Desde 2014, a comida, a mensalidade da escola, o plano de saúde e a conta de luz encareceram muito, mas a renda das famílias diminuiu. Mesmo descontando a inflação, são R$ 369,9 milhões que estavam no bolso dos mineiros há quatro anos e agora não existem mais. A diferença foi calculada comparando a renda média dos trabalhadores do Estado no primeiro trimestre de 2014 à do mesmo período de 2018, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A queda na renda é uma das consequências da turbulência econômica que o país vive há quatro anos: desemprego, salários menores, informalidade crescendo e Produto Interno Bruto (PIB) encolhido. Números da macroeconomia que impactam na vida das pessoas que precisam se adaptar a uma nova realidade pouco depois de um ápice econômico.
Salário parcelado atrapalha
O encolhimento do PIB do país afeta também o Estado – que arrecada menos – e impacta a vida do servidor público. Em Minas Gerais, desde fevereiro de 2016, a categoria convive com o escalonamento dos salários. Para a servidora pública aposentada Marly Aparecida Rezende, 65, o parcelamento também consome sua receita. “O pagamento vem no dia que eles querem, mas o vencimento das contas continua o mesmo. Tenho que pagar as multas de qualquer forma”, reclama. “Recebi o 13º em quatro vezes, e ainda atrasou três, quatro dias”, acrescenta.
Com isso, o sonho de aproveitar a aposentadoria vai sendo adiado. “Não sei o que é ir ao cinema ou ao teatro. Impossível guardar dinheiro. Viajar, então, nem pensar. O dinheiro vai para contas e remédio”, diz Marly.
Para o economista do Dieese Airton dos Santos, a crise nas contas públicas, que envolve dívida alta e a manutenção do déficit primário, são fatores que alongam a situação. “Sem resolver essas questões, não tem como o governo falar em retomada da economia”, afirma. Em âmbito federal, o quadro se repete. Para o economista e reitor do Centro Universitário Unifor, Reginaldo Nogueira, “as ações do governo para resolver a crise econômica não foram suficientes”. “Um novo déficit público, depois de dois anos acontecendo, é um sinal de que o governo não conseguiu solucionar o problema”, completa o professor da FGV Istvan Kasznar.