As mudanças no maior sistema de avaliação do Brasil, o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), devem ser anunciadas em 2018, segundo o Ministro da Educação, Rossieli Soares. Apesar do anúncio, a implementação deve acontecer apenas a partir de 2020 e está condicionada à aprovação da Base Nacional Curricular Comum (BNCC) do ensino médio, que é tema de audiências públicas no país. Diante da importância do exame para o acesso ao ensino superior, o que os estudantes pensam a respeito das mudanças?
Estudante de curso pré-vestibular, Catarina Castro Figueiredo acredita que o formato atual atende melhor à necessidade de selecionar os participantes e, portanto, não realizaria modificações. “Não consigo pensar em nenhuma mudança que consiga selecionar os melhores candidatos sem ser extremamente excludente com pessoas que não tiveram o mesmo acesso à educação que eu”, sinaliza a estudante, que já participou de duas edições do exame.
[pro_ad_display_adzone id=”44899″ align=”left”]Em busca da aprovação em Medicina, Catarina quer ampliar os conhecimentos para a edição de 2018 e alcançar pontuação suficiente para aprovação no Sistema de Seleção Unificada (SiSU) ou no Programa Universidade para Todos (Prouni). “Pretendo cursar Medicina pois tenho interesse em realizar procedimentos cirúrgicos e seguir a área de pesquisa em saúde”, conta. Sobre o Enem, a estudante complementa que “deixar a prova conteudista [técnica] seria maravilhoso, mas as disparidades na qualificação dos alunos são absurdas quando comparamos o nível público com o privado. Como está eu acredito ser o menos pior”.
Em contraste com a estudante, Ícaro Sousa Lima, de 23 anos, enxerga as alterações como algo necessário. “A prova é extremamente cansativa porque os textos são longos e maçantes. O participante tem que voltar e ler inúmeras vezes para poder entender. Uma sugestão seria fazer como algumas universidades estaduais: usar um texto inteiro em uma página, dividindo os parágrafos, criar quatro ou cinco questões com base no texto” avalia o graduando em História. Outra observação diz respeito ao período estabelecido para responder as provas do dia. “O tempo é o nosso maior inimigo, mas acho que não haveria a necessidade de aumentar a duração se a prova fosse reformulada. Talvez só acrescentar um pouco mais à prova de Ciências Exatas já que as questões não são tão simples”, complementa.
Durante o ano de 2017, manteve um forte ritmo de estudo e foi aprovado no curso que escolheu como segunda opção. O objetivo agora é participar do Enem 2018 para conseguir a aprovação no curso de Direito. A rotina de Ícaro é dividida entre as responsabilidade da graduação e a preparação para o exame, já que deseja participar do SiSU. Ao chegar em casa, termina as atividades da faculdade e, às 18 horas, acompanha ao vivo videoaulas no Youtube sobre os temas abordados nas questões.
Um bom resultado Enem pode abrir portas para o ensino superior também por meio do Programa Universidade para Todos (Prouni) e do Fundo de Financiamento Estudantil (Fies). No modelo atual, são aplicadas uma redação e quatro provas: Ciências da Natureza, Ciências Humanas, Linguagens, Matemática em dois domingos consecutivos.
Em sua opinião, o conteúdo pode estar de acordo com o que é ensinado nas escolas particulares, mas os estudantes da rede pública de ensino ainda têm dificuldades para acompanhar. “O ensino das escolas públicas é muito fraco para o tipo de conhecimento que as provas exigem. É necessário aumentar a qualidade da educação básica nas escolas públicas para que os estudantes, independente da prova do Enem, possam adquirir conhecimentos mais avançados”, analisa o estudante.
Este ano, as avaliações serão realizadas nos dias 04 e 11 de novembro. De acordo com o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), aproximadamente 5,5 milhões de pessoas se inscreveram na edição de 2018: cerca de 3,52 milhões de participantes isentos e 1,99 milhões de pagantes. Entre os contemplados com a isenção, 39,7% declararam ter cursado todo o ensino médio em rede pública ou ter sido bolsista integral na rede privada, com renda per capita igual ou menor que um salário mínimo e meio (Lei 12.799/13); e 19,2% eram concluintes do ensino médio em escola da rede pública.
Enem e BNCC
A BNCC é um documento normativo que estabelece “o conjunto orgânico e progressivo de aprendizagens essenciais que todos os alunos devem desenvolver ao longo das etapas e modalidades da educação básica”. Os conteúdos que devem ser ensinados nas escolas são determinados pelo documento, que orienta as instituições em relação aos conhecimentos, às competências e habilidades essenciais a serem aperfeiçoadas em cada nível educacional.
A última versão da BNCC do ensino médio foi entregue pelo Ministério da Educação ao Conselho Nacional de Educação (CNE) em abril de 2018. Em maio, aconteceu, em Florianópolis (Santa Catarina), a primeira audiência pública sobre o tema, válida para a região Sul do Brasil. Desde então, a proposta foi discutida em São Paulo (São Paulo), Fortaleza (Ceará) e Belém (Pará). A quinta e última audiência pública está prevista para 29 de agosto, em Brasília (Distrito Federal).