A desistência do ex-prefeito de BH deixa a disputa pelo Governo de Minas polarizada entre os dois maiores partidos com candidatura: PT e PSDB. Marcio Lacerda aparecia em terceira colocação em pesquisas de intenção de voto. Sem ele, o embate direto ficará entre o governador Fernando Pimentel e o ex, Antonio Anastasia. Resta saber ainda que rumo as legendas que apoiavam Lacerda, entre elas o MDB, vão tomar nestas eleições.
Após longa queda de braço com o diretório nacional do PSB, que defendia a renúncia do empresário em prol da tentativa de reeleição do petista Fernando Pimentel, Lacerda enviou ontem uma carta à imprensa anunciando a saída do pleito de outubro e a desfiliação do PSB.
Agora, os sete partidos que compunham a coligação (PSB, MDB, PDT, PRB, PV, PROS e Podemos) buscam alternativas. Conforme legislação eleitoral, a chapa pode ser mudada.
Lideranças das legendas informaram ao Hoje em Dia que qualquer definição será tomada levando em conta a probabilidade de beneficiar as chapas proporcionais, ou seja, aquelas de deputados estaduais e federais.
Entre os aliados, surgiu a possibilidade de manter a coligação e indicar um nome para substituir Lacerda, o que contraria diretriz da cúpula nacional do PSB. Nesse cenário, o mais provável é que a cabeça de chapa fique a cargo do presidente da Assembleia Legislativa, Adalclever Lopes (MDB).
“Vou me reunir com representantes dos outros partidos. Podemos lançar um nome próprio, mas ainda precisamos analisar para ver quem será”, disse o presidente estadual do PDT, deputado federal Mário Heringer.
Segundo Daniel Nepomuceno, o PV tomará alguma definição pensando no que será melhor para a (chapa) proporcional. Conforme Nepomuceno, o partido avaliará o nome que será apresentado para encabeçar a coligação e tomará uma posição.
O PSB nacional insistirá em juntar-se ao PT de Pimentel. Mas a decisão dependerá do julgamento das ações propostas por Lacerda à Justiça eleitoral.
O MDB não se manifestou sobre o assunto. Ontem, Adalclever encontrou-se com representantes dos demais partidos da coligação.
Mágoa
Lacerda não definiu sobre o apoio no pleito. Também não informou se pretende se filiar a outro partido.
Na carta de renúncia, teceu críticas ao PT e ao PSB, que articularam a aliança nacional que culminou no imbróglio em Minas. No texto, afirma que o prazo alongado para que o Tribunal Regional Eleitoral e o Tribunal Superior Eleitoral apresentem decisões definitivas a respeito da sua candidatura foi determinante para a desistência.
Esse prazo alongado dificulta e muito a mobilização de apoiadores e, especialmente, tornará muito fragilizada a situação dos candidatos a deputado do PSB, que estão contra sua vontade presentes em duas coligações”, pontuou.
Lacerda ainda afirmou que foi vítima do que chama de “velha política” e de uma decisão antidemocrática e arbitrária de dois comandos partidários.
Partidos ‘nanicos’ agora disputam a posição de terceira via
Com a mudança no páreo de candidatos, a terceira via fica vaga em Minas. Como também já havia perdido a candidatura de Rodrigo Pacheco (DEM), forçado a tentar o Senado na chapa de Antonio Anastasia (PSDB), a alternativa à polarização PT-PSDB poderá ficar com candidatos nanicos.
Romeu Zema (Novo), por exemplo, se considera agora um dos nomes que dará ao eleitor a possibilidade de escolha. Para ele, o acordo nacional entre PT e PSB que culminou com a retirada da candidatura de Marcio Lacerda é uma representação das articulações pouco transparentes usadas pelos partidos que querem se perpetuar no poder.
“Mais uma vez, os mesmos de sempre se juntam em conchavos de gabinete e articulações nada transparentes para perpetuação no poder por interesses pessoais. Isso confirma que, nesta eleição, a única via para um governo novo, e uma gestão diferente, é a minha candidatura”.
Segundo Zema, os governos têm se transformado em cabides de emprego, espaço de barganha com objetivo de alianças nebulosas. “A forma como alianças são feitas define como será o governo. Por isto temos visto constantemente a fábrica de escândalos e corrupção em nosso Estado. Quem sofre é a população”.
Dirlene Marques, do PSOL, definiu a situação como “antidemocrática” e lamentou o enfraquecimento da terceira via nas eleições ao governo de Minas.
“É claro que não temos que tomar posição em relação a isso, mas a forma como os partidos fazem acordos para retirar candidaturas não é democrática. É importante que sejam aprovadas as decisões dos diretórios regionais e que aqueles que estão aptos a se candidatar, possam fazê-lo”, disse.
João Batista Mares Guia (Rede) reiterou solidariedade a Lacerda e afirmou que o apoio do ex-candidato à sua campanha seria bem-vindo.
“Considero enorme desrespeito a uma pessoa decente, que há mais de dois anos está em campanha, fazendo peregrinação e apresentando programas. Foi um golpe da cúpula nacional do PSB e uma orquestração com a cúpula nacional do PT. Eu quero ter um encontro com o Lacerda, como amigo, e deixá-lo inteiramente à vontade para termos uma conversa política sobre o andamento da disputa e o apoio à minha campanha eleitoral. Seria uma imensa alegria”, disse o candidato.