Estadão
Há 55 anos, ia ao ar pela primeira vez 2-5499 Ocupado, considerada a pioneira das novelas como conhecemos hoje – exibidas diariamente, pela televisão.
Tarcísio Meira e Glória Menezes formavam um casal no mundo da dramaturgia pela primeira vez – os dois se conheceram em 1961 e se casaram dois anos depois.
Ao todo, foram 42 capítulos exibidos entre julho e setembro de 1963. Apesar da relevância histórica, a qualidade da obra foi abertamente criticada por Tarcísio anos depois: “Era uma novela muito chata”.
Conheça mais detalhes sobre a produção a seguir.
2-5499 Ocupado
O nome da obra era referência a um número de telefone, em torno do qual girava a trama: a história de amor entre uma presidiária e um homem que era seduzido por sua voz após uma ligação por engano.
Curiosamente, um homem da região sul do Brasil precisou mudar o número de seu telefone, que era justamente o mesmo do título, devido ao excesso de ligações que recebia.
Diferente das grandes produções de hoje, foram produzidos apenas 42 capítulos, que duravam cerca de 20 minutos e geralmente tinham apenas duas cenas. Em toda novela, apareceram somente 12 personagens. No elenco, haviam nomes com Lolita Rodrigues e Neuza Amaral.
“Era uma novela curta para que se tentasse fazer alguma coisa e [se] visse a reação do público”, contava Tarcísio Meira.
A história, porém, não é brasileira: foi escrita pelo argentino Migré, e chamava-se 0597 Da Ocupado. Chegou a ganhar versões em outros países, como a Colômbia. No Brasil foi traduzida e dirigida por Tito Di Miglio e adaptada por Dulce Santucci. Em sua divulgação, a novela era anunciada como “a estranha história do impossível acontecendo”.
A 1ª telenovela diária
À época, as novelas não iam ao ar de segunda a sábado, como ocorre hoje. A própria 2-5499 Ocupado teve seu início sendo exibida às segundas, quartas e sextas, tornando-se diária pouco depois.
A ideia de aumentar a frequência de exibição foi concebida pelo diretor artístico da TV Excelsior Edson Leite, que havia feito uma viagem à Argentina, onde as produções do tipo já estavam mais avançadas.
“Resolvi ser mais ou menos louco e botar a novela diária. Coloquei a primeira e deu certo. Coloquei a segunda, me chamaram de ‘um pouco louco’. Coloquei a terceira novela diária e me chamaram de ‘mais louco'”, relembrava, anos depois.
“Quando vim da Argentina para fazer novela no Brasil, colocamos uma novela de segunda a sábado, que foi o que, no fim, agradou ao público e deu a felicidade e as emoções que o público tanto gosta”, analisava Tito Di Miglio.
Em vez de dois ou três capítulos semanais, pela primeira vez uma novela era exibida diariamente na televisão brasileira.
A novela era boa?
“Era uma novela muito chata. Muito ruim”, opinou Tarcísio Meira em entrevista à série de documentários Fazendo Novela.
Num episódio do programa TV 60 – A História da Televisão Brasileira, da TV Brasil, o ator falava um pouco mais sobre a reação do público à trama.
“A novela não dava nada. O horário era ‘traço’. Era hora do jantar, e ninguém via televisão na hora do jantar. Quando a novela terminou já era um enorme sucesso. 30% de ibope, e artista brasileiro dar 30% de ibope na televisão naquele tempo era milagre!”.
A trama ganhou um remake em 1999, chamado Louca Paixão e exibido pela Record TV, com Maurício Mattar e Karina Barum no lugar do casal principal. Curiosamente, Lolita Rodrigues, do elenco original de 2-5499 Ocupado, também estava presente.