Em meio a críticas aos EUA devido à imposição de tarifas comerciais e à saída de acordos internacionais, o presidente americano, Donald Trump, e os líderes dos países industrializados que compõem o G7 devem tentar, neste sábado (09/06), chegar a um consenso para elaborar uma declaração na cúpula anual do grupo.
A reunião de dois dias, realizada em La Malbaie, no Canadá, deveria terminar com um comunicado final que resumisse os pontos de consenso entre os países do G7 – Alemanha, Canadá, Estados Unidos, França, Itália, Japão e Reino Unido, mais União Europeia –, como é tradição. No entanto, divergências com Trump, sobretudo quanto ao comércio, ameaçam o sucesso do documento conjunto.
As tensões provêm em grande parte da decisão do presidente americano de impor tarifas rígidas sobre as importações de aço e alumínio a cinco de seus seis parceiros do G7. Recentemente ele também iniciou uma investigação comercial que poderá provocar tarifas adicionais sobre carros importados.
Além disso, Trump irritou os demais membros do G7 ao retirar Washington do pacto nuclear com o Irã – fechado em 2015 com China, Estados Unidos, França, Reino Unido, Rússia e a Alemanha – e do acordo climático de Paris.
A chanceler federal alemã, Angela Merkel, disse que, diante das diferenças com Trump, não se sabe se uma declaração final será alcançada. Para ela, seria mais sincero reconhecer que os líderes não conseguiram chegar a um consenso sobre todas as questões e seguir trabalhando para superá-las do que fingir que está tudo bem.
Trump, por sua vez, afirmou após uma reunião bilateral com o primeiro-ministro canadense, Justin Trudeau, acreditar que se pode ter sucesso na elaboração de um comunicado conjunto. “Fizemos grandes progressos hoje. Vamos ver como tudo sai”, disse o presidente americano ao lado do colega.
O presidente francês, Emmanuel Macron, também manifestou otimismo. “Acho que tivemos uma discussão muito aberta e direta nesta tarde, sempre tivemos esse tipo de discussão. E acho que quanto ao comércio, há um trajeto crítico, há um caminho para o progresso”, afirmou.
Fontes diplomáticas afirmaram que na segunda sessão de trabalho em La Malbaie, quando foram discutidos temas comerciais, houve uma discussão aberta e muito franca, mas com fortes desacordos quanto a pontos cruciais.
Membros das delegações canadense e europeias sugeriram que o comércio se mantém como um ponto crítico e que declarações separadas poderiam ser feitas sobre outros assuntos.
O presidente da Comissão Europeia, Jean-Cleaude Juncker, e líderes do G7 apresentaram a Trump números para convencê-lo dos benefícios das relações comerciais. O presidente americano, por sua vez, apresentou seus próximos números e insistiu que os EUA estão em desvantagem no comércio internacional, sendo tratados de maneira injusta.
“É evidente que o presidente americano e o restante do grupo continuam discordando quanto ao comércio, às mudanças climáticas e ao acordo nuclear com o Irã”, disse Donald Tusk, presidente do Conselho Europeu.
Já antes do encontro, os aliados tradicionais dos EUA não esconderam sua desaprovação em relação ao curso adotado pro Trump, destacando temores de que ele esteja minando a ordem mundial baseada em regras e empurrando antigos amigos de Washington para uma guerra comercial desastrosa.
A ministra do Exterior do Canadá, Chrystia Freeland, expressou indignação pelo fato de Trump ter usado a segurança nacional como justificativa para impor tarifas sobre importações de aço e alumínio, inclusive a aliados próximos dos EUA, como Canadá e União Europeia.
“Para nós é muito claro que o Canadá não representa uma ameaça à segurança nacional dos EUA, Então, isso [as tarifas] são um ato ilegal. São absolutamente injustificadas. Já levamos a questão à Organização Mundial do Comércio e ao Nafta [ Tratado Norte-americano de Livre Comércio], e vamos retaliar”, alertou.
Trump, que foi o último líder a chegar a La Malbaie, deixará o Canadá antes do encerramento da cúpula, neste sábado, para viajar a Cingapura, onde será realizado um histórico encontro com o líder da Coreia do Norte, Kim Jong-un, na próxima terça-feira. (LPF/dpa/afp/rtr)