Estado de Minas
A proximidade do prazo limite para definições de coligações partidárias para as eleições (5 de agosto) movimenta lideranças mineiras e deixa cada vez mais claras as dissidências dentro das legendas.
Nessa quarta-feira (25), representantes da comissão provisória do MDB se reuniram no Palácio da Liberdade com o governador Fernando Pimentel (PT) para conversar sobre possível reaproximação das legendas. Nos últimos dias, os emedebistas conversaram com o ex-prefeito Marcio Lacerda (PSB) e com o deputado Marcos Montes (PSD), candidato a vice-governador na chapa de Antonio Anastasia (PSDB). No entanto, a possibilidade de aliança com o MDB acirra conflitos internos nas legendas e desagrada a parlamentares que querem distância do partido de Michel Temer.
Segundo o deputado Saraiva Felipe (MDB), presidente da comissão provisória do MDB, o encontro com Pimentel teve como objetivo ouvir as posições do PT para a campanha eleitoral e avaliar se o projeto petista pode beneficiar a bancada emedebista. “A conversa com o governador é igual à que já tivemos com Marcio Lacerda e Marcos Montes. Ver possibilidade de coligações, ver as chapas que o partido tem para a disputa federal e estadual. O governador de Minas merece toda nossa atenção e vamos ouvir todo mundo antes de definir qual caminho vamos tomar”, afirmou Saraiva.
O parlamentar afirmou que o único pré-candidato com quem o MDB não se reuniu ainda é o deputado Rodrigo Pacheco (DEM): “Só nos reunimos com quem nos procurou e Pacheco não nos procurou”. De acordo com Saraiva, as conversas com Lacerda ainda estão abertas, mas o socialista precisa definir se “firmará o pé como candidato” ou se vai ser candidato a vice-presidente na chapa de Ciro Gomes (PDT).
A retomada de conversas entre MDB e PT – com conversas de Saraiva e do presidente da Assembleia Legislativa de Minas Gerais, Adalclever Lopes, com o governador Pimentel – ocorre após mais de três meses de rompimento. No fim de abril, a Mesa Diretora da Assembleia aceitou a abertura de um processo de impeachment contra Pimentel. A ação (que até hoje está pendente no Legislativo) foi vista como demonstração de insatisfação com as articulações dos petistas para lançar a ex-presidente Dilma Rousseff (PT) candidata ao Senado, o que desagradou os emedebistas mineiros.
No início de maio, o MDB confirmou em encontro da legenda a intenção de romper a aliança com PT ao indicar que lançaria candidatura própria sem apoiar a tentativa de reeleição de Pimentel. No entanto, o racha entre os dois partidos sempre foi visto com receio pela bancada federal do MDB, que considera a manutenção da parceria como a melhor possibilidade de a legenda manter os assentos na Câmara dos Deputados.
REJEIÇÃO À RECONCILIAÇÃO Enquanto os caciques de PT e MDB retomam as conversas em busca de entendimento, parlamentares das duas legendas criticam a possibilidade de união e querem distância uma da outra. “Nosso arranjo ideal teria o MDB de fora. Nesta eleição é preciso ter os campos políticos claros. O governo do MDB, de Temer, deu um golpe e quebrou o país. E essa eleição terá um tom nacional. Por isso, acho que o MDB é da turma do Alckmin (pré-candidato do PSDB ao Planalto) e não está com a gente”, afirmou o deputado Reginaldo Lopes (PT).
Entre os emedebistas também existe forte rejeição à reconciliação com o PT. O deputado estadual Iran Barbosa (MDB) afirmou que o partido já descartou renovar a aliança com Pimentel. Segundo ele, a legenda tem acordo para formar coligação com PV e PRB. Com estes, pelas contas do emedebista, já seriam reeleitos 12 deputados do MDB, seis do PV e um do PRB.
