Deutsche Welle
Mais da metade das extradições programadas na Alemanha não chega a se realizar. Com frequência, os migrantes não comparecem na hora e local combinados, ou já entraram definitivamente para a clandestinidade.
A informação é do jornal alemão Welt am Sonntag, com base num relatório interno da Polícia Federal. Segundo o documento, até o fim de maio de 2018, das 23.900 deportações decretadas, apenas 11.100 foram executadas, ficando um saldo negativo de 12.800.
Em cerca de 1.300 dos casos frustrados, os procedimentos tiveram que ser interrompidos no meio, por motivos diversos, prossegue o semanário. Por 150 vezes o piloto se recusou a transportar os deportados, em outros mais de 500 casos houve resistência passiva ou ativa. A cifra representa um aumento de mais de 200% em relação a 2017.
As ações de resistência envolveram sobretudo migrantes da Nigéria e Guiné (mais de 60, respectivamente) seguidas da Somália (50), Síria (40), Serra Leoa, Gâmbia, Marrocos, Iraque e Eritreia (cada uma com mais de 30 casos).
Falando ao Welt am Sonntag, o presidente do sindicato da Polícia Federal alemã, Ernst Walter, queixou-se que causa ao órgão de segurança “um enorme desgaste o fato de um em cada dois indivíduos destinados à extradição pelas autoridades estaduais e municipais não ser entregue a elas”. Segundo o policial, só é possível evitar a fuga para a clandestinidade “com um emprego muito mais forte da detenção prévia à deportação”.
Ministro social-democrata critica
Por sua vez, em entrevista ao diário Augsburger Allgemeine, o ministro alemão do Trabalho, Hubertus Heil, criticou os governos estaduais por cada vez mais mandar deportar migrantes bem integrados.
“De fato, à vezes tenho a impressão de que as pessoas erradas estão tendo que deixar a Alemanha”, apontou o político do Partido Social-Democrata (SPD). Ele advertiu, ainda, contra as consequências negativas para os esforços de integração da sociedade e, especialmente, das empresas que empregam os refugiados.
Heil recordou a resolução da legislatura anterior, segundo a qual jovens refugiados recebendo treinamento profissional “podem concluí-lo e, em seguida, têm a oportunidade de permanecer na Alemanha por dois anos”.
Na prática, contudo, essa regra é tratada de formas distintas pelos governos estaduais. A situação corre “especialmente mal” na Baviera, governada pela União Social-Cristã (CSU). Isso, segundo Heil, “é um transtorno para todas as firmas que se engajam e investem”.
Paralelamente, o chefe da pasta do Trabalho admitiu déficits continuados na integração dos migrantes no mercado de trabalho. Embora 220 mil deles já exerçam atividade profissional e contribuam para o sistema de previdência, esses números “ainda são baixos demais, é claro”. “Ajudaria muito se o status de permanência dos migrantes fosse esclarecido de forma mais rápida e segura”, propôs Hubertus Heil.