Manual do Homem Moderno
Infidelidade, incompatibilidade, carreiras divergentes? Parece que o grande problema nos relacionamentos é o dinheiro, que ainda é encarado um tabu no ambiente familiar. Em muitos casos, ele só é discutido quando se transforma em um grande problema dentro de casa.
Quem descobriu isso foi um levantamento feito em todas as capitais brasileiras pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) e pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL). Segundo ele, somente 44% dos brasileiros falam frequentemente sobre dinheiro com os membros da família, ao passo que 39% só entram nesse assunto quando a situação financeira já não é boa ou imaginam que pode surgir um problema. Os que não costumam conversar sobre a gestão do orçamento com os moradores da residência somam 18% dos consumidores.
Este levantamento também descobriu que em parte significativa dos lares brasileiros não há uma divisão para o pagamento de contas entre os membros da casa:
- Em 33% dos casos, apenas um morador é responsável por arcar sozinho com todas as despesas da residência;
- Para 20%, as contas são divididas igualmente entre os moradores que possuem renda e para 17%;
- Já os compromissos são divididos de acordo com o salário de cada um.
Brasileiro não sabe se planejar
Foram entrevistados 805 consumidores acima de 18 anos, de ambos os gêneros e de todas as classes sociais nas 27 capitais. A margem de erro é de no máximo 3,5 pontos percentuais para um intervalo de confiança a 95%.
De modo geral, 23% dos brasileiros disseram que os gastos familiares não são discutidos entre os membros da família, sendo que a decisão final cabe a apenas um morador ou, então, cada pessoa gasta seus recursos conforme sua própria necessidade.
Para um quarto dos entrevistados, nunca há sobras no orçamento familiar, fazendo com que o dinheiro seja sempre direcionado para o pagamento de contas e compromissos fundamentais. Em 20% dos casos, quando há sobras, esse recurso fica guardado para gastos do mês seguinte, sem recorrer a investimentos.
O estudo apontou que, muitas vezes, o excesso de gastos de membros da família prejudica a saúde do orçamento da residência. Seis em cada dez brasileiros que residem com outros familiares admitem que há moradores na casa que prejudicam o orçamento da família, percentual que aumenta para 62% entre as famílias das classes C, D e E.
De acordo com o levantamento, as pessoas que mais criam problemas para a gestão das finanças da casa são o próprio entrevistado (20%), o cônjuge (15%) e os filhos (12%).
Dentro dos relacionamentos
Para pessoas casadas ou que vivem em união estável, o tema dinheiro ainda é mais delicado, especialmente se não houver um diálogo franco e transparente entre as partes. De acordo com a pesquisa, 48% dos consumidores que vivem com o companheiro já brigaram com a esposa ou o marido por causa de dinheiro, sendo que em 9% dos casos essa é uma atitude que acontece com frequência.
Os principais motivos para o conflito entre os casais são o fato de o companheiro gastar além das condições financeiras (46%), discordâncias entre prioridade de gastos dentro de casa (32%) e atraso no pagamento das contas (28%). Há ainda, 28% de entrevistados que citam a dificuldade em formar uma reserva financeira de emergência por gastar tudo o que ganha e 21% que mencionam a rigidez do companheiro no controle dos gastos.
“Viver de forma saudável com outra pessoa requer compartilhar sonhos, expectativas e planos diversos, sem, necessariamente, ter de abrir mão de um certo grau de individualidade. É um exercício complexo e cada casal deve encontrar o melhor arranjo para sua realidade sobre os gastos pessoais e da família, com maior ou menor possiblidade de abertura”, explica a economista-chefe do SPC Brasil, Marcela Kawauti.
Diante dessa dificuldade que muitos casais enfrentam para compartilhar decisões da vida financeira, 22% dos entrevistados disseram que não dividem com o cônjuge informações sobre suas contas particulares e 43% não falam sobre todas as compras que realizam. Outros 4% não dão qualquer satisfação sobre o que compram, enquanto 52% disseram ser totalmente transparentes nesse sentido.
Apesar do medo da outra pessoa interferir no modo como a pessoa gasto o dinheiro, é fundamental que exista esta conversa para que ambos se sintam navegando no mesmo barco e mirando um mesmo futuro juntos.
Os tipos de compras que os entrevistados mais ‘escondem’ do marido ou da esposa são roupas (45%), acessórios, como bolsas, bijuterias etc (29%), maquiagens, perfumes e cremes (28%) e calçados (25%). Na comparação entre gêneros, as idas para bares, restaurantes e cinema são as compras mais omitidas entre os homens (33%, contra 9% entre as mulheres), enquanto compras de acessórios se destacam no universo feminino (44%, contra 5% entre os homens).
Além de manter informações financeiras em segredo, muitos casais não se preparam para o futuro. Quase um terço (32%) dos brasileiros que vivem com o companheiro disse não ter um planejamento financeiro para o casal nos próximos cinco anos. E levando em conta os 68% que possuem planos, 30% não fazem nada de concreto para atingir a meta estabelecida com o companheiro.