A intenção, de acordo com Barbosa, é incluir o PSB, de Lacerda, PDT, Podemos e Pros na aliança que teria Adalclever Lopes como candidato ao governo de Minas. “A expectativa é de que o Lacerda seja vice do Ciro Gomes e aí sim teríamos ampla aliança, incluindo também o PCdoB e o PHS”, afirmou Barbosa. O parlamentar reconheceu, no entanto, que a pretensa aliança, além da situação de Lacerda e Ciro, depende de conversas nacionais também com o pré-candidato do MDB ao Palácio do Planalto, Henrique Meirelles.
Dentro do PSB, a aliança com MDB desagrada alguns candidatos a deputados estaduais e ao deputado Júlio Delgado, que descarta o apoio ao partido do presidente Michel Temer em Minas. “Seria um equívoco de toda ordem. O ex-governador Eduardo Campos (morto em 2014) deixou claro que jogaria essa turma do MDB para a oposição e não tem menor cabimento reaver essa aliança. É sem chance uma união de PSB e MDB”, afirmou Delgado, que lembrou ser oposição ao governo do MDB desde o primeiro dia em que Temer chegou ao Palácio do Planalto.
Pimentel e PSDB tocam farpas
O governador de Minas, Fernando Pimentel (PT), respondeu ontem às críticas do senador Antonio Anastasia (PSDB) sobre o fechamento do Palácio Tiradentes: “Só de ar-condicionado gastamos R$10 milhões por mês”, rebateu o o petista. Em vídeo postado em suas redes sociais e no site do diretório estadual do PT, Pimentel destacou “ a herança maldita dos desgovernos de Aécio e Anastasia, que deixaram para os mineiros um déficit gigantesco, de R$ 8 bilhões.”
Segundo o governador, a alegação de Anastasia de que o governo tucano teria colocado em marcha um plano de desenvolvimento para a Região Norte, do chamado Vetor Norte,” é pura conversa fiada.” “O que ele chama de plano de desenvolvimento [eu chamo de] especulação imobiliária. O que eles fizeram ali foi enfiar R$ 2 bilhões, a preços de hoje, em uma obra absolutamente desnecessária, faraônica, que dá um custo absurdo de manutenção ao estado”, disse Pimentel.
“E agora o sujeito vem sustentar que é um plano de desenvolvimento. Que plano de desenvolvimento? Que empresa que foi atraída para aquela região? Nenhuma, aquilo ali é um símbolo do desperdício”, atacou Pimentel.
Na última segunda-feira, Anastasia esteve em Santa Luzia, na Grande BH, onde criticou Pimentel, citando o atraso de pagamento aos servidores e a decisão de fechar o Palácio Tiradentes, na Cidade Administrativa.
A medida foi anunciada em fevereiro por Pimentel como forma de economizar despesas. “Fizemos planejamento de 12 anos quando à frente do governo de Minas para levar desenvolvimento para o Vetor Norte. Entre os projetos para a região está a Cidade Administrativa, que valorizou em bilhões os imóveis no entorno. O atual governo fecha os olhos para a região, fecha o Palácio Tiradentes e volta a administração para o Centro de Belo Horizonte”, afirmou Anastasia.
NOVA CRÍTICA No início da noite de ontem, o PSDB mineiro divulgou nota rebatendo as críticas de Pimentel. Leia a íntegra: “As declarações absurdas dadas recentemente pelo governador Pimentel mostram por que o estado de Minas Gerais chegou à caótica e grave situação em que se encontra hoje. Ele afirmou que a Cidade Administrativa gasta R$ 10 milhões por mês com ar condicionado. Se a afirmação fosse verdadeira, a conta chegaria em R$ 120 milhões ao ano. Basta rápida conferência no portal da Transparência para se certificar de que nada disso se confirma. Durante o ano, em despesas com energia elétrica no complexo de prédios da Cidade Administrativa, foram gastos R$ 9,5 milhões, algo em torno de R$ 800 mil ao mês. Ou o governador desconhece totalmente as contas do estado ou quer mentir e mais uma vez enganar deliberadamente o povo mineiro.”