O Senado argentino aprovou por unanimidade nesta quarta-feira (22) autorizar a revista de três casas da ex-presidente Cristina Kirchner, como parte de uma investigação de propinas milionárias em troca de contratos de obras públicas.
Era preciso que o Senado aprovasse a ação, solicitada pelo juiz Claudio Bonadio, porque a ex-presidente (2007-2015), eleita senadora em 2017, está amparada pelo foro privilegiado.
O debate começou no início da tarde com a presença de Cristina Kirchner e da maioria dos senadores. Na lista de oradores se inscreveram 24 parlamentares, incluindo a ex-presidente. A sessão teve mais de seis horas de duração e uma possível perda do foro privilegiado não foi discutida.
Na semana passada, uma sessão no Senado para avaliar o pedido de Bonadio havia fracassado por falta de quórum. Desta vez, 66 senadores compareceram e votaram a favor. Não houve nenhum voto contrário ou abstenção.
Kirchner discursou durante 45 minutos e disse que não irá se arrepender de nada, “independente de Bonadios e ultrajes”.
“Não é verdade que em 2001 um senador tenha sofrido uma invasão pelo escândalo dos subornos, esta é a primeira vez que casas de um senador serão revistadas. Nem mesmo no maior escândalo, onde os dois principais partidos foram acusados de receber suborno para aprovar uma lei, a casa de qualquer senador foi revistada, a única coisa que foi feita foi uma inspeção ocular pelo juiz Liporace”, acrescentou.
A ex-presidente já havia anunciado que, se a ação fosse aprovada pelo Senado, aceitaria a revista de suas casas em Buenos Aires, Santa Cruz e El Calafate, as duas últimas no sul do país, embora tenha pedido que proíbam a presença de câmeras durante o procedimento. Ela também solicitou que estejam presentes seus advogados e um senador.
Segundo a France Presse, esses pedidos, especialmente o de impedir a divulgação de imagens, foram apoiados por vários congressistas com o argumento de resguardo da intimidade.
Manifestação
Na noite de terça-feira, milhares de pessoas se manifestaram em frente ao Congresso, horas antes do debate parlamentar, para exigir que autorizem as revistas e que retirem a imunidade parlamentar da senadora.
Pessoas se reuniram carregando faixas, malas ou bolsas – símbolos da má gestão que supostamente ocorreu durante a Presidência de Cristina – em uma mobilização convocada pelas redes sociais sob o slogan “Desafuero y allanamiento a CFK”.
‘Escândalo dos cadernos’
A ex-presidente, da corrente de centro esquerda peronista e que sucedeu seu marido Néstor Kirchner no cargo em 2007, é a pessoa de mais alto escalão envolvida no chamado “Escândalo dos cadernos”, que investiga supostos subornos de importantes empresários entre 2005 e 2015 para obter contratos de obras públicas.
A causa judicial começou há um mês baseada em anotações feitas por um ex-motorista do Ministério de Planejamento, Oscar Centeno, que supostamente fez percursos por Buenos Aires durante 10 anos levando e trazendo sacolas carregadas de milhões de dólares.
O apartamento de Kirchner em Buenos Aires, assim como a casa presidencial de Olivos e a Casa Rosada, sede do governo, aparecem nesses cadernos como pontos de entrega das sacolas.
O juiz busca pistas sobre onde poderia ter ficado o dinheiro, aparentemente sempre recebido em espécie.
As anotações do motorista logo se somaram às confissões de vários empresários detidos que decidiram ir à Justiça na condição de arrependido, assim como, recentemente, ex-funcionários do governo de Néstor (2003-2007) e Cristina Kirchner.
Além deste caso, Cristina Kirchner enfrenta outros cinco processos por suposto enriquecimento ilícito e por encobrimento de iranianos acusados pelo atentado à mutual judaica AMIA em 1994, que deixou 85 mortos e 300 feridos.
A ex-presidente se considera uma “perseguida política” e assegura que o pedido para revistarem suas casas é “um show” midiático.