Relatório divulgado pelo Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/Aids (Unaids) indica, pela primeira vez, que as metas globais para eliminação da aids até 2030 correm o risco de não ser cumpridas. O documento veio à tona às vésperas da 22ª Conferência Internacional de Aids, que vai até amanhã (27) em Amsterdã, na Holanda. O encontro é considerado o maior do mundo sobre o tema.
De acordo com o relatório, intitulado Um Longo Caminho a Percorrer – Fechando Lacunas, Quebrando Barreiras, Corrigindo Injustiças, a resposta global ao HIV encontra-se em um ponto delicado e o ritmo do progresso não está em linha com a ambição global.
O número de novas infecções por HIV, por exemplo, está aumentando em cerca de 50 países, e as novas infecções globais pelo vírus caíram apenas 18% nos últimos sete anos – de 2,2 milhões em 2010 para 1,8 milhão, no ano passado. Embora represente quase a metade do total registrado durante o pico da doença, em 1996 (3,4 milhões), o declínio, segundo o Unaids, não é rápido o suficiente para alcançar a meta de menos de 500 mil pessoas até 2020.
África Ocidental e Central ficando para trás
Ainda de acordo com o documento, apenas 26% das crianças e 41% dos adultos que vivem com HIV na África Ocidental e Central tiveram acesso ao tratamento, em comparação com 59% das crianças e 66% dos adultos na África Oriental e Austral.
Desde 2010, as mortes relacionadas à aids diminuíram 24% na África Ocidental e Central, contra um declínio de 42% na África Oriental e Austral.
Progresso entre crianças diminuiu
O relatório também mostra que as novas infecções entre crianças diminuíram apenas 8% nos últimos dois anos. Só metade (52%) de todas as crianças que vivem com HIV está recebendo tratamento, enquanto 110 mil morreram por doenças relacionadas à aids em 2017.
Embora 80% das mulheres grávidas vivendo com HIV tenham acesso a medicamentos antirretrovirais para prevenir a transmissão do HIV, no ano passado, 180 mil crianças foram infectadas pelo vírus durante o parto ou a amamentação — longe da meta de menos de 40 mil até o final de 2018.
Populações-chave representam quase metade das novas infecções
Populações-chave e seus parceiros sexuais, segundo o documento, respondem por 47% das novas infecções por HIV no mundo e por 97% das novas infecções na Europa Oriental e Ásia Central, onde um terço delas se concentra entre pessoas que usam drogas injetáveis.
Além disso, metade de todas as trabalhadoras do sexo em Suazilândia, Lesoto, Malawi, África do Sul e Zimbábue vivem com HIV. O risco de contrair o vírus é 13 vezes maior entre elas, 27 vezes maior entre homens que fazem sexo com homens, 23 vezes maior entre as pessoas que usam drogas injetáveis e 12 vezes maiores entre mulheres transexuais.
Posição realista
Por meio de nota, a Associação Brasileira Interdisciplinar de Aids (Abia) avaliou que o órgão das Nações Unidas acertou ao assumir uma posição mais realista sobre a epidemia da doença no mundo. “Desde 2015, ao lado de outras organizações no Brasil e no mundo, a Abia alerta para os números alarmantes da epidemia em expansão e para as barreiras estruturais que impedem o acesso ao tratamento e à prevenção de milhões de pessoas no mundo.”
Para a Abia, o cenário traçado pelo relatório é resultado da inércia dos países e de seus governantes no desenvolvimento de políticas e ações em saúde pública. Entre os fatores que mais têm influenciado negativamente na resposta à epidemia, segundo a entidade, estão o contexto social conservador, que alimenta a violência estrutural e dificulta a prevenção nas populações mais vulneráveis; e falhas no abastecimento, que têm colocado em risco a sustentabilidade do acesso à antirretrovirais e favorecido o abandono e interrupções no tratamento.