Deutsche Welle
Eu mesmo não havia me dado conta: foi só quando uma colega na Alemanha me pediu para lhe enviar meus recentes textos sobre o Brasil que percebi: eu escrevo cada vez menos sobre o Brasil, como correspondente de América do Sul para jornais alemães.
Eu não escrevo menos do que escrevia antes, mas meus relatos e reportagens falam sobretudo da Argentina, do Chile, da Colômbia, do México e – claro – da Venezuela. No Brasil há, no momento, poucas coisas interessantes para relatar. Depois de quatro anos de crise e estagnação política e econômica, o país interessa a cada vez menos leitores na Europa.
Estes não estão interessados em cada nova reviravolta nos escândalos de corrupção nem em governos cuja única preocupação é, há anos, a própria sobrevivência. Também como jornalista de economia tenho dificuldades para encontrar temas. As empresas brasileiras não andam brilhando com produtos originais, gestão excelente ou estratégias de mercado que chamem a atenção.
Esse desinteresse crescente pelo Brasil se deixa perceber também de outras maneiras. O Brasil é um dos locais onde há cada vez menos pesquisadores, executivos, técnicos ou outros especialistas vindos do exterior. Cerca de 0,25% de todos os empregados formais são estrangeiros. Nos Estados Unidos, são 17%, e mesmo no Chile o número é sete vezes maior que no Brasil.
Há dez anos, em pleno auge econômico brasileiro, havia cerca de 300 mil estrangeiros trabalhando no Brasil. Em 2016, o último ano para o qual existem dados, eram 112 mil. É de se supor que, desde então, o número tenha caído ainda mais.
A baixa ocupação de trabalhadores estrangeiros se deve à recessão, às leis trabalhistas complicadas, à dificuldade para reconhecer diplomas de outros países e à elevada taxa de criminalidade, que assusta os estrangeiros, diz o economista Marcos Mendes, que escreveu um estudo sobre o tema.
No momento, o Brasil não é atraente, reclama um assessor de recursos humanos que procura especialistas estrangeiros para o setor de tecnologia da informação. Ele diz que é difícil encontrar alguém disposto a se mudar para o Brasil.
E mesmo para os brasileiros o Brasil parece ser, no momento, pouco atraente, como mostra uma pesquisa recente do Datafolha. Segundo ela, 43% dos brasileiros prefeririam deixar o país se pudessem. Entre aqueles com ensino superior são 56%. Mais assustadora ainda é outro dado revelado pela pesquisa: nada menos que dois terços dos jovens brasileiros (62%) entre 16 e 24 anos gostariam de deixar o país.
O tom geral entre os entrevistados: eles não acreditam que, no médio prazo, o Brasil vá melhorar e temem perder os melhores anos de sua vida no país. Um jovem deixou a situação bem clara numa declaração à Folha de S. Paulo: “Dez anos de crise não é muito para um país, mas é muito para a vida de uma pessoa.”
Há mais de 25 anos, o jornalista Alexander Busch é correspondente de América do Sul do grupo editorial Handelsblatt (que publica o semanário Wirtschaftswoche e o diário Handelsblatt) e do jornal Neue Zürcher Zeitung. Nascido em 1963, cresceu na Venezuela e estudou economia e política em Colônia e em Buenos Aires. Busch vive e trabalha em São Paulo e Salvador. É autor de vários livros sobre o Brasil.