O aumento do preço da gasolina, com a mudança da política de preços da Petrobras, fez com que a venda e a produção do etanol disparassem no país. Em Minas, a produção foi intensificada desde o início do ano para atender à demanda e no acumulado de janeiro a maio foi 85% superior ao mesmo período do ano passado. De acordo com a Siamig (Associação das Indústrias Sucroenergéticas de Minas Gerais), foram 781 milhões de litros produzidos no período.
Segundo balanço divulgado pela União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica), entidade representativa das principais unidades produtoras de açúcar, etanol e bioeletricidade da região Centro-Sul do país, o total de etanol comercializado em junho atingiu expressivos 2,62 bilhões de litros, sendo 2,52 bilhões de litros (96% do total) direcionados ao mercado doméstico e apenas 100,03 milhões de litros para exportação.
Chama a atenção principalmente o crescimento nas vendas de etanol hidratado, utilizado como combustível de carros flex. A alternativa ficou em voga após a greve dos caminhoneiros – que chamou a atenção para a escalada de preços da gasolina.
Após a greve, o volume vendido pelas usinas e destilarias da região Centro-Sul em junho registrou aumento de 47,8% em relação ao montante registrado em igual período do ano passado: 1,69 bilhão de litros em 2018 contra apenas 1,14 bilhão de litros de hidratado em 2017.
Somando a produção do anidro, que é misturado à gasolina, e do etanol hidratado, que abastece o carro flex, a expectativa é que Minas Gerais gere cerca de 3 bilhões de litros na safra atual, que vai de abril deste ano a abril de 2019.
“Minas é o terceiro maior produtor de etanol do Brasil, atrás apenas de São Paulo e Goiás, e há mercado para o consumo do produto. Na frota de Minas hoje, mais de 70% dos veículos podem abastecer com etanol”, afirma Mário Campos, presidente da Siamig. Segundo ele, o aumento no preço da gasolina com a nova política adotada da Petrobras foram fundamentais para estimular o consumo de álcool combustível no Estado. Conforme dados da Agência Nacional de Petróleo, desde que a política de preços entrou em vigor, em julho do ano passado, a gasolina subiu oito vezes mais que a inflação, ou seja, alta de 23%. “O etanol está competitivo com a gasolina desde o início do ano. O consumo de gasolina caiu 20% em comparação com o ano passado, o que mostra que o consumidor está optando pelo etanol”, afirma.
Mesmo assim, a fatia de mercado que aposta no álcool ainda é consideravelmente menor que os fiéis à gasolina. “Apenas 30% dos mineiros abastecem com álcool, mesmo quando ele está mais barato que a gasolina, na maior parte das vezes por preconceito ou desconhecimento. É uma fatia ainda muito pequena”, afirma Campos.
Queda do açúcar
Como consequência do etanol mais rentável, a produção de açúcar diminuiu 23,6% nos últimos quinze dias de junho de 2018, segundo o levantamento da Unica, atingindo 2,28 milhões de toneladas na segunda quinzena do mês.
Das 45,31 milhões de toneladas obtidas por meio da moagem de cana-de-açúcar na segunda metade de junho, apenas 37,6% foi destinada à fabricação de açúcar, contrastando significativamente com os 50,5% registrados na mesma data de 2017.
Etanol é vantajoso no Estado, mas preconceito do combustível ainda ronda consumo
Um cálculo simples pode ajudar o consumidor na hora de avaliar se vale mais a pena abastecer com álcool ou gasolina. O professor Paulo Henrique Tavares, do curso de Engenharia Mecânica do Ibmec, explica que é preciso dividir o valor da gasolina pelo do etanol. Se o resultado for menor que 0,7 significa que a gasolina está cara e vale a pena optar pelo álcool.
“O valor do etanol é vantajoso quando chega a até 70% do preço da gasolina. Se for maior que isso, ele acaba saindo mais caro”, explica. De acordo com o especialista, isso acontece porque o álcool rende 30% menos que a gasolina e exige que o consumidor vá mais vezes ao posto.
Essa questão, aliás, é um dos motivos que leva grande parte dos consumidores a optar pela gasolina, mesmo quando o etanol está mais barato. “A gasolina garante mais autonomia ao consumidor. Com o álcool, as visitas às bombas se tornam mais frequentes”, explica o professor. Ele ressalta, porém, que o preconceito histórico com o etanol também leva muitas pessoas a evitarem o consumo. “Quando surgiu o álcool no Brasil, na década de 1980, os carros ainda não tinham tecnologia de injeção eletrônica e os dutos não eram perfeitamente adaptados ao etanol, que é mais corrosivo que a gasolina. Por isso, muitos veículos deram defeito. Mas hoje isso não existe mais”, afirma Tavares.
Competitividade
Um levantamento de preços realizado pela Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustível (ANP) indica que, na média nacional, o etanol hidratado é favorável ao consumidor desde maio deste ano, mês em que a paridade média de preços entre o hidratado e a gasolina atingiu 65%.
Em Minas, a relação no mês de julho chega a 63%.
Os dados publicados pela ANP indicam ainda que os Estados onde o abastecimento com etanol se mostrou mais vantajoso são: Minas Gerais, São Paulo, Paraná, Mato Grosso e Goiás.
Todos os 212 municípios amostrados pela Agência apresentam atratividade econômica para o hidratado, sendo que em 90% dessas cidades a paridade registrada é inferior a 67%.