, pelo contrário, ele consome dinheiro e renda. Quando o estado é pouco produtivo, ele mina a capacidade da economia. Nós precisamos discutir a produtividade do setor público. Qual a produtividade de uma pessoa que tem estabilidade garantida no emprego? Com essa estabilidade quem produz ou quem não produz ganha a mesma coisa. E ninguém cobra quem não produz. A estabilidade no emprego tinha que estar no centro das discussões no Brasil. Não vamos ter produtividade enquanto tiver essa estabilidade”, afirma Roscoe.
Segundo o presidente da Fiemg, o apoio da população à greve dos caminhoneiros tem muito a ver com a insatisfação com o retorno dos serviços públicos para a sociedade. Uma vez que os impostos não se revertem em bons serviços prestados ao público – como boa educação, saúde e segurança –, aumenta a insatisfação com o alto preço dos produtos por causa dos impostos.
“Se o estado se apropria de 48% do que nós produzimos e é ineficiente no retorno com os serviços básicos, ele puxa a economia para baixo. Isso tem que estar no cerne de debate. A adesão à greve das pessoas foi um grito de revolta, uma insatisfação contra o sistema. Mas enquanto os movimentos foram de um grupo contra o outro, o governo vai tirar a conta de um grupo (nesta caso os caminhoneiros) e repassar para outro (no caso o resto da sociedade). E a sociedade ficou com uma conta maior”, avalia Roscoe.