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BRASÍLIA — Com 85% dos votos, o MDB oficializou, nesta quinta-feira, a candidatura à Presidência da República do ex-ministro da Fazenda Henrique Meirelles. O partido não lançava nome próprio ao Palácio do Planalto há exatos 24 anos, quando, em 1994, Orestes Quércia representou a legenda nas urnas. Foram 357 votos a favor do nome de Meirelles, 56 contrários e seis votos em branco. A convenção teve 419 votantes, mas há dirigentes com direito a mais de um voto, entre eles o presidente Michel Temer. Em busca de votos na legenda para viabilizar sua candidatura, Meirelles fez um giro pelos estados nos últimos meses para se reunir com dirigentes estaduais do MDB.
O ex-ministro da Fazenda foi confirmado candidato ao Palácio do Planalto nesta quinta, mas a definição sobre vice deve ficar para os próximos dias. O partido tem tido dificuldade em encontrar um nome, mas emedebistas priorizam a escolha de uma mulher para compor a chapa do ex-ministro, e acreditam que uma política na chapa agregaria votos para Meirelles, que ainda não decolou nas pesquisas e tem aparecido com apenas 1% de intenções de votos. Apesar do número baixo, emedebistas acreditam que ele vai decolar. Mesmo sem coligações, o MDB terá um dos maiores tempos de televisão durante a campanha eleitoral.
Um dos principais dissidentes no partido, o senador Renan Calheiros (AL) vinha tentando mobilizar os convencionais para que votassem contra uma candidatura própria do partido. O senador vinha defendendo que o MDB liberasse os dirigentes para que priorizassem os acordos nos Estados, mas foi voto vencido.
Em um embate com o grupo de Temer, Renan avaliava que poderia reeditar a vitória que teve na convenção do MDB de 2006, quando a maioria dos convencionais votou por liberar o partido e não lançar nome próprio à Presidência. Na época, Temer, então presidente do partido, defendia o nome do ex-governador do Rio, Anthony Garotinho, para candidato do partido.
Do outro lado, Renan liderava a ala dos governistas que queria que a legenda liberasse os diretórios, o que acabou acontecendo após a confirmação do resultado em uma segunda convenção nacional, um mês depois. Naquele ano, a maioria dos diretórios apoiou o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Em discurso já como candidato, Meirelles ressaltou que quer retomar a confiança no Brasil e ser o “elo de reconstrução do espírito de confiança” no país. Ele fez críticas a adversários na disputa, se referindo indiretamente a Jair Bolsonaro (PSL) e Ciro Gomes (PDT), candidatos que considera “extremistas”.
— Precisamos vencer as amarras da desconfiança que são alimentadas pelos candidatos extremistas. Ao invés de propor união, muitos criam barreiras que só aumentam a divisão dos brasileiros. Eu penso muito diferente, quero usar nossas diferenças para crescer, para incluir – afirmou Meirelles.
O candidato acrescentou que o país não precisa de um “messias” ou um “salvador da pátria”:
— O Brasil precisa de um messias, que veste-se com uniforme de salvador da pátria? Não, e nem de um líder destemperado tratando o país como se fosse seu latifúndio. Essas ofertas que os eleitores têm hoje só alimentam a desconfiança no Brasil e nas instituições.
O candidato do MDB à Presidência relembrou os oito anos em que foi presidente do Banco Central do governo Lula e o período à frente do Ministério da Fazenda de Temer. Apesar disso, afirmou que não divide o mundo entre apoiadores dos dois políticos.
— O mundo para mim não se divide entre quem gosta do Lula de um lado e quem não gosta e entre quem gosta do presidente Michel Temer e quem não gosta. Para mim o mundo se divide entre quem trabalha quando o Brasil precisa e quem não trabalha — disse.
O ex-ministro da Fazenda também usou metáforas futebolísticas em seu discurso aos emedebistas, relembrando a Copa do Mundo de 1958, na Suécia, em que o Brasil saiu vencedor. Ele se comparou ao jogador Didi, que segundo ele agiu com serenidade, mas também firmeza e coragem ao estimular a equipe diante do primeiro gol sofrido pela seleção no mundial, contra a França, na semifinal.
Após a confirmação do nome de Henrique Meirelles, o presidente Michel Temer, que é presidente licenciado do partido, afirmou que Meirelles tinha sido a figura principal de seu governo e que ele faria um governo “extraordinário”:
— Você foi a figura principal do governo. Se em dois anos de governo nós conseguimos realizar tudo que fizemos e tendo você à frente da economia, imagina o que o Meirelles fará em quatro anos ou talvez em oito anos. Fará uma coisa extraordinária — disse Temer sugerindo uma vitória de Meirelles e até uma reeleição.
Sem citar nomes, Temer se referiu à outras candidaturas como “pigmeus políticos” e negou a mesma referência ao MDB.
— Eu vejo os candidatos, um ou outro, nem vou citar nomes, pobres coitados, uns pigmeus políticos. Nós não somos pigmeus, o MDB é partido de gigante. Ao levarem a candidatura do MDB saibam que estão fazendo isso pelo Brasil — concluiu.