Uma nova vacina contra o HIV apresentou resultados promissores. O tratamento conseguiu fazer com que o sistema imunológico de pessoas vacinadas produzisse respostas contra o HIV, segundo um estudo publicado na revista científica Lancet. Porém, ainda não é possível saber se essas pessoas não seriam contaminadas pelo HIV se tivessem contato com o vírus.
“Os desafios no desenvolvimento de uma vacina contra o HIV não têm precedentes. A capacidade de induzir uma resposta do sistema imunológico contra o HIV não necessariamente significa que a vacina vai proteger humanos contra a infecção”, alerta Dan Barouch, professor de medicina da Escola de Medicina de Harvard, nos Estados Unidos, e coordenador do estudo.
Em paralelo, foi realizado um estudo com macacos, também com resultados animadores. Os animais foram vacinados contra um vírus semelhante ao HIV, mas que afeta os macacos, e 67% deles ficaram protegidos contra o vírus.
Cerca de 37 milhões de pessoas no mundo vivem com o vírus do HIV. A cada ano, estima-se que mais 1,8 milhão de pessoas sejam infectadas.
Apesar dos avanços no tratamento contra o HIV, ainda não foram descobertas nem a cura nem uma vacina capaz de proteger contra o vírus. Entre os avanços já obtidos está a profilaxia pré-exposição, chamada de Prep, que pode previnir a infecção pelo vírus do HIV, desde que tomada regularmente.
A invenção da vacina tem se mostrado um desafio gigantesco para os cientistas. Um dos motivos é que há muitas variedades de vírus HIV. Tentativas anteriores de criar uma vacina se limitaram a tipos específicos do vírus.
Além disso, outra dificuldade é que o vírus sofre mutações para evitar ser atacado pelo nosso sistema imunológico.
Mas, no caso dessa nova vacina, os cientistas desenvolveram um tratamento a partir de partes de diferentes tipos de vírus do HIV – uma espécie de mosaico.
Como foi feita a pesquisa?
Os cientistas testaram diversas combinações da vacina mosaico em 393 pessoas de 18 a 50 anos, que não tinham HIV e estavam saudáveis. Os participantes foram selecionados aleatoriamente nos dos Estados Unidos, Ruanda, Uganda, África do Sul e Tailândia. Cada um deles recebeu 4 vacinas ao longo de 48 semanas – cerca de 1 ano. Algumas delas eram as vacinas reais que estavam sob testes; outras, eram placebos.
Todas as combinações de vacina testadas fizeram com que o sistema imunológico do corpo humano produzisse uma resposta contra o HIV. Além disso, todas elas foram consideradas seguras para aplicação em seres humanos.
Já no estudo com macacos, foram vacinados 72 animais do tipo rhesus, selecionados aleatoriamente. O resultado foi que uma das combinações de vacina testada também gerou resposta imunológica, da mesma forma que ocorreu com os humanos, e foi capaz de proteger 67% dos macacos contra o vírus.
A próxima etapa do estudo será o tratamento de 2,6 mil mulheres no sul da África, que enfrentam o risco de contrair a doença.
Essa é a quinta vacina contra o HIV que chega a essa fase de teste de eficácia com grupos da população. Dentre elas, apenas uma gerou evidências de que é capaz de proteger contra o HIV. Testada na Tailândia, reduziu a chance de infecção por HIV em 31% – percentual considerado muito baixo para introduzir o uso da vacina.
Michael Brady, diretor médico do Terrence Higgins Trust, instituição britânica de caridade que atua na área do combate ao HIV, acredita que ainda é cedo para comemorar, mas que os resultados foram promissores.”É importante ter cautela e ter clareza de que ainda há muito trabalho a se fazer antes que uma vacina contra o HIV, efetiva, seja disponibilizada”.