Pela primeira vez na história, líderes dos Estados Unidos e da Coreia do Norte se encontram pessoalmente para tentar chegar a um consenso sobre o desmonte do programa nuclear e balístico da fechada ditadura comunista, em troca de alívio econômico para o país hoje afetado por duras sanções. O esperado e histórico encontro de Donald Trump e Kim Jong-un será realizado nesta segunda-feira (11), às 22h pelo horário de Brasília — terça-feira, 12 de junho, às 9h em Singapura. Os líderes já estão no país.
O local escolhido foi o luxuoso hotel Capella, na ilha de Sentosa, que é famosa por suas praias turísticas e seus campos de golfe espetaculares. Singapura designou partes de sua região central como uma “zona especial”, onde os procedimentos de segurança estão mais rigorosos. O espaço aéreo sobre a rica cidade-Estado está temporariamente restrito durante partes dos dias 11, 12 e 13 de junho.
- Reunião começa às 22h desta segunda, pelo horário de Brasília
- Local escolhido é o hotel de luxo Capella, na ilha de Sentosa
- EUA querem fim do programa nuclear norte-coreano
- Coreia do norte quer garantias de segurança e incentivos econômicos
- Resultado pode influenciar na assinatura de acordo de paz entre as Coreias
O que está em jogo?
A reunião debaterá o fim do programa de armas nucleares e balísticas da Coreia do Norte, cujas ambições têm sido uma fonte de tensão há décadas. Além do encontro de Trump e Kim, estão previstas diversas reuniões entre representantes dos dois países ao longo de cinco dias.
Os EUA, temendo o desenvolvimento de mísseis nucleares que poderiam atingir o país, pedem a desnuclearização “completa, verificável e irreversível” da Coreia do Norte. Como resultado, a Coreia do Norte pode comprometer-se a apresentar um relatório sobre o atual arsenal e permitir uma verificação internacional completa.
De sua parte, Kim Jong-un parece tentar salvar a economia norte-coreana que vem sofrendo o impacto das sanções impostas pelos EUA e pela ONU. Ele disse que deseja “avançar para uma desnuclearização da península coreana”, mas por meio de um processo “passo a passo”, com garantias de segurança e incentivos diplomáticos e econômicos.
Analistas apontam que a reunião será uma oportunidade única para Trump causar uma boa impressão como negociador, apesar de sua falta de experiência diplomática. O presidente busca conseguir uma conquista significativa antes das eleições legislativas nos EUA, em novembro. A aposta é arriscada: um fracasso reforçaria a sensação de que Trump não tem a disciplina nem o cacife para realizar discussões internacionais de alto nível.
No sábado (9), Trump disse que qualquer acordo com o líder norte-coreano será “no impulso do momento”, ressaltando o resultado incerto do que chamou de uma “missão de paz”. “Tenho um objetivo claro, mas tenho que dizer — será algo que será sempre no impulso do momento”, disse Trump a jornalistas em uma entrevista coletiva na Cúpula do G7, em Quebec, no Canadá. “Não se sabe. Isso nunca foi feito nesse nível antes”.
Comemorando antes do tempo?
Mesmo antes de seu resultado, o encontro já é celebrado. Singapura lançou uma medalha comemorativa com a inscrição “Paz Mundial” que custa mais de US$ 1.000 em sua versão de ouro. Além disso, há quem diga que Trump merece o Prêmio Nobel da Paz por seus esforços para acabar com o impasse na península coreana. A sugestão foi feita pelo presidente sul-coreano Moon Jae-in e por deputados republicanos.
Moon Jae-in e Kim Jong-un também foram protagonistas de um encontro histórico em abril, quando se comprometeram a assinar um acordo de paz para acabar com a guerra entre as Coreias ainda neste ano. Essa guerra foi interrompida por cessar-fogo, mas nunca teve fim oficial. Mas Jae-in disse que o decreto de paz só poderá ocorrer de fato após a desnuclearização da península, o que segundo ele depende muito dos rumos do diálogo que Kim terá com Trump.
Reunião antes impensável
Depois da chegada de Donald Trump à presidência dos EUA, a Coreia do Norte iniciou uma série de testes de mísseis balísticos e nucleares que provocaram reações enérgicas de Washington e de Seul, novas e firmes sanções internacionais, além de provocar o temor de uma guerra na região.
Parecia impensável que Trump e o ditador norte-coreano aceitassem se reunir, depois de uma série de ameaças e troca de insultos pessoais. Mas em março Trump aceitou o convite de Kim a quem até então chamava de “homem-foguete” e era chamado de “psicopata” e “lunático imprudente”.
Tudo mudou em janeiro, quando Kim mostrou abertura para dialogar com a Coreia do Sul durante seu discurso de Ano Novo. O ditador norte-coreano anunciou que estava disposto a enviar uma delegação aos Jogos Olímpicos de Inverno, que seriam realizados em fevereiro em PyeongChang, no país vizinho.
Mas uma figura essencial nesse processo é o presidente sul-coreano, que chegou ao poder em maio de 2016, disposto a conversar com a Coreia do Norte, revertendo a postura adotada por sua antecessora, Park Geun-hye, que foi presa por corrupção.
Idas e vindas
Mesmo depois de Trump tendo aceitado o convite de Kim feito em março, a reunião ainda teve suas idas e vindas. Em maio, a Coreia do Norte colocou em dúvida realização da cúpula, por conta de exercícios militares conjuntos de Seul com os EUA que seriam realizados, como previsto, mas que via como uma provocação.
Depois, Trump passou a dizer que o encontro poderia atrasar ou não acontecer. Até que no final do mês passado cancelou a reunião, por declarações da Coreia do Norte criticando o vice Mike Pence.
A Coreia do Norte respondeu dizendo que a decisão não estava “alinhada com os desejos do mundo” e que ainda gostaria de resolver suas questões com os americanos. No dia 1º de junho, Trump voltou a confirmar o encontro.