Lusa
Um consenso sobre gestão de migração, cujas boas intenções vão ser testadas nos próximos meses, não foi a única conclusão da cimeira da União Europeia, em Bruxelas.
O presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, anunciou que vai aos EUA, no final de julho, falar de comércio: “Devemos desdramatizar estas relações, tanto nós como os EUA precisamos destas relações.”
Coube ao presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, ser pragmático sobre o acordo para gerir a migração e asilo, que se baseia em mais dinheiro, mais guardas nas fronteiras e voluntariado para receber quem procura proteção na Europa.
“É muito cedo para falar de sucesso. Conseguimos chegar a um acordo no Conselho Europeu. Mas esta é, de facto, a parte mais fácil da tarefa, comparando com o que nos aguarda no terreno”, disse Tusk.
Havendo tão poucas pessoas a chegar à Europa (45 mil em 2018), por comparação com o pico em 2015 (cerca de um milhão), o primeiro-ministro da Bulgária foi ainda mais direto sobre a natureza do conflito que divide os Estados-membros.
Chegar a um acordo é a parte mais fácil da tarefa, comparando com o que nos aguarda no terreno | Donald Tusk, Presidente, Conselho Europeu
“Esta não é uma crise migratória, é uma crise política porque há 90% menos migrantes do que há dois anos”, realçou Boyko Borissov, no penúltimo dia da primeira presidência semestral da União Europeia a cargo do país.
Além dos novos centros europeus para triagem de migrantes e refugiados, esse processamento poderá também ser feito em plataformas a criar em países terceiros.
A organização humanitária OXFAM está muito cética: “Os líderes não têm idéia de como podem fazer esse sistema funcionar. Recordo que temos centros de acolhimento, conhecidos por hotspots, no interior da União Europeia, e não funcionam. As pessoas vivem em condições horríveis. Logo, perguntou-me como poderia isto funcionar melhor fora da União Europeia? Tenho sérias dúvidas”, disse, à euronews, Florian Oel, porta-voz da organização em Bruxelas.
O primeiro-ministro português, António Costa, elogiou, no final da cimeira, a chanceler alemã Angela Merkel por estar “do lado certo daquilo que são os valores da Europa”, e escusou-se a comentar “outras atuações para fins mediáticos”, referindo-se ao italiano Giuseppe Conte.
“Portugal não se candidata, nem havia razões para isso”, esclareceu o primeiro-ministro português, quando questionado sobre se o país seria candidato a acolher centros controlados, destinados a receber pessoas resgatadas em operações de salvamento no Mediterrâneo.
Costa salientou ainda as participações ativas de Portugal, “através do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras, da GNR, e da Marinha”, no patrulhamento da fronteira externa, e a ação solidária com os migrantes, que levou o Governo português a assumir “uma quota de aceitação de refugiados que é largamente superior à quota obrigatória da União Europeia”.
“Agora do ponto de vista bilateral temos procurado, designadamente com a Alemanha, encontrar formas de ajudar países que estão sob pressão excessiva a colocarem em Portugal pessoas que tenham, em Portugal, a oportunidade de realizar a sua vida”, acrescentou ainda.