Estadão
A crise de imagem de Neymar pelo mundo se transferiu para o PSG assim que a Copa acabou, há uma semana. Fontes de alto escalão do clube de Paris confirmaram ao Estado que estão “cientes” de que vão receber de volta um jogador com sua reputação abalada e que o assunto será motivo de “conversas” e redirecionamentos.
Na Europa, especula-se que o brasileiro não será apontado como um dos melhores do mundo pela Fifa. Seu projeto de desbancar Messi e Cristiano Ronaldo, e agora alguns outros, como Griezmann, Mbappé e Modric, que entraram na corrida, terá de ser refeito e adiado por mais uma temporada. Não está descartado um controle maior aos passos do jogador em Paris.
Neymar terá de fazer sua parte. E ele já começou. Quinta-feira (19), reuniu a nata da sociedade esportista e artística em São Paulo para um leilão com arrecadação, de R$ 3,5 milhões, revertida ao Instituto que leva o seu nome. O evento contou com a presença do catariano Nasser Al-Khelaifi, dono do PSG.
O clube tem todo o interesse em trabalhar para superar a crise de credibilidade de Neymar e aguarda o fim das férias de verão na Europa para restabelecer contato. Em breve ele vai se reapresentar em Paris. A meta é que o assunto seja tratado de forma profissional e que o jogador entenda a necessidade de agir de outra maneira.
O PSG não faz isso apenas pelo respeito que tem com Neymar. Mas por uma constatação financeira: parte importante de seu modelo econômico foi baseada na chegada do astro. A venda de direitos de TV aumentou seus preços com Neymar, os acordos comerciais se proliferaram e o valor de 222 milhões de euros (R$ 880 milhões) pago pelo atacante passou a ser contabilizado como um investimento mais amplo do que uma mera aquisição.
Com a Copa, esse modelo sofreu um abalo. E não é o único. O PSG admite que o equilíbrio de poder dentro do elenco pode sofrer abalos após a competição na Rússia. Antes de sair para a Copa, o brasileiro era o centro das atenções e a pessoa mais influente do vestiário. Neymar chegou a Paris como o “cara” da nova fase do clube. Já naquela época, alguns jogadores torceram o nariz. Ele havia tomado a decisão de sair do Barcelona para sair também da sombra de Messi. Em seus planos estavam uma Copa exemplar, um eventual título mundial e o caminho aberto para ser o melhor jogador do planeta em 2018.
No lugar disso, Neymar volta à França sem a taça, sem um desempenho de destaque e fora da corrida pelo título de melhor jogador do mundo. Teve a imagem arranhada por acharem simulação nas faltas recebidas. Virou meme nas redes. Agora ele terá de conviver com colegas que passaram a ser tratados como heróis nacionais. Está à sombra dele mesmo e de Mbappé.
Por isso, os cartolas do PSG apontam que a temporada 2018/19, que começará em um mês, pode ser radicalmente diferente para ele. Mbappé, coadjuvante de Neymar, retorna como campeão do mundo e novo “queridinho da França”.
Entre alguns dirigentes esportivos, os comentários em relação ao brasileiro eram críticos após a Copa. Para os europeus, se o Brasil saiu da disputa derrotado num jogo igual contra a Bélgica, quem de fato perdeu foi Neymar. Gianni Infantino, presidente da Fifa, chegou a rir do comportamento do atleta brasileiro em sua entrevista ainda em Moscou.