Após meses de discussões, começa a valer nesta sexta-feira (5) a tarifa de 25% sobre diversos produtos da China importados pelos Estados Unidos. O total de bens atingidos por esta medida deve chegar a US$ 50 bilhões. O anúncio faz parte de uma série de políticas impostas pelos EUA aos produtos chineses, seguidas de anúncios de retaliações dos asiáticos, gerando temores de uma “guerra comercial”.
A sobretaxa é uma resposta ao que o governo dos Estados Unidos considera um “roubo” de tecnologia norte-americana. Dos US$ 50 bilhões em produtos anunciados inicialmente para serem sobretaxados, a lista dos produtos que começam a sofrer a cobrança nesta sexta soma R$ 34 bilhões, com 818 produtos. Entre eles, estão:
- Painéis de LED e LCD;
- Telas sensíveis ao toque;
- Sismógrafos;
- Eletrocardiogramas;
- Microscópios;
- Satélites;
- Aeronaves;
- Helicópteros;
- Motocicletas;
- Cabos de fibra óptica;
- Câmeras de TV;
- Baterias de lítio.
Essa divisão aconteceu depois que as empresas americanas exigiram isenções para importações consideradas importantes, destaca a agência de notícias France Presse. Uma segunda parte dos bens, avaliada em US$ 16 bilhões, será analisada após um processo de revisão e observação do público, algo que poderia reduzir o volume total.
As taxas miram em produtos chineses que, para o governo de Donald Trump, são comercializados de forma injusta – como veículos de passageiros, transmissores de rádio, peças para aviões e discos rígidos para computadores.
Resposta da China
O governo chinês, em retaliação à medida dos EUA, vai impor também a partir desta sexta tarifas que inicialmente afetarão o equivalente a US$ 30 bilhões em produtos americanos, destaca a agência de notícias France Presse.
Entre outros, veículos e alimentos e produtos agrícolas, como a soja, serão tributados, o que afetará duramente os agricultores americanos. Outros US$ 15 bilhões restantes corresponderiam a uma segunda fase, que incluiria petróleo, gás propano e produtos químicos.
“A China não cederá à ameaças ou à chantagem”, disse o porta-voz do Ministério do Comércio da China, Gao Feng, na quinta-feira (5), ainda de acordo com a France Presse.
“Os Estados Unidos iniciaram esta guerra comercial, não queremos, mas não temos outra opção a não ser lutar”, acrescentou Gao Feng.
Ameaça econômica
Economistas alertam há meses sobre os possíveis danos que o protecionismo de Trump pode causar ao comércio e à economia global. No final de maio, o Fundo Monetário Internacional (FMI) emitiu um alerta apontando que “todo mundo perde” em uma longa guerra comercial, e pediu que os Estados Unidos trabalhem de forma “construtiva” com seus aliados para resolver seus desacordos, em vez de impor tarifas.
E preocupação entre economistas é que esta política possa aumentar os preços e afetar as cadeias de distribuição internacionais. Entre os empresários dos Estados Unidos, também há temores sobre possíveis prejuízos.
A Câmara de Comércio dos EUA pediu que Trump reconsiderasse as medidas, apontando que as tarifas agora afetam as exportações equivalentes a US$ 75 bilhões e colocam em risco milhares de empregos.
Mesmo diante das preocupações inetrnas e internacionais, o governo dos Estados Unidos não cedeu em sua política externa. Segundo a France Presse, o secretário do Comércio, Wilbur Ross, disse que as advertências são “prematuras e provavelmente muito imprecisas”.
Veja abaixo a cronologia da tensão comercial entre EUA e China:
2001: China entra oficialmente na OMC.
2006: Henry Paulson assume a secretária do Tesouro dos EUA com a missão de reduzir o déficit comercial do país com a China.
2007: Departamento de Comércio ameaçam sobretaxas sobre a importação de papel da China.
2012: Durante a campanha presidencial, Obama e Romney discutiram as práticas comerciais da China.
2016: Na eleição, Trump chega a ameaçar elevar para 30% a tarifa sobre todos os produtos chineses.
Dezembro de 2016: Ao fim dos 15 anos para fazer mudanças propostas pela OMC, China não altera nada e continua a ser encarada apenas como economia “semi-aberta” por EUA e UE.
8 de março de 2018: EUA impõem sobretaxas ao aço e alumínio importado de vários países.
22 de março de 2018: EUA anunciam tarifas de US$ 50 bilhões sobre 1,3 mil produtos chineses, alegando violação de propriedade intelectual.
2 de abril de 2018: em resposta a taxação, China impõe tarifas de 25% sobre 128 produtos dos EUA, como soja, carros, aviões, carne e produtos químicos.
5 de abril de 2018: China recorre à OMC contra tarifas dos EUA para o aço e alumínio.
5 de abril de 2018: Trump propõe sobretaxar mais US$ 100 bilhões em produtos chineses.
15 de junho de 2018: EUA começam a sobretaxar parte dos US$ 50 bilhões em produtos chineses. Outra parte é prevista para 6 de julho.
16 de junho de 2018: China faz ameaças de novas tarifas, desta vez sobre o petróleo bruto, gás natural e produtos de energia dos EUA.
19 de junho de 2018: Trump ameaça impor tarifa de 10% sobre US$ 200 bilhões em bens chineses, em retaliação. Pequim criticou “chantagem” e alertou que irá retaliar, em um rápido agravamento do conflito comercial.