Jornal Estado de Minas
Que o pão de queijo de Minas é uma “coisa de doido”, como bem resume a expressão popular, não é segredo entre as montanhas do estado e nem para consumidores de outras regiões do país. Aproveitando-se da fama da iguaria típica, fabricantes mineiras do produto elevam as exportações e ajudam a impulsionar o setor.
Dados do Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços mostram que o pão de queijo se firmou como produto de exportação.
Segundo a pasta, as vendas de Minas para outros países de misturas e pastas para preparados de padaria, pastelaria e indústria de biscoitos, que incluem o pão de queijo, somaram US$ 4,212 milhões de janeiro a julho, crescimento superior a 47%, em comparação com mesmo período do ano passado, que contabilizou US$ 2,863 milhões.
Outro dado que demonstra que o mercado vai bem é que a receita de janeiro a julho deste ano já supera o apurado em todo o ano de 2016. As empresas mineiras trabalham com projeções positivas de vendas para os próximos anos em dezenas de países, já chegando também à Ásia, com vendas no Japão e na China.
Uma delas apura crescimento de 20% a 30% por ano. A outra, pretende até 2020 ter 10% do faturamento total vindo das exportações.
Para trilhar esse caminho, muito investimento tem sido feito para divulgar o produto nos potenciais mercados pelo mundo afora. A estratégia inicial é conseguir suprir a saudade dos brasileiros que moram fora, que além de estar longe, também acabam ficando privados dos sabores típicos do país. Por ter uma das maiores comunidades de brasileiros morando fora, os Estados Unidos são um dos principais mercados.
No caso dos brasileiros não é necessário muito esforço para trazer de volta a memória gustativa, já para quem está conhecendo agora o produto, caso de países como China e Japão, é necessário fazer adaptações.
“Em alguns países eles pedem, por exemplo, para reduzir a quantidade de sal. Em outros é preciso colocar um pouco mais de algum ingrediente, ou mesmo alterar a ordem deles na mistura. Mas, geralmente, essas mudanças são relacionadas ao paladar mesmo”, afirma a gerente de comércio exterior da Forno de Minas, Gabriela Cioba.
Ela conta que até pedido para a venda de pão de queijo doce já foi feita por um comprador da China. Mas, para também não correr o risco de descaracterizar o produto, os responsáveis pela encomenda inusitada deverão visitar a fábrica da empresa em Contagem, na Grande Belo Horizonte, para entender melhor o produto.
“Como eles virão ao Brasil no final deste mês, eu disse a eles que viessem aqui para entender melhor o que é um pão de queijo”. Ainda de acordo com Gabriela Cioba, apesar de algumas adaptações que são necessárias para o embarque do produto a mercados tão distantes, a qualidade do pão de queijo é a mesma daquele produzido para o mercado interno.
A Forno de Minas espera que até 2020 as exportações tenham ainda mais relevância no faturamento da empresa, com crescimento de 100%. Atualmente, o produto vendido para outros países é responsável por 5% a 6% do que a empresa fatura. As estratégias construídas pela empresa são para alcançar o patamar de 10% em dois anos.
“Quando a gente começou a estruturar o setor na empresa, por volta de 2012, o faturamento era de R$ 2 milhões, com vendas para três países, Estados Unidos, Portugal e Canadá. Agora, a receita é de R$ 25 milhões, um salto de 10 vezes mais em relação ao faturamento e atendemos 16 países”, conta Gabriela.
À vontade
Para tentar chamar ainda mais atenção dos gringos, a marca fechou parceria para apresentar produtos em locais inusitados até aqui para o Brasil, como em cinemas. A empresa fechou parceria com uma rede de cinemas e é possível assistir aos longas comendo a iguaria, assada pouco antes de o filme começar e servida em copos personalizados.
Além disso, o produto é vendido em locais em que é apresentado de forma diferente. “Temos foodtrucks que oferecem o pão de queijo em formato de sanduíche, por exemplo. É uma forma também de irmos conhecendo as vontades do público”, revela a gerente
Outra empresa mineira que está investindo no quinhão das exportações é a Pif Paf. Mais recente na empreitada internacional – a empresa começou em 2016 a vender para o mercado externo –, a marca tem conseguido crescer entre 20% e 30% ao ano. De acordo com o gerente de exportação, Edson Cavalcante, atualmente são comercializados 12 toneladas.
“O produto é bom e todo mundo que experimenta gosta. Além de ser bem brasileiro, nasceu aqui. Não há um estrangeiro que tenha experimentado e não tenha gostado”, comenta.
Os representantes das duas empresas contam que apesar do mercado promissor é necessário muito trabalho e empenho, sendo a logística um dos maiores desafios. Por ser um produto sensível, se não for vendido em determinada quantidade o preço do frete pode inviabilizar o valor do produto e dificultar a expansão do número de consumidores.
“O grande desafio é encontrar um parceiro que seja grande distribuidor e aceite comprar quantidade maior do produto para vender”, afirma Edson Cavalcante, gerente de exportação da Pif Paf.
Um dos fatores que dificulta a venda para estabelecimentos menores, por exemplo, é o custo no momento de transportar.
“O transporte é feito em contêiner. Quando o produto é seco, você pode alugar apenas o espaço de um palete e encaminhar o produto. No caso do produto resfriado é necessário locar todo o contêiner. Aí é mais de um milhão de bolinhas de queijo” conta Gabriela Cioba, gerente de exportações da Forno de Minas. Isso dificulta a venda para empreendimentos menores.
Para driblar essa condição, Gabriela afirma que a empresa procura firmar acordo com importador que seja também distribuidor, aí ele consegue oferecer para diversos comerciantes em quantidades menores, ou vender para grandes redes que têm condição de escoar o produto.
NEGÓCIO CURIOSO
» Pão de queijo doce
Um importador chinês pediu que fosse feito o produto com açúcar no lugar do sal
» No cinema
Acordo com rede de cinema permitiu que a iguaria seja ofertada em salas de cinema dos Estados Unidos, em copos personalizados com a marca da empresa fornecedora
» No Foodtruck
Um carrinho em Boston (EUA) oferece aos consumidores opções diferentes de degustar o pão de queijo em formato de sanduíche, por exemplo
Sua majestade
Não existe uma única história sobre o pão de queijo, mas as referências dessa iguaria são sempre associadas ao território e à cultura de Minas Gerais. Os pãezinhos teriam surgido, segundo pesquisa do Portal do Queijo, na região de Ouro Preto, município da região Central do estado, nos tempos de um Brasil colonizado pelos portugueses, que corriam atrás dos veios de ouro e pedras de Minas.
Com a dificuldade do abastecimento de comida, as cozinheiras das fazendas usavam farinha branca ou de mandioca para produzir pães. O passo seguinte foi aperfeiçoar o costume de usar lascas de queijo que sobrava e endurecia à mesa. A esse ingrediente principal, elas passavam a juntar, como herança de portugueses, índios e negros, ovos, leite e polvilho.