O Confronto entre Santos e Independiente valendo vaga nas quartas de final da Libertadores está longe de acabar. No campo, o time argentino se beneficiou de uma decisão exdrúxula da Conmebol com a vitória por 3 a 0 nos tribunais, no jogo de ida em Buenos Aires, e garantiu a classificação ao empatar (0 a 0) no Pacaembu em partida encerrada a dez minutos do final por falta de segurança nesta terça-feira (28/7). Tradução perfeita da falta de gestão da Conmebol vivendo ainda na pré-história do futebol.
No final das contas o Santos deve ser ainda mais penalizado pelos cartolas da confederação sul-americana diante das cenas de vandalismo e violência protagonizadas por torcedores santistas, inconformados com a impotência do time e a punição imposta ao clube no caso Carlos Sanchez.
Ao final da partida, um pouco mais calmo nos vestiários, Cuca, que saiu em socorro de um torcedor invasor no campo, bateu forte na Conmebol e na própria diretoria do Santos. Veja o que ele disse:
“Se teve erro do Santos? Lógico que teve. O que menos precisa é falar mal de setores do clube. Pode até amanhã me mandarem embora. O Santos tem de melhorar muito profissionalmente, melhorar muito internamente. Isso que ocorreu (com Sánchez) é um erro muito grande. É o “bê-a-bá” de situações que não podem ocorrer. Isso resulta em tudo o que aconteceu hoje (confusão com a torcida). O torcedor já vem louco da vida. Eu quero poder ajudar o Santos com a experiência que tenho vivida em outros clubes e mostrar um caminho. Quero o bem do Santos, e precisamos melhorar muito”.
O JOGO
Neste ambiente de incertezas e desmandos, Santos vive um drama desnecessário no primeiro tempo. Atordoado com a bordoada dos doutores da Conmebol, que transformou um empate sem gols no jogo de ida em 3 a 0 a favor do Independiente, time inicia o jogo como se fosse o último de sua vida. Alucinado. Ao mesmo tempo refém de seus nervos esgarçados. Não havia tempo a perder diante do apocalipse.
Neste ritmo desmedido, fez e sofreu faltas acima da cota normal de infrações de um jogo de futebol. Um acinte. Não havia meio de a bola rolar numa sequência de dois minutos. Dois passes e, pimba, tinha jogador se contorcendo no gramado. Bom para o Independiente, confortavelmente instalado no campo com a vantagem conquistada nos tribunais da confederação sul-americana.
A missão de vencer por três gols, no mínimo, ou quatro para se classificar pesava como um fardo de lenha nas costas de cada santista. Do alto das arquibancadas um frisson de mais de 36 mil torcedores a pedir uma “remontada”, como dizem os espanhóis.
Acontece que a estratégia escolhida por Cuca não funcionava. Quatro atacantes isolados na frente, dois volantes de pouco trato e sem ninguém para pensar no meio transformaram o time em um punhado de abnegados e facilmente domados. Mesmo assim, Gabriel Barbosa perdeu gol feito aos 10 minutos.
Neste enredo o time argentino ainda teve dois pênaltis – um de Lucas Veríssimo em Meza não marcado e outro de Vanderlei em Sanchez, este sim anotado pelo árbitro no finalzinho do primeiro tempo. Vanderlei defendeu a cobrança de Meza e trouxe o Santos de volta à realidade: vencer o jogo e depois discutir nas cortes arbitrais.
No intervalo, Cuca repetiu Cabralzinho de 1995 quando não levou os jogadores para o vestiário nas semifinais do Brasileirão. Naquele jogo o Santos precisava vencer o Fluminense por três gols de diferença e acabou emplacando 5 a 2, resultado que garantiu vaga na final do campeonato.
Mais que trocar a solidão dos vestiários pelo pulso da torcida no campo, Cuca usou os 15 minutos protocolares para reorganizar o time. Trocou o inútil Bruno Henrique pelo meia Bryan Rodriguez em busca de mais cérebro e menos músculo. E jogou sua armada aos leões.
Panorama não mudou. Faltas picadas se avolumavam. Eram mais de 40 na altura dos 20 minutos. Bom demais ao time argentino.
Santos também não se ajudava. Bryan não aparecia. Menino Rodrygo estava assustado. Derlis e Gabriel Barbosa estavam mais preocupados com contestar o árbitro a ludibriar os zagueiros argentinos. E o Independiente se mantinha altivo e lutador. A massa santista aumentava seu inconformismo no Pacaembu.
E estourou por volta dos 35 minutos quando bombas começaram a cair perto do banco do time argentino. Torcedores resolveram partir para o confronto contra policiais militares. Pancadaria correu solta. O árbitro, por falta de segurança, encerrou a partida enquanto havia ainda muito tumulto e violência, a ponto de Cuca sair em defesa de um torcedor invasor. Por pouco não sobrou para o treinador do Santos.
Fim de jogo, revolta total no Pacaembu. Resultado de 0 a 0 classifica o Independiente às quartas de final da Libertadores por causa dos 3 a 0 a favor com o despacho dos doutores da Conmebol.
Este 0 a 0 em condições normais levaria a decisão aos pênaltis. Cabe agora aos cartolas da confederação sul-americana referendar a vaga ao clube argentino. E ao Santos levar a luta aos tribunais. Futebol fica para outra ocasião. Infelizmente